Veja quais as dez cidades com população mais parda do Brasil, segundo o Censo 2022
26 de dezembro de 2023

Da Revista Cenarium Amazônia*
SÃO PAULO (SP) – A população parda é predominante em 3.245 cidades brasileiras, o equivalente a 58,3% do total, e em um desses municípios representa 92,7% dos moradores. Trata-se de Boa Vista do Ramos, no Amazonas, a cidade mais parda do País, segundo dados do Censo 2022 divulgados na sexta-feira, 22, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Localizada na margem direita do Rio Amazonas, na microrregião de Parintins, a cidade possui 23.785 pessoas e uma área de 2.589,4 quilômetros quadrados (km²), o equivalente a 9,19 hab/km². Considerando somente a área urbanizada, são 3,78km², o que a coloca como a 35ª no Amazonas.
Em janeiro deste ano, o município comemorou o aniversário de 40 anos de fundação, mas sua história remonta ao século 19, quando a região foi palco de sangrentos conflitos da Cabanagem.
“A revolução social dos cabanos, que explodiu em Belém do Pará em 1835, deixou mais de 30 mil mortos e uma população local que só voltou a crescer, significativamente, em 1860. Este movimento matou mestiços, índios e africanos pobres ou escravos, mas também dizimou boa parte da elite da Amazônia. O principal alvo dos cabanos eram os brancos, especialmente, os portugueses mais abastados”, escreve a professora Magda Ricci, da Universidade Federal do Pará (UFPA), em artigo sobre a identidade dos revolucionários.

As 10 cidades com maior percentual de pardos
Em %
| Município | Parda |
|---|---|
| Boa Vista do Ramos (AM) | 92,7 |
| São João da Ponta (PA) | 87,4 |
| Tracuateua (PA) | 87,4 |
| Cachoeira Grande (MA) | 86,2 |
| Urucará (AM) | 86,2 |
| Nhamundá (AM) | 86,2 |
| Primeira Cruz (MA) | 85,60 |
| Augusto Corrêa (PA) | 85,5 |
| Belágua (MA) | 85,2 |
| Caapiranga (AM) | 85 |
O movimento eclodiu devido à miséria na região, um problema que ainda deixa marcas. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Boa Vista do Ramos subiu nas últimas décadas, passando de 0,287 em 1991 para 0,372 em 2000, e chegou a 0,565 em 2010, ano em que Manaus registrou 0,737.
Em 2008, 51,3% da população de Boa Vista do Ramos vivia abaixo da linha da pobreza e, em 2020, o município contabilizava 23,4 óbitos de crianças menores de um ano por mil nascidos vivos, quase o dobro da capital do Amazonas (12,8).
“Há um povo das florestas que vive da extração de produtos da mata e dos rios e em guerra por sua conservação e sustentação. Há um povo indígena multifacetado, mas uníssono na guerra com os brancos e a usurpação que estes continuam fazendo de suas terras e riquezas. Existe ainda um povo afrobrasileiro que, cotidianamente, reivindica a propriedade de seu território, obtido pela luta quilombola e escrava”, escreve Ricci.
“Todos estes povos se deparam, constantemente, com problemas como a devastação ecológica, questão fundiária, miséria e, sobretudo, a falta de acesso à plena cidadania. Sua luta presente também rememora a dos tempos cabanos. Trata-se de povos amazônicos e de uma luta secular que merece ser conhecida e amparada.”

Pará é o Estado mais pardo
O Pará é o Estado com maior concentração de população parda, 69,9%. Em seguida, vêm Amazonas, com 68,8%, e Maranhão, com 66,4%. Já os Estados com os menores pesos relativos da população parda são Rio Grande do Sul, com 14,7%, e Santa Catarina, com 19,2%.
Quando consideradas as regiões, o Norte tem 96% (432) dos municípios com predominância de pessoas pardas. O Nordeste também possui percentual elevado, com predominância de pardos em 95,9% (1.720) das cidades, e em terceiro lugar vem o Centro-Oeste, com 91,2% dos municípios (426).
Em números absolutos, as regiões Nordeste e Sudeste concentram juntas 71,1% da população parda do País, com 35,4% e 35,7%, respectivamente. E as cidades com maior contingente desse grupo étnico-racial são São Paulo (3.820.326), Rio de Janeiro (2.403.895) e Fortaleza (1.456.901).