Vice-prefeito de SP chama dependentes químicos ajudados por padre Lancelotti de ‘clientes’
Por: Jefferson Ramos - Especial para a Cenarium
16 de junho de 2025
MANAUS (AM) – Durante visita a Manaus, o vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), voltou a defender as ações da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na Cracolândia e chamou as pessoas em vulnerabilidade social, apoiadas pelo padre Júlio Lancellotti, de “clientes” do líder religioso.
“O padre fez um vídeo dizendo que iriamos fazer mal às pessoas. Você acha que isso é um serviço ou desserviço? É um desserviço! O que ele quer lá é continuar recebendo as doações para continuar servindo aquelas pessoas. Não é com comida que se trata dependente químico. É com um conjunto de ações. Ele foi atrás de mim porque estava no bairro dele e levei 108 clientes dele para tratamento, acolhimento e emprego e isso incomodou ele”, provocou o vice-prefeito.
As declarações foram feitas pelo político durante audiência pública intitulada “Salve o Centro” organizada pelo presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara Municipal de Manaus (CMM), vereador Coronel Rosses (PL).

Os dois protagonizaram um embate em março, quando Mello Araújo chamou o trabalho feito pelo padre na pastoral do povo de rua de “desserviço” que colaboraria para concentração de usuários de drogas.
Questionado pela reportagem se as declarações colocariam o religioso em perigo e se o padre pode ser no apoio a dependentes químicos que vivem nas ruas da cidade de São Paulo, o vice-prefeito declarou que o próprio religioso se coloca em risco.
“Ele poderia ser um parceiro. Deus deu o dom para