‘Vamos reatar os fortes laços que a Universidade tinha com a sociedade’, diz Waichman, candidata à reitoria da Ufam

Andrea Waichman é um dos três candidatos à reitoria da Ufam. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – A comunidade acadêmica da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) vai decidir nos dias 10 e 11 de março a nova gestão que vai administrar a instituição. Entre os postulantes à reitoria da Universidade mais antiga do Brasil, está Andrea Waichman, Marco Antônio Mendonça e Sylvio Puga, que tenta a reeleição.

REVISTA CENARIUM realizou uma série de entrevistas baseada no mesmo sorteio que definiu a Sabatina Técnica. Obedecendo a este critério, a segunda entrevistada foi Andrea Waichman. No bate-papo, a professora doutora que atua na instituição há 25 anos destacou propostas para uma possível vitória no pleito acadêmico.

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Confira na íntegra a entrevista

REVISTA CENARIUM: Qual a decisão que motivou a candidatura à reitoria da Ufam? 

ANDREA WAICHMAN: Eu acredito fortemente no nosso dever de dispor todo nosso talento e capacidade de trabalho ao desenvolvimento da nossa instituição. Como a única professora titular a disputar a atual eleição, eu acumulei experiência acadêmico-administrativa que faz me sentir à altura de liderar a Universidade, neste momento de imensas dificuldades pela qual está passando. Aceitei a convocação de um grupo de colegas professores, técnicos-administrativos em educação e de alunos, por compartilharmos da mesma convicção nos princípios da Ética, da Democracia, da Transparência e da Construção Coletiva da nossa Ufam.

RC – Caso seja eleita, quais serão os principais eixos do plano de gestão? 

AW – A nossa gestão será pautada por dez eixos temáticos, a saber: Obediências aos princípios e compromissos norteadores da gestão; Estratégias estabelecidas para a gestão calcadas nos seus princípios norteadores; A Ufam inclusiva e participativa; A Ufam desburocratizada e comprometida com seu servidor; Fortalecimento da graduação: expansão, flexibilização, inovação Fortalecimento da pós-graduação, pesquisa e internacionalização; Fortalecimento da extensão universitária e a relação com a sociedade; Retomada do processo de interiorização da Ufam; Revigoramento da educação a distância; Aprimoramento e uso das tecnologias da informação e comunicação.

RC – Como será promovida a articulação do “tripé: ensino, pesquisa e extensão”?

AW – Pretendemos fazer essa articulação por meio do fortalecimento dos programas de iniciação científica e extensão na Universidade. Atualmente o percentual de alunos que participam desses programas é muito pequeno em relação ao número total. É necessário reacender a chama da pesquisa e das atividades extensionistas em nossos alunos. A Universidade tem se descuidado dessas ações, o que tem levado a um ensino desvinculado com a pesquisa e a extensão.

Andrea Waichman, que já está na instituição há 25 anos e possui  graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Nacional de Buenos Aires. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

RC – Na área da pesquisa e pós-graduação, como será administrada a crise de investimentos, para continuar produzindo conhecimento e contribuindo para a formação de uma sociedade melhor?

AW – Revitalizando o fundo de apoio à pesquisa e pós-graduação para modernizar e melhorar os conceitos. Com isso, reintroduziremos o apoio à pesquisa por meio de programas de fluxo contínuo como o Caxiri, Nhengatu, Tucandeira e Pró-Congresso, para pesquisa de qualidade e também para internacionalização.

Criando um programa de apoio aos grupos de pesquisa para manutenção e atualização de equipamentos e softwares essenciais para pesquisa. Explorando a nossa situação geográfica como oportunidade para colaborações internacionais, desenvolvendo projetos de pesquisa em colaboração com universidades estrangeiras, o que contribuirá para entrada de recursos para a pesquisa e a internacionalização dos nossos programas de pós-graduação.

Vamos reatar os fortes laços que a Universidade tinha com a sociedade amazonense, em particular com a nossa bancada federal. Com esse apoio vamos incrementar o nosso orçamento com recursos públicos. Por outro lado, buscaremos as parcerias com as empresas privadas para com elas compartilhar os conhecimentos gerados na universidade, para que, juntos, possamos disponibilizá-los à sociedade.

RC – Na sua opinião, quais são os maiores problemas que afetam a Ufam?

AW – No momento, o maior problema da nossa Universidade é o estado de apatia e desmobilização em que ela se encontra, afetando negativamente as nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão, e a autoestima de todos os seus servidores (docentes e técnicos-administrativos) e alunos. A recuperação do primeiro e segundo semestres letivos de 2020, por pura inércia da administração superior da Ufam, exigirá muito sacrifício de toda a comunidade universitária. 

A chapa 55 é formada pelas professoras Andrea Waichman e Margarida Carmo. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

RC – Como pretende trabalhar para resolver esses problemas?

