Verdadeiros responsáveis por milhares de mortes evitáveis na pandemia são ignorados pela Justiça


26 de julho de 2022
Verdadeiros responsáveis por milhares de mortes evitáveis na pandemia são ignorados pela Justiça
Augusto Aras afirma que norma invade competência legislativa e material da União para dispor sobre a matéria (Reprodução/Agência Brasil)
Com informações do Estadão

BRASÍLIA – Um dia depois da convenção do PL, a PGR foi escalada para dar uma boa notícia à campanha de Bolsonaro.

A manifestação dirigida ao STF, da vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo, pedindo o engavetamento das investigações da “CPI da Covid”, era previsível, mas foi também calculada.

Desde a leitura do relatório final no Senado, em outubro do ano passado, havia o receio de que as sugestões da CPI, de responsabilização civil e criminal do presidente, não seriam acatadas.

De lá para cá, enquanto mais de 70 mil novas mortes por Covid-19 ocorreram, no Brasil, deu-se apenas a lenta apuração em tribunais de contas, polícia e Ministério Público dos Estados, sobre fatos e nomes sem foro privilegiado.

A devastação e a dor causadas pela Covid-19, tudo indica, serão diminuídas, ocultadas, ou mesmo apagadas no debate eleitoral que começa a tomar corpo.

Nesta segunda-feira, em entrevista a uma emissora de rádio, o coordenador de Comunicação da pré-campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que irá priorizar mensagens voltadas às mulheres, para tentar diminuir a implacável aversão de eleitoras ao presidente.

Na abordagem da pandemia, possivelmente, Wajngarten deve reproduzir a linha que adotou quando era o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República.

No auge das infecções, com vacinação atrasada e mais de mil mortes por dia, foi ele quem comandou campanhas como “solicite um atendimento precoce”, para promover o “kit covid” e “o Brasil não pode parar”, para contrapor prefeitos e governadores que adotavam medidas de isolamento.

O principal marqueteiro da campanha de Lula, Sidônio Palmeira, em reunião recentemente vazada, sobre prioridades de comunicação, deu a entender que a pandemia não será um dos temas principais: “seguiremos com o maniqueísmo do bem, que demarca e diferencia com clareza as duas opções que o eleitor tem nessa eleição. O bem vai vencer o mal (inflação, desemprego, pobreza, fome, etc). Precisamos ser simples e didáticos”.

A tragédia da pandemia, assim, deve ficar na superfície dos engajamentos nas redes sociais, onde voltam a circular imagens de covas abertas, em Manaus, e vídeos em que Bolsonaro imita pessoa com falta de ar, exibe caixa de cloroquina a ema, no Palácio da Alvorada, fala mal das vacinas e chama a Covid-19 de “gripezinha”.

Haverá pouco espaço para debater, por exemplo, a necessidade de o Brasil ter um sistema de saúde mais preparado, para que falhas fatais não sejam repetidas nas próximas emergências sanitárias.

A quase 60 dias da eleição, a Justiça ignora os verdadeiros responsáveis por milhares de mortes evitáveis e os eleitores podem ter que assinar um cheque em branco, sem saber quais são as reais intenções dos candidatos para a saúde.

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