Vereador de Joinville que chamou Pará de ‘lixo’ coleciona polêmicas e condenação
Por: Fabyo Cruz
29 de agosto de 2025
BELÉM (PA) – O vereador Mateus Batista (União Brasil), mais jovem parlamentar da história de Joinville (SC), chamou o Estado do Pará de “lixo” durante um debate sobre migração na Câmara Municipal, na última segunda-feira, 25. A declaração gerou ampla repercussão, foi classificada como preconceituosa e se somou a uma série de outras polêmicas acumuladas em sua curta, mas ruidosa trajetória política. O episódio se soma ainda a uma condenação judicial por difamação.
Durante a discussão, Batista argumentou que a chegada de migrantes de outras regiões estaria sobrecarregando os serviços públicos de Joinville, como saúde e educação, e usou o Pará como exemplo negativo. “O estado do Pará é um lixo mesmo. Belém tem 57% da sua população favelizada. E que sim, esse fluxo migratório está sendo pressionado novamente por causa de estados mal geridos do Norte e do Nordeste, de estados que são completamente destruídos por políticos, geralmente ligados à esquerda brasileira”, disse o vereador, reforçando um discurso que associa problemas sociais ao perfil político de determinadas regiões do País.
As declarações de Mateus Batista sobre migração não são pontuais. O vereador já havia sugerido a criação de um “controle migratório” dentro de Santa Catarina, alegando que a chegada de pessoas do Norte e Nordeste poderia “transformar o estado em um grande favelão”. A fala se apoia em estigmas, mas carece de respaldo nos dados oficiais. O Censo 2022 do IBGE mostra que 29,9% da população de Joinville nasceu fora do Estado, mas a maior parte vem de regiões vizinhas, como Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. O Pará aparece com apenas 2,0% do total, cerca de 12,1 mil pessoas, número que desmonta a ideia de pressão desproporcional sobre os serviços públicos.
A fala rapidamente foi alvo de críticas tanto dentro quanto fora da Câmara de Joinville. A vereadora Vanessa da Rosa (PT) reagiu de imediato, classificando as declarações como “criminosas” e “vergonhosas para o parlamento”, destacando que a cidade tem uma tradição histórica de receber migrantes e que sua identidade foi moldada pela diversidade cultural. Já em Belém, o vereador Pablo Farah (MDB) publicou um vídeo rebatendo Batista e o acusando de xenofobia e racismo.
Também em Belém, a vereadora Vivi Reis (Psol) comentou o caso em entrevista à CENARIUM. Para ela: “é lamentável esse tipo de discurso xenofóbico e racista e que tem como consequência o incentivo a uma guerra injustificada de brasileiros contra brasileiros, colocando em risco a vida do povo paraense que vive lá, incentivando também o ódio e o preconceito aos paraenses que se mudam para outros estados e que contribuem de forma qualificada para a economia local. Pior ainda quando o discurso parte de um parlamentar que ignora o fato de sermos uma federação construída com diferentes saberes e culturas. O Pará tem uma riqueza de conhecimentos e cultura que precisam ser valorizados e reconhecidos pelo Brasil inteiro”.
Trajetória política
A carreira política de Mateus Batista começou cedo e esteve desde o início ligada ao Movimento Brasil Livre (MBL), grupo conhecido por pautas de viés liberal e por confrontos abertos contra partidos e lideranças de esquerda. Aos 15 anos, ele assumiu a coordenação estadual do movimento e participou da chamada Academia MBL, um programa de formação de novos quadros políticos. Sua primeira tentativa de disputar uma cadeira no Legislativo municipal aconteceu em 2020, mas o resultado foi negativo. Somente em 2024, com 5.698 votos, ele conseguiu conquistar uma vaga, tornando-se o mais jovem vereador da história de Joinville.
Desde a posse, sua atuação tem sido marcada por projetos e posicionamentos de forte teor ideológico, embates diretos com adversários e declarações que frequentemente repercutem na esfera pública e nas redes sociais. Esse estilo, embora polêmico, consolidou sua projeção como um dos representantes do MBL em Santa Catarina. Batista mantém proximidade com lideranças nacionais do movimento, como o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), e já recebeu apoio público de setores empresariais locais, incluindo entidades como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Uma parte do eleitorado continua a respaldar sua postura, sobretudo entre aqueles que compartilham das críticas ao impacto da migração nos serviços públicos e no mercado de trabalho.
Condenação judicial
Em julho de 2025, Mateus Batista foi condenado a quatro meses de detenção pelo crime de difamação contra o ex-vereador Cláudio Aragão (MDB). A condenação teve como base um vídeo publicado em 2023, em que Batista chamava Aragão de “arregão” e “corrupto”. Conforme a decisão judicial, as ofensas foram gravadas durante o período eleitoral.

Na decisão, a Justiça destacou que as expressões utilizadas ultrapassaram os limites da crítica política e tinham a intenção clara de desqualificar o ex-parlamentar perante a opinião pública, influenciando negativamente o eleitorado.
“A proximidade das eleições reforça o caráter estratégico das ofensas, que visavam não apenas atingir a honra do querelante [Aragão], mas também influenciar negativamente a percepção do eleitorado, em evidente tentativa de desqualificação política”, disse o juiz na decisão.
Embora tenha sido absolvido das acusações de calúnia e injúria, o vereador foi considerado responsável pela difamação e terá de cumprir a pena, que pode ser convertida em medidas alternativas. Ele já anunciou que irá recorrer da decisão.