Vereadora de Belém sofre ataques racistas como primeira secretária negra da Mesa Diretora da Câmara

A vereadora Livia Duarte (PSol) foi eleita com 5.599 votos (João Paulo Guimarães/ Revista Cenarium)

João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

BELÉM, PA – A fala vista como racista por algumas entidades, de dois vereadores da Câmara Municipal de Belém, no Pará, causou comoção e revolta nos primeiros dias do ano. A vereadora Livia Duarte (PSol), eleita com 5.599 votos, fazia seu pronunciamento como a primeira mulher secretária negra na Mesa Diretora da Casa Legislativa quando o vereador do Patriotas, Josias Higino, eleito com 2.364 votos, gritou para seus colegas: “Tem que bater palma para os brancos também”.

Vereadora Livia Duarte (PSol) foi eleita com 5.599 votos (João Paulo Guimarães/ Revista Cenarium)

Apesar da fala controversa, Josias da Silva Higino, de 54 anos, se declara como pardo, segundo registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após perceber o mal-estar que se instalou na Casa, o vereador citou a Bíblia numa tentativa de sanar a situação inconveniente.

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Outro vereador conhecido por atitudes agressivas também se pronunciou quando Lívia Duarte se dirigia para a Casa. Mauro Freitas (PSDB), de 49 anos, foi eleito com 6.392 votos, apesar de ter ensino superior incompleto. Ele também gritou para Lívia Duarte enquanto ela fazia sua intervenção na tribuna. “P*** que paril. Agora vou ter de estudar Chimamanda”, disse ao lembrar de Chimamanda Ngozi Adichie, escritora e feminista nigeriana.

Após o episódio, a vereadora se pronunciou nas redes sociais sobre a agressão de Mauro Freitas citando Marielle. “De minha parte, manas, repito o dito por Marielle que ecoou em tantas outras mulheres: ‘Não seremos interrompidas'”.

Lívia conversou com a REVISTA CENARIUM sobre o ocorrido e sobre os desafios das mulheres negras em posições de liderança. “Ter uma mulher negra em um espaço que, predominantemente, sempre foi masculino e branco é uma ameaça. Cada vez que ocupamos esses espaços, movemos a estrutura de uma sociedade e, automaticamente, quebramos um ciclo. Incomodamos quando estamos nesses espaços e a única forma que eles sabem como reagir é sendo machistas, misóginos e racistas. Não nos calaremos”, disse.

Hoje na Câmara temos apenas três mulheres negras e eu sou a primeira mulher negra que assume a 1° secretaria da casa, o que rompe com toda estrutura masculina e branca imposta por anos. Estamos subvertendo uma lógica e dizendo que não vamos arredar o pé, que esse espaço é nosso. Ser 1° secretária é representatividade, poder, luta e resistência. Queremos marcar a história lutando e ocupando cada vez mais espaços. Eu sou mais uma semente que vai disputar o espaço da política institucional, ainda, tão hostil às mulheres, em especial às mulheres negras.

A nossa caminhada será longa, serão quatro anos de muitos desafios, esse foi só o primeiro de muitos que vamos precisar enfrentar pela frente. Vamos ecoar nossas vozes e construir um mandato antirracista, feminista e classista.”

Mais sobre Chimamanda

Chimamanda Ngozi Adichie é escritora feminista, nigeriana e uma das mais importantes autoras anglófonas da atualidade (anglofonia é o conjunto de identidades culturais de países onde a língua inglesa é a língua pela qual um povo se comunica). A escritora que também cursou medicina por um ano e meio, já foi traduzida para 30 línguas e um de seus destaques é o livro Hibisco Roxo, vencedor do prêmio de melhor livro do Common Wealth Writers em 2004.

Lívia Duarte é Presidente do Psol em Belém do Pará e faz parte da mudança política assim como da resistência que se iniciou na capital paraense onde o novo prefeito eleito, Edmilson Rodrigues também do Psol, derrotou um candidato Bolsonarista Anti Meio Ambiente, Delegado Federal Eguchi do Partido Bolsonarista Patriotas, mesmo partido de onde uma das agressões racistas vieram.

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