Vice-prefeita de cidade no Pará é presa por suspeita de desvio de R$ 200 milhões
Por: Fabyo Cruz
09 de outubro de 2025
BELÉM (PA) – A vice-prefeita de Marituba, município localizado na Região Metropolitana de Belém (PA), Bárbara Marques (MDB), foi presa pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 9, durante a segunda fase da Operação Expertise. Ela é suspeita de envolvimento em um esquema de fraudes em licitações, desvios de recursos públicos que somam R$ 200 milhões, corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo a PF, a operação tem o objetivo de aprofundar as apurações sobre irregularidades em contratos públicos de órgãos estaduais e municipais do Pará, especialmente nas áreas da saúde e da educação. A ação contou com o apoio técnico da Controladoria-Geral da União (CGU).
Imagens da prisão foram registradas e divulgadas nas redes sociais. No total, a Polícia Federal cumpriu três mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva, além de outras medidas determinadas pela Justiça Federal, como afastamentos de funções públicas, bloqueio de bens e quebra de sigilos bancário e fiscal.

De acordo com as investigações, o grupo envolvido direcionava licitações e realizava adesões irregulares a atas de registro de preços, além de simular a execução de contratos públicos. A PF identificou que, após o repasse dos recursos, eram feitos saques em espécie, inclusive de valores destinados a políticas de saúde e educação.
Durante as apurações, os agentes flagraram um dos investigados entregando dinheiro em espécie a um servidor público dentro de um órgão da administração, o que, segundo a corporação, reforça as evidências do esquema de corrupção.
Exoneração
Poucas horas após a prisão, Bárbara Marques foi exonerada do cargo de secretária municipal de Educação de Marituba. A decisão consta no Decreto 668/2025, assinado pela prefeita Patrícia Ronielly Ramos Alencar e publicado no mesmo dia. O documento determina a exoneração imediata, com base no artigo 39, alínea “a”, da Lei Municipal 036/98, que regula o regime jurídico dos servidores públicos de Marituba. O decreto foi registrado pela Secretaria Municipal de Administração, sob a assinatura do secretário Mikhail Guimarães Perouansky.

A CENARIUM solicitou posicionamento à Prefeitura de Marituba, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos oficiais.
Primeira fase
A primeira fase da Operação Expertise foi deflagrada pela Polícia Federal em 2 de setembro de 2025, e apurou um esquema de desvio de recursos públicos da saúde e da educação no Pará. De acordo com as investigações, até R$ 198 milhões podem ter sido desviados de verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do Fundo Nacional de Saúde (FNS), por meio de fraudes em licitações e contratos administrativos.

Entre os alvos da operação estavam servidores do Governo do Pará, da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa), da Prefeitura de Marituba, além de empresários e empresas de fachada. A PF identificou práticas como direcionamento de licitações, adesões irregulares a atas de registro de preços e execuções parciais ou simuladas de contratos. Após os repasses, os valores eram sacados em espécie e distribuídos entre os envolvidos.
Para cumprir as medidas judiciais, participaram da ação 65 policiais federais e seis auditores da CGU. Foram expedidos 18 mandados de busca e apreensão em Belém e Marituba, além de cinco prisões preventivas. A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 198 milhões em ativos, a quebra de sigilos bancário e fiscal de 17 investigados, o afastamento cautelar de seis servidores públicos e a suspensão das atividades de quatro empresas.
Durante as diligências, a PF apreendeu R$ 881 mil em moedas nacionais e estrangeiras, 31 veículos, 88 peças de joias e sete relógios da marca Rolex. Parte dos nomes dos investigados foi revelada pelo jornalista Fábio Serapião, do portal Metrópoles, entre eles servidores do Detran-PA, da Polícia Científica do Pará, da Alepa e da Prefeitura de Marituba.
Cinco dos investigados permanecem presos preventivamente, e a Justiça determinou a suspensão, por tempo indeterminado, dos contratos firmados pelas empresas investigadas com órgãos públicos estaduais e municipais.
Na ocasião, a Alepa, o Detran-PA, a Polícia Científica e a Prefeitura de Marituba foram procurados pela CENARIUM. A Assembleia informou que o caso tratava-se de “um fato isolado” envolvendo dois servidores e que as investigações corriam sob segredo de justiça. As demais instituições afirmaram não ter conhecimento sobre o conteúdo da investigação.