Venezuela acusa de ‘terrorismo’ líderes de ONG que denunciou ação de grupos armados na fronteira com a Colômbia

Johnny Romero, outro voluntário da organização, foi posto em liberdade pouco depois de receber a imputação (LUISA GONZALEZ / REUTERS)

Com informações do jornal O Globo

CARACAS — Um tribunal da Venezuela ordenou a prisão preventiva dos irmãos Javier e Rafael Tarazona e de Juan de Dios García, membros da ONG Fundaredes. Os ativistas da sociedade civil devem ser alvos de processos judiciais por acusações de terrorismo, traição à pátria e instigação ao ódio. Johnny Romero, outro voluntário da organização, foi posto em liberdade pouco depois de receber a imputação.

Nos últimos dois anos, a organização Fundaredes se especializou em denunciar a situação política e social na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Também fez denúncias específicas em torno das operações políticas de grupos armados colombianos em povoados fronteiriços, como escolas, centros sociais e emissoras de rádio financiadas por dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), com a anuência dos efetivos e chefes militares venezuelanos, particularmente no Estado andino de Táchira.

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A Fundaredes fez um trabalho de controladoria e informação durante a operação militar que o Exército venezuelano realizou no município de Páez, no Estado de Apure, também na fronteira colombiana, contra facções dissidentes das Farc.

Muitos políticos e ativistas opositores denunciaram que as operações políticas e de recrutamento dos grupos armados colombianos vão além das zonas fronteiriças, particularmente nas zonas mineradoras do Sul do País, onde abundam relatos sobre a presença de quadros do Exército de Libertação Nacional (ELN) em atividades extrativistas, o que também foi tacitamente aceito pelo governo de Nicolás Maduro com seu silêncio sobre o tema.

O governo não se pronunciou sobre a medida contra os membros da Fundaredes.

Durante o episódio da investida do Exército venezuelano contra os grupos armados em Apure, na qual houve um número indeterminado de baixas e vários militares venezuelanos foram sequestrados temporariamente pelos grupos irregulares, a Fundaredes questionou a opacidade informativa das autoridades e criticou o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, pelo descaso e a ausência do Estado venezuelano na proteção da soberania nacional, pondo em dúvida os relatórios oficiais que registravam uma bem-sucedida missão militar na zona.

Na sexta-feira passada, um mês e meio depois do episódio de Apure, Javier e Rafael Tarazona, junto com García, se apresentaram ao escritório da Procuradoria-Geral da República na cidade de Coro, 600 quilômetros a oeste de Caracas, para denunciar que vinham sendo alvo de monitoramentos, perseguições e ameaças por parte de agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), a polícia política do chavismo.

Ao se apresentarem, foram detidos e formalmente denunciados, e seu paradeiro é desconhecido — a versão oficial é de que permanecem na penitenciária de La Planta, em Caracas, hoje destinada apenas a presos estrangeiros. Segundo fontes consultadas pelo jornal El País, Tarazona costumava ir com frequência ao Ministério Público para apresentar denúncias e acompanhar as queixas apresentadas pela Fundaredes às autoridades.

Marino Alvarado, diretor da ONG de direitos humanos Provea, também ameaçada no passado pelo regime de Maduro, pediu à alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que interceda por Javier Tarazona e seus colegas.

“Três novos detentos políticos na Venezuela: os integrantes da Fundaredes. Vítimas de um generalizado e sistemático ataque contra a população e da perseguição seletiva às organizações de direitos humanos”, declarou a Provea em nota.

Após as denúncias, Bachelet chamou a detenção de “preocupante”, exortando Caracas a permitir que os detidos tenham “acesso urgente a advogados”. Ela também pediu que o governo revise o atual marco legal, em concreto a “a fiscalização desprorporcional da sociedade civil”.

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