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Vereador usa termo ‘mariquinha’ e especialistas dizem que ‘falta de estudo’ não dá aval a preconceito
Vereador Sassá da Construção (PT) discursando no plenário da Câmara Municipal de Manaus (CMM). (Robervaldo Rocha/CMM)
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28 de setembro de 2021
Victória Sales – Da Cenarium
MANAUS – Durante a sessão plenária dessa segunda-feira, 27, na Câmara Municipal de Manaus (CMM), o vereador Sassá da Construção Civil (PT) criticou a conduta de Rodrigo Guedes (PSC) ao postar um vídeo nas redes sociais igualando políticos brasileiros a cachorros. Segundo Sassá, há respeito entre os parlamentares, no entanto, “vereador que não vai para as ruas é mariquinha”, disparou.
Para o advogado Paulo Iotti, que é um dos autores de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou a criminalização da homofobia, o termo “maricas” remete à covardia. “Mas notoriamente porque remete a homens gays, como supostamente ‘menos homens’ que homens heterossexuais”, destacou. Ainda segundo o profissional a homotransfobia foi considerada racismo. “Em geral se exige “dolo direto”, que seria a intenção propriamente dita, mas eu entendo, com precedente do STJ, que o racismo admite o chamado “dolo eventual”, que é o “assumir o risco” de produzir o resultado, como suficiente para caracterizar o crime (crime de racismo homofóbico, no caso). Assumir o risco não é um querer propriamente dito, mas não se importar com a produção desse resultado (incitar a homofobia, no caso)”, relatou.
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Na visão da vice-presidente do Grupo Arco Íris de Cidadania LGBTQIA+, Marcelle Cristiane Esteves, isso nada mais é que proliferação do pensamento da sociedade arcaica. “Quando o presidente ou qualquer outro parlamentar reverbera esse linguajar, ele está dizendo para todas as famílias: ou vocês são fortes ou são maricas e não são absolutamente nada. É homofóbico e carregado de preconceito. Tanto é e ele sabe que é que logo ele se dá conta e faz uma observação sobre a imprensa. Isso é uma falta de respeito”, destacou.
Sessão
O debate iniciou após uma fala do vereador Lissandro Breval (Avante), que destacou que não poderia deixar de não comentar o assunto. “Eu queria colocar meu ponto de vista já que isso foi amplamente debatido e exposto e colocado propositalmente nas redes sociais, eu acho que essa política do vale tudo, essa política de sempre querer ter seguidor, de afetar os colegas, de afetar o parlamento em benefício próprio eu acho que isso é muito feio, não me senti atingido, mas a premissa tem que ser o respeito”, relatou.
A postagem feita pelo vereador Rodrigo Guedes teria causado desconforto por parte dos parlamentares. De acordo com o vereador Sassá, o papel do vereador não é ficar fiscalizando o trabalho dos outros colegas. “Eu sou o tipo de vereador que vou para a rua. Eu não sou vereador de gabinete. É muito fácil você falar mal do seu colega. Vai lá e mete o pé na rua. É muito fácil você falar mal do teu colega, mas eu considero isso um papel de mariquinha. Isso não é papel de vereador”, afirmou o parlamentar.
Outros parlamentares também se pronunciaram sobre o assunto na sessão, entre eles o vereador Amom Mandel (sem partido) que afirmou que sobre a postagem do vídeo, todo mundo tem liberdade para fazer todo tipo de crítica, desde que seja de forma respeitosa. “Não vejo nenhum desrespeito a nenhuma pessoa específica. O vereador Rodrigo agiu como cidadão que é, mas é uma pena que a pauta deixe de ser as questões importantes da ordem do dia”, explicou o vereador.
Pronunciamentos
Em resposta à CENARIUM, o vereador Rodrigo Guedes afirmou que acredita que o vereador Sassá estava falando dele e do vereador Amom Mandel. “Porque nós contestamos as coisas internas da casa, fiscalizamos a própria casa legislativa pra que ela melhore e melhore a visão da população com os políticos. Não me sinto de nenhuma forma ofendido ou atingido por que devo satisfação única e exclusivamente à população de Manaus”, relatou. Sobre o vídeo, o parlamentar destacou que a discussão é extremamente “desnecessária”.
“Eu publiquei um vídeo que já existia, não criei o vídeo, botaram apenas a minha logo e se outro vereador postasse eu nunca ia me sentir ofendido. Ali no vídeo não está vereadores e sim políticos e é uma visão que a população tem da política do Brasil e do mundo inteiro. Nem imaginei que daria essa repercussão toda, não estou fazendo nada que tire o direito do povo, por exemplo”, destacou Rodrigo Guedes.
Questionado sobre o sentido da fala, Sassá explicou que mariquinha na sua terra, no nordeste, é aquela pessoa que não faz nada, não trabalha e fica fazendo fofoca, falando da vida dos outros. Questionado pela reportagem se a utilização do termo não poderia reforçar preconceitos o vereador não respondeu diretamente e ressaltou o fato de que não usou a palavra com intenção homofóbica.
Bolsonaro chama brasileiros de marica
Em novembro de 2020, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou que o Brasil precisava deixar de ser um País de “maricas” e confrontar a pandemia da Covid-19 de “peito aberto”. “Tudo agora é pandemia”, queixou-se Bolsonaro. Bolsonaro destacou ainda que não tem paz “para absolutamente nada” e reclamou da cobertura da imprensa. “Pessoal, temos que buscar mudanças, não teremos outra oportunidade. Vem a turminha falar ‘queremos um centro’, nem ódio pra lá nem ódio pra cá. Ódio é coisa de marica, pô. Meu tempo de bullying na escola era porrada”, declarou.
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