AW – Infelizmente a Ufam perdeu dois semestres letivos, o primeiro e o segundo semestres de 2020. A administração superior da Ufam poderia ter seguido os exemplos de outras universidades federais que foram diligentes no sentido de que, ao mesmo tempo em que cuidaram para salvarem as vidas de seu corpo docente, discente e técnico-administrativo, cuidaram também de salvar os semestres letivos de seus alunos. Apenas para ilustrar, cito as seguintes universidades federais:  UFCE, UFG, UFMA, UGMG, UFPB, UFPI, UFRN, UFSCar, que já concluíram o primeiro semestre/2020 e estão concluindo o segundo semestre/2020. Essas universidades salvaram vidas e os semestres letivos de seus alunos.

Com base nesses bons exemplos dessas citadas universidades federais, entre outras, que ao mesmo tempo salvaram vidas e os semestres letivos de seus alunos, recuperaremos esse ano perdido de 2020.  O faremos com responsabilidade, sabendo que essa ação exigirá muito sacrifício dos docentes, técnicos administrativos e alunos. Para isso, usaremos as tecnologias de informação disponíveis para oferecer um ensino remoto de qualidade, sem comprometer a formação dos nossos alunos, motivo maior da existência da nossa Universidade. Para garantir a equidade entre todos os nossos alunos, disponibilizaremos de todos os meios tecnológicos àqueles socialmente mais vulneráveis, que precisam de uma atenção especial da Ufam.

RC – Quais suas propostas para comunidade estudantil?

AW – Atenderemos as necessidades da nossa comunidade estudantil por meio de ações ao longo das seguintes linhas: A infraestrutura digital da Ufam: O que antes era “apenas” uma prioridade absoluta, hoje, por conta da nossa experiência na pandemia, tornou-se uma questão de respeito democrático: sem acesso pleno à internet, sem a inclusão digital de todos, a Universidade dificilmente cumprirá seus objetivos. Os discentes (todos) passaram a precisar de acesso digital aos cursos. Isso significa uma expansão significativa da oferta, na capital e no interior, para dar sustentação a todos os cursos de graduação regulares e os de oferta única (Parfor).

Flexibilização Curricular/EaD: O sistema de comunicação e informação dos conhecimentos e saberes desenvolvidos e em desenvolvimento pela Ufam, abre múltiplas perspectivas, quase todas as quais tangenciando a graduação. Uma dessas perspectivas envolve o Ensino a Distância, modalidade de ensino que, por sua vez, também abre perspectivas: na administração (cursos de atualização e de treinamento), no ensino (da graduação e da pós-graduação), na pesquisa e na extensão. Mais um aspecto em que a pandemia forçou a nossa atenção.

A primeira exigência deste elemento é o acesso à informação e comunicação: a metodologia exige a intercomunicação digital, o que reforça a necessidade absoluta da expansão da oferta institucional.

A segunda exigência é assumir a metodologia remota como um elemento natural dos currículos dos cursos da Ufam. A Ufam está notoriamente atrasada neste processo e inadequadamente preparada para fazer frente às demandas centrais da graduação e às demandas que podemos rotular como complementares (disciplinas específicas com alto índice de reprovação, disciplinas de interesse de toda a comunidade universitária).

É claro que a pandemia impõe urgência neste aspecto. Em termos mais universais, assumir esta modalidade como elemento integrante do currículo abrirá caminho para inovação e flexibilização dos currículos da graduação.

Desenvolvimento da graduação: O apoio institucional aos cursos de graduação deve ser tanto acadêmico como físico em termos de instalações e equipamentos. Para que isso possa ser feita de forma racional, regular e estratégica, devemos aproveitar o conjunto de informações públicas disponíveis por meio do sistema de avaliação dos cursos de graduação do Inep – devemos avaliar as avaliações.

Essas avaliações deverão servir de base para o planejamento trienal de desenvolvimento dos cursos. O planejamento deverá ser permeado de determinados conceitos básicos – flexibilização (EaD, percursos alternativos), inclusão, integração teoria-prática, integração ensino-extensão, entre outros, e fazer referência tanto à mobilidade estudantil como à capacitação dos professores e técnicos.

RC –  É de conhecimento da comunidade acadêmica a carência de acessibilidade nas unidades universitárias. Como a senhora pretende aprimorar as condições para pessoas com deficiência?

AW – Desde 1978, com a aprovação do primeiro Plano Diretor da Ufam, e da consecução do memorial descritivo do campus universitário, a Ufam estava à frente do seu tempo quanto às questões da acessibilidade.  O Setor Norte do Campus, por exemplo, é constituído por prédios interligados por passarelas que foram projetadas para facilitar o acesso. Todos os prédios possuem vãos verticais reservados para a implantação de elevadores. Entretanto, o que se tem hoje não tem sido suficiente. Aproveitando os projetos pensados para esse fim a sua própria época, é preciso realizar investimentos na acessibilidade de forma contínua para permitir que todos tenham o direito de ir e vir nos nossos campis.

