Com informações do Estadão
BRASÍLIA – Um dia depois da convenção do PL, a PGR foi escalada para dar uma boa notícia à campanha de Bolsonaro.
A manifestação dirigida ao STF, da vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo, pedindo o engavetamento das investigações da “CPI da Covid”, era previsível, mas foi também calculada.
Desde a leitura do relatório final no Senado, em outubro do ano passado, havia o receio de que as sugestões da CPI, de responsabilização civil e criminal do presidente, não seriam acatadas.
De lá para cá, enquanto mais de 70 mil novas mortes por Covid-19 ocorreram, no Brasil, deu-se apenas a lenta apuração em tribunais de contas, polícia e Ministério Público dos Estados, sobre fatos e nomes sem foro privilegiado.
A devastação e a dor causadas pela Covid-19, tudo indica, serão diminuídas, ocultadas, ou mesmo apagadas no debate eleitoral que começa a tomar corpo.
Nesta segunda-feira, em entrevista a uma emissora de rádio, o coordenador de Comunicação da pré-campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que irá priorizar mensagens voltadas às mulheres, para tentar diminuir a implacável aversão de eleitoras ao presidente.
Na abordagem da pandemia, possivelmente, Wajngarten deve reproduzir a linha que adotou quando era o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República.
No auge das infecções, com vacinação atrasada e mais de mil mortes por dia, foi ele quem comandou campanhas como “solicite um atendimento precoce”, para promover o “kit covid” e “o Brasil não pode parar”, para contrapor prefeitos e governadores que adotavam medidas de isolamento.
O principal marqueteiro da campanha de Lula, Sidônio Palmeira, em reunião recentemente vazada, sobre prioridades de comunicação, deu a entender que a pandemia não será um dos temas principais: “seguiremos com o maniqueísmo do bem, que demarca e diferencia com clareza as duas opções que o eleitor tem nessa eleição. O bem vai vencer o mal (inflação, desemprego, pobreza, fome, etc). Precisamos ser simples e didáticos”.
A tragédia da pandemia, assim, deve ficar na superfície dos engajamentos nas redes sociais, onde voltam a circular imagens de covas abertas, em Manaus, e vídeos em que Bolsonaro imita pessoa com falta de ar, exibe caixa de cloroquina a ema, no Palácio da Alvorada, fala mal das vacinas e chama a Covid-19 de “gripezinha”.
Haverá pouco espaço para debater, por exemplo, a necessidade de o Brasil ter um sistema de saúde mais preparado, para que falhas fatais não sejam repetidas nas próximas emergências sanitárias.
A quase 60 dias da eleição, a Justiça ignora os verdadeiros responsáveis por milhares de mortes evitáveis e os eleitores podem ter que assinar um cheque em branco, sem saber quais são as reais intenções dos candidatos para a saúde.