Viagem de secretário para encontros com traficantes em presídio federal foi bancado por cofres públicos

O secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro, é preso pela Polícia Federal em sua casa, na Urca (Gabriel de Paiva/Agência O Globo)

Com informações do Infoglobo

MANAUS (AM) – A visita da comitiva da Administração Penitenciária ao Presídio de Catanduvas, no Paraná, onde o agora ex-secretário Raphael Montenegro visitou dez detentos que cumprem pena na unidade, foi bancada com dinheiro público. O documento, no qual Montenegro recebe a liberação de R$ 1.304 da Seap para a viagem, pode ser acessado através do Sistema Eletrônico de Informações do Governo. O valor contempla passagem, hospedagem e cota de alimentação do antigo comandante da pasta.

Além de Montenegro, os subsecretários Wellington Nunes da Silva, da gestão operacional, e Sandro Farias Gimenes, superintendente da pasta, que também foram presos, nesta terça-feira, 17, receberam a verba. A viagem foi feita entre os dias 26 e 28 de maio. Ao Globo, o governo afirmou que o repasse fez parte das movimentações da Secretaria, que tem autonomia para liberações de verba deste tipo. Nos dias em que esteve negociando com traficantes, Montenegro não se afastou das funções.

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A visita à unidade penitenciária foi autorizada para os dias 27 e 28 de maio pelo juiz federal da Seção de Execução Penal de Catanduvas, Danilo Pereira Junior, mas chamou a atenção do magistrado e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). No pedido, Montenegro alegou que sempre há demanda de presos para voltar ao Rio e que o juiz titular da Vara de Execuções Penais (VEP), Marcello Rubioli, teria se manifestado “favoravelmente” à visita a Catanduvas. No entanto, o próprio magistrado fluminense respondeu por ofício que “nunca autorizou” a ida ao presídio nem entrevistas.

Um dos encontros realizados durante a “visita oficial” foi com Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, considerado o número 1 da maior facção do País. Na conversa, que foi gravada com autorização da Justiça Federal e informada ao então secretário, Montenegro disse saber que o traficante não deixaria seus negócios e chegou a dizer que ele era, talvez, “mais importante que o secretário de Segurança do Rio”.

“A gente tem consciência dos compromissos que você tem com os seus irmão, a gente tem consciência do compromisso que você tem com a facção. Agora, a gente também sabe que você é um cara que no Rio, pô, pode baixar a poeira”, disse Montenegro. A investigação começou após o pedido do então secretário para “entrevistar” os dez bandidos a fim de avaliar se eles poderiam voltar ao Rio.

Castro se diz “traído”

Em entrevista à TV Globo, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), afirmou que “não tinha conhecimento das viagens” de Montenegro a presídios de segurança máxima localizados em outros Estados ou de diálogos com traficantes e definiu essas visitas como uma “traição”.

“A gente sempre quer acertar. Não podemos é manter um secretário, mesmo sabendo de erros deste tipo. Eu não tinha conhecimento dessas viagens, não foram avisadas ao meu gabinete. Se soubesse, é claro, eu perguntaria o motivo. Um dos motivos da exoneração é essa traição, essa quebra de confiança”, afirmou.

Castro não explicou o porquê de o sistema de inteligência do governo não ter identificado as viagens e visitas frequentes de Montenegro a presídios. “O setor anticorrupção do Estado vinha analisando essa questão. Isto aconteceu em um presídio federal fora do Rio. A PF fez um ótimo trabalho e a parceria existe para isso. Se a pessoa erra, as duas forças juntas vão agir”, afirmou.

A prisão de Montenegro representa desgaste político para Castro, que chegou a anunciar a saída dele da Seap, na semana passada, mas voltou atrás da decisão, mesmo com um inquérito instaurado pela Polícia Federal e uma investigação conjunta com o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro.

Aliados do governador chegaram a aconselhar a exoneração de Montenegro, como forma de evitar uma crise institucional, mas nem assim ele foi retirado do cargo.

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