Vereador do PL no Pará é alvo de críticas por falas sobre indígenas


Por: Fabyo Cruz

04 de setembro de 2025
Vereador do PL no Pará é alvo de críticas por falas sobre indígenas
Malaquias José Mottin (PL) é vereador em Santarém (Foto: Maycon Nunes/Ag. Pará Câmara Municipal de Santarém)

BELÉM (PA) – As falas do vereador gaúcho Malaquias José Mottin (PL), durante sessão da Câmara Municipal de Santarém, no Pará, no último dia 2 de setembro, provocaram reação imediata de lideranças indígenas. Ao questionar a autodeclaração de identidades étnicas, o parlamentar falou em “corrupção na questão de etnias” e “um grande volume de autodeclarados étnicos”, declarações classificadas como preconceituosas pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita), que representa 14 povos do Baixo Tapajós.

Veja o vídeo:

No plenário, Malaquias citou um estudo do pesquisador Edward Luz para defender a criação de uma comissão especial de estudos parlamentares com objetivo de tratar sobre demarcações e áreas de preservação. Em um momento, afirmou que, se a autodeclaração de indígenas permanecer, em alguns anos, o interior de Santarém será todo indígena.

Do jeito que está nesse documento, daqui cinco anos, Santarém só vai ficar o município, só vai ficar a cidade”, disse, pedindo também “proteção ao pequeno e grande produtor rural”.

As afirmações foram contestadas pelo vereador Biga Kalahare (PT), que cobrou base documental. “Vereador Malaquias, eu acho que o senhor precisa trazer um documento que tenha mais seriedade”, disse.

Para o petista, o material apresentado “está parecendo que o texto todo está Ctrl-C e Ctrl-V” e “esta casa não é uma casa de suposições”. Ele reforçou: “A gente não pode impor se a pessoa é ou não indígena, se a pessoa é ou não quilombola. Isso não cabe a nós”.

Repercussão

Em nota divulgada em 3 de setembro, o Cita declarou repudiar “veementemente as falas preconceituosas” proferidas na sessão. O conselho destacou que expressões como “volume de autodeclarados étnicos”, “corrupção na questão de etnias”, “disfarçados de indígenas” e “massa de manobra”, atacam diretamente a existência, lutas e identidades dos indígenas.

O texto reafirma que a luta pela demarcação “é constitucional e ancestral”, e conclui: “Seguiremos firmes em defesa da vida, da memória e da dignidade dos povos originários do Baixo Tapajós”.

Antropólogo dos ruralistas

O pesquisador mencionado por Malaquias é Edward Luz, conhecido nacionalmente como o “antropólogo dos ruralistas”. Ele foi desligado da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) em 2013, por não cumprir critérios éticos da entidade.

Defensor de posições alinhadas a grupos ruralistas, Luz sustenta a tese de que haveria um processo de “catequese etnogênica” no Brasil, no qual populações se autodeclarariam indígenas para obter demarcações de terras.

Edward já esteve envolvido em diferentes controvérsias. Em 2020, foi detido por agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Pará, acusado de obstruir uma fiscalização em terra indígena.

Por conta disso, foi condenado a 4 anos e 8 meses de prisão, em regime semiaberto. Também participou de comissões parlamentares de inquérito (CPIs), como a “CPI das ONGs“, defendendo a quebra de sigilos de organizações ligadas à pauta indígena.

Edward Luz foi detido por um agente do Ibama (Reprodução/Edward Luz)
Polêmicas de Malaquias

Nascido em Paim Filho (RS), em 9 de abril de 1961, Malaquias Mottin vive em Santarém desde 2004. Empresário, administra as empresas Siga Bem e Recicla Bem. Ele é vereador pelo Partido Liberal (PL) e chegou a concorrer ao cargo de deputado federal pelo Pará, em 2022. Na Câmara, já se posicionou em temas como infraestrutura urbana, regularização fundiária e coleta de resíduos. Porém, sua atuação é marcada também por controvérsias.

Entre os episódios mais notórios, está a declaração em plenário de que teria transportado dinheiro de madeireiros para pagar propina a servidores do Ibama, o que levou a Associação dos Servidores do órgão a emitir moção de repúdio e acionar o Ministério Público Federal (MPF).

Ele também defendeu a derrubada de mangueiras centenárias de Santarém, alegando transtornos causados pelas aves que habitam as árvores, proposta que gerou reação de mais de 50 entidades da sociedade civil.

Em outra ocasião, Mottin teve o microfone cortado na Câmara ao insinuar irregularidades em obras públicas sem apresentar provas. O vereador também foi alvo de críticas do Sindicato dos Trabalhadores de Trânsito do Pará (Sindtran/PA) após questionar a legalidade de uma blitz e exigir, sem respaldo jurídico, uma ordem de serviço dos agentes de fiscalização.

Suas falas de apoio ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, feitas em sessão da Câmara, também repercutiram negativamente. Na ocasião, o parlamentar afirmou: “Eu estudei no tempo do período militar, fui educado no tempo do período militar, entendo e conheço todas as benesses que os Estados Unidos trouxeram para a gente. A democracia verdadeira sempre foi espelhada nos Estados Unidos”.

Ele ainda declarou: “Vou tirar meu chapéu em nome do nosso Donald Trump, nosso irmão mais velho, que está tentando nos salvar. Por mais que o nosso STF tente trazer o comunismo, por mais que o PT tente botar para arregaçar toda a nossa cultura, nós temos o nosso irmão mais velho para nos salvar. Obrigado, Donald Trump!”.

Leia também: Vereadores do Pará discutem durante ato pró-Palestina em Belém
Editado por Marcela Leiros

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