RC – A Ufam forma milhares de profissionais que contribuem para a sociedade. De que forma acredita que a Universidade pode colaborar ainda mais com o desenvolvimento em todas as áreas?

AW – É fato que as profissões têm mudado muito rapidamente. Para alguém que se formava em décadas atrás, os conhecimentos adquiridos em seu curso de graduação eram suficientes para toda uma vida de trabalho. Entretanto, nos tempos atuais novos conhecimentos e novas tecnologias surgem levando a grandes alterações no mundo do trabalho. Por isso, é necessário que a Ufam fique atenta a esse problema, oferecendo novas possibilidades de as pessoas se reinventarem e se manterem nos seus postos de trabalho, embora possivelmente com novas funções.

Para atender a essa grande demanda que já está posta, usaremos a bem-sucedida experiência que a Ufam possui nos campos da extensão universitária e da pós-graduação lato sensu, para dar oportunidade de qualificação profissional para os novos mercados, que estão surgindo dia a dia, provocando a perda de trabalho de muitos pelos rearranjos provocados pelas novas tecnologias.

RC –  O que a senhora apresenta de diferente em sua candidatura?

AW – São muitos os pontos diferentes e inovadores que apresentamos com a nossa candidatura. O primeiro, é que eu e a Profa. Margarida não somos candidatas de nós mesmas. No início de fevereiro deste ano, a nossa candidatura nasceu de uma convocação por um grupo de professores, técnicos administrativos e alunos, que não estavam satisfeitos com as duas candidaturas que já estavam postas desde o ano passado.

Antes de se estabelecer essa chapa à Reitoria, esse grupo promulgou os princípios que essa chapa deveria atender: princípios da Ética, da Democracia, da Transparência e da Construção Coletiva, que devem sempre nortear todos os nossos esforços de reconstrução da Ufam que se impõe, com a nova gestão comprometida com os processos coletivos de questionamento, de discussão, de decisão e implementação de propostas para a melhor gestão da instituição.

Um outro princípio pré-estabelecido é o da equidade entre as unidades acedêmicas do interior com as da capital. Por isso, a nossa chapa tem como Vice-Reitora a Profa. Margarida Carmo, do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia de Itacoatiara, no interior do Estado. Ao mesmo tempo, estabelecemos o compromisso de criarmos a Pró-Reitoria de Interiorização, para dar maior participação às unidades do interior na administração da Universidade, conforme consta em nossa proposta.

Isso nos capacitará a desenvolver metas comuns entre os campi dos diferentes municípios, que possuem suas características próprias; ouviremos e atenderemos as necessidades dos alunos de seus campi, visando a sua permanência e inserção na comunidade acadêmica; garantiremos a consistência dos currículos em todos os campi, bem como a qualidade do ensino; asseguraremos a participação de docentes e discentes em atividades acadêmicas em outros campi; e ofereceremos condições adequadas para o exercício das atividades meio, como tecnologia da informação, adequação dos serviços de biblioteca e implementação de políticas de pessoal. Além disso, daremos status de Unidades Gestoras àquelas unidades acadêmicas, para que cada campi tenha maior autonomia de gestão.

Portanto, temos experiência bem-sucedida e reconhecida na área acadêmica, na área de gestão acadêmica e na área de gestão em ciência, tecnologia e inovação, que são os pilares da Universidade de qualidade.

RC – Como a senhora pretende seguir com as aulas daqui para frente, em virtude da pandemia da Covid-19?

AW – Até o momento, a gestão da Universidade na pandemia foi muito malconduzida pela atual administração, que resultou no atraso de dois semestres letivos dos nossos alunos, cuja recuperação levará a grandes sacrifícios dos nossos docentes e TAs e suas famílias, bem como dos nossos alunos.

Para conduzir a instituição nessa pandemia, pretendemos usar os bons exemplos de universidades federais que preservaram vidas ao mesmo tempo em que preservaram o semestre letivo dos seus alunos, como ocorreu com a UFCE, UFG, UFMA, UGMG, UFPB, UFPI, UFRN, UFSCar, entre outras. Nessas universidades o segundo semestre de 2020 está sendo concluído e logo terá início o primeiro semestre de 2021. Para isso, ofereceremos aulas remotas, com todas as condições técnicas necessárias para um ensino de qualidade, dando condições objetivas para que haja equidade entre todos os nossos alunos no processo ensino-aprendizagem.

RC – Por que a senhora merece o voto da comunidade acadêmica?

AW – Pelo o que representa para a Ufam a minha trajetória como docente, pesquisadora e gestora, e uma vida comprometida com o desenvolvimento da nossa instituição.

Sabatina Técnica

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