‘Vemos o povo Yanomami se recuperando’, diz liderança de Roraima


Por: Ian Vitor Freitas

22 de janeiro de 2025
Lideranças Yanomami e Ye´kuana em Fórum de 2023 (Evilene Paixão/Hutukara)
Lideranças Yanomami e Ye´kuana em Fórum de 2023 (Evilene Paixão/Hutukara)

BOA VISTA (RR) – Na última segunda-feira, 20, completou dois anos do decreto de emergência em saúde pública na Terra Indígena Yanomami (TIY) do Governo Federal. Para o presidente da Associação Yanomami URIHI e liderança indígena, Junior Hekurari Yanomami, as ações estão devolvendo o bem-estar às comunidades indígenas que vivem na região.

Desde o início das atividades, as ações ocorrem visando retomar o modo de vida e esperança na história dos povos indígenas, antes do garimpo ilegal se expandir na região. Ao todo, são 33 órgãos envolvidos, inclusive a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Durante o V Fórum de Lideranças na Terra Indígena Yanomami, ocorrido em setembro de 2024, Junior Hekurari, destacou como a vida dos povos indígenas se recuperou da crise iniciada em 2023.

“Em 2023, durante o início da operação do Governo Federal, encontraram o povo Yanomami abandonado, e muitas pessoas morreram de malária, pneumonia, diarreia, verminose e estavam totalmente sem medicamentos quando foi declarada a situação de emergência do povo Yanomami. Hoje, vemos o povo Yanomami se recuperando, as crianças brincando nas comunidades. O governo está mostrando o trabalho e devolvendo o bem-estar às comunidades”, destacou.

A TI Yanomami abrange 9,6 milhões de hectares entre os Estados do Amazonas e Roraima e abriga mais de 27,1 mil indígenas, segundo o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em entrevista à CENARIUM, em janeiro deste ano, Junior Hekurari reforçou que mesmo com as melhorias na região, os trabalhos realizados pelo Governo Federal não podem cessar até a retirada do último garimpeiro.

“É importante que o trabalho do governo federal continue no território, mantendo essas operações até o último garimpeiro ser retirado, para não retornar como foi o ano de 2022. Estamos com nossas esperanças renovadas, as árvores e os frutos estão crescendo novamente, mesmo que os peixes estejam contaminados, não temos outras formas de alimento, então voltamos, também, a praticar a pesca. A Sesai também precisa manter as atividades, porque ainda estamos sofrendo bastante com a malária”, pontuou a liderança.

O presidente da Associação Yanomami URIHI e liderança indígena, Junior Hekurari Yanomami (Reprodução/Redes Sociais)
Alimentação na TIY

Com a crise decretada em 2023, um dos principais objetivos do Governo Federal foi atuar por meio da Funai para garantir ações de combate à fome da região. Dentre as medidas estava a entrega de cestas básicas, seguindo recomendações de nutricionistas para manter alimentos que faziam parte do consumo dos indígenas.

Com o alto índice de desnutrição, a Funai intensificou as entregas no ano de 2024, assim como o resgate das roças para plantio a fim de que povos indígenas não vivam na dependência de cestas de alimentos.

De janeiro de 2023 a dezembro de 2024, o Governo Federal entregou mais de 117 mil cestas de alimentos na TIY. As entregas das cestas e a promoção do etnodesenvolvimento por meio da Funai aumentaram a segurança alimentar aos povos que vivem no território em situação de vulnerabilidade.

Para a produção de alimentos nas roças, a Funai disponibilizou, por exemplo, kits de ferramentas, sementes, kits de produção de farinha e materiais de caça, com orientações para o uso dos itens.

Para o combate ao garimpo ilegal na região, o Governo Federal instalou em março de 2024, na capital Boa Vista, a Casa de Governo. A intenção é garantir a presença permanente do Governo Federal na região e dar sequência aos trabalhos iniciados em 2023. No total, a Casa de Governo já realizou mais de 3.536 operações de combate ao garimpo.

Em informações divulgadas pelo Governo Federal, as equipes realizaram 19.365 abordagens, resultando em 2.516 autuações, 229 notificações emitidas e 159 prisões, atingindo diretamente as redes criminosas.

“As multas aplicadas somaram R$ 11,4 milhões, enfraquecendo financeiramente as operações ilegais. As ações também causaram um prejuízo acumulado de R$ 267 milhões ao garimpo ilegal, enfraquecendo significativamente a logística das atividades”, conforme o Governo Federal.

Diálogo Permanente e proteção do território

Para progredir nas ações na TIY, o Governo Federal mantém o diálogo constante com os povos Yanomami e Ye’kwana. Com base no Protocolo de Consulta criado pelos próprios indígenas, as conversas se tornam fundamentais para a elaboração e implementação de projetos efetivos voltados ao enfrentamento à crise.

De acordo com Ênio Mayanawa, liderança Yanomami, a relação dos órgãos com as lideranças é importante para a consulta e debates para o desenvolvimento de políticas públicas no território.

“Quando as associações [indígenas] trabalham com as instituições, integrando esse trabalho, o projeto dá certo. Quando não somos consultados, surgem problemas, mas é importante ter harmonia, trabalhar juntos e fazer esses projetos acontecerem para que as políticas públicas ajudem as comunidades. E é isso que o povo da Terra Yanomami precisa”, disse em reunião com órgãos e instituições públicas, em agosto de 2024.

Com foco na proteção do território, as equipes da Funai realizam também o monitoramento e fiscalização. O trabalho é realizado por meio da Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami Ye’kwana (CFPE-YY), unidade descentralizada da Funai, com expedições, sobrevoos e presença terrestre e aérea na TIY. As atividades ocorrem em diálogo com os povos indígenas para garantir que suas singularidades sejam respeitadas.

O trabalho visa também à proteção dos indígenas em isolamento que vivem na área. As equipes da Funai fazem o monitoramento à distância, seguindo a política de não contato adotada pelo Estado brasileiro.

Leia mais: Ministra Nísia Trindade reforça compromisso com saúde indígena em Roraima
Editado por John Britto

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