Os gastos se referem ao valor de toda a comitiva do petista em nove países no início do seu terceiro mandato, sem considerar a última viagem à Europa, que incluiu Itália, Vaticano e França.
Lula realizou 12 viagens oficiais ao exterior até aqui em seu terceiro mandato, incluindo a participação em duas cúpulas. No mesmo período de 2019, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) fez seis.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, em Montevidéu, no Uruguai, durante visita oficial – Mariana Greif – 25.jan.23/Reuters
A política externa tornou-se uma das prioridades de Lula, com a reinserção do Brasil na geopolítica, o resgate do processo de integração da América do Sul, a agenda ambiental e as negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul como focos.
Durante as viagens ao exterior, Lula e sua comitiva se hospedaram em hotéis de alto padrão, custeados com dinheiro público na maior parte das vezes. O Itamaraty afirma que, em alguns casos, é praxe os países anfitriões oferecerem a hospedagem como cortesias aos visitantes.
“A acomodação do presidente nas viagens realizadas aos EUA e aos Emirados Árabes Unidos, entre outras, foram custeadas pelos governos anfitriões”, informou a pasta em nota. Na viagem a Washington, Lula ficou hospedado na Blair House, residência oficial do governo americano reservada a chefes de Estado que visitam o país.
O hotel que recebeu o mandatário brasileiro em Abu Dhabi foi o luxuoso Emirates Palace Mandarin Oriental, onde a suíte principal conta com três quartos.
A Folha questionou o Itamaraty sobre os gastos específicos dos quartos usados pelo presidente, mas a pasta informou que não seria “exequível” detalhar essa informação em pouco tempo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com seu homólogo americano, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington, durante visita oficial do Sarah Silbiger/Pool – 10.fev.23/Reuters
A viagem com maior gasto com hospedagem para a comitiva oficial foi a da China, em abril deste ano. Foram gastos R$ 1,8 milhão durante os cinco dias em território chinês. Na cidade de Xangai, onde Lula compareceu à posse da ex-presidente Dilma Rousseff na presidência do Banco dos Brics, o petista ficou no luxuoso Fairmont Peace Hotel. Em Pequim, a hospedagem foi no hotel St. Regis.
A visita à China significou a reaproximação entre os países após o afastamento durante os anos Bolsonaro. Lula foi acompanhado por uma grande comitiva: estavam com ele o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cinco governadores, oito ministros de Estado e 26 parlamentares.
Nos deslocamentos internacionais, diversos assessores também acompanham o presidente. As outras viagens com os maiores gastos com hospedagem foram para Reino Unido (R$ 1,4 milhão), Portugal (R$ 1 milhão) e Espanha (R$ 815 mil).
Lula e o líder da China, Xi Jinping, participam de cerimônia de boas-vindas ao presidente brasileiro em frente ao Grande Salão do Povo, em P Ricardo Stuckert – 14.abr.23/Presidência da República/Divulgação
As contribuições para o mecanismo ambiental foram uma conquista do governo Lula. Os tradicionais doadores do fundo, Alemanha e Noruega, afastaram-se do Brasil durante o governo Bolsonaro.
Os gastos com hospedagem são os mais expressivos nas agendas internacionais, mas não são os únicos. Nos quatro dias em que Lula esteve em Buenos Aires, para uma visita oficial e para a cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), a comitiva brasileira gastou R$ 715,8 mil com hospedagem; R$ 337,6 mil com diárias pagas a servidores, R$ 497,9 mil com alugueis de veículos, R$ 24,6 mil com contratação de intérpretes, entre outros.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao lado de seu homólogo argentino, Alberto Fernández, na Casa Rosada, em Buenos Aires Luiz Robayo – 23.jan.23/AFP
No governo anterior, apoiadores de Bolsonaro usavam o argumento de que o então presidente economizava dinheiro no exterior ao se hospedar em embaixadas. Embora Bolsonaro tenha em algumas ocasiões usado as estruturas de missões brasileiras, ele também recorreu amplamente a hotéis.
Foi o caso de praticamente todas as agendas internacionais de Bolsonaro no primeiro semestre de 2019. A exceção foi a visita oficial a Washington, para se encontrar com Donald Trump, onde o ex-presidente também se hospedou na Blair House.
De janeiro a junho daquele ano, Bolsonaro foi ao Fórum de Davos, na Suíça; a Washington (EUA); a Santiago (Chile); a Jerusalém e Tel Aviv (Israel); a Dallas (EUA); a Buenos Aires (Argentina); e a Osaka (Japão). Na Argentina, ficou hospedado no luxuoso Alvear Palace, cuja diária na suíte presidencial custa hoje R$ 14,9 mil.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chega a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com a primeira-dama Michelle para uma visita de seis di Alan Santos /Presidência da República
A Secretaria de Comunicação da Presidência ressaltou que as viagens são fruto de um esforço de Lula para retomar as relações diplomáticas do Brasil com o restante do mundo
“O objetivo é não só recuperar a imagem do país no exterior, como também reestabelecer as relações comerciais com parceiros importantes, o que resulta na atração de investimentos estrangeiros em áreas estratégicas que contribuem diretamente para recuperação da capacidade do mercado interno brasileiro, impulsionando a geração de emprego e renda”, informou em nota.
O governo cita, como ganhos práticos e diretos, as contribuições de R$ 3,1 bilhões ao Fundo Amazônia, além dos investimentos negociados na China (cerca de R$ 50 bilhões) e nos Emirados Árabes Unidos (cerca de R$ 12 bilhões).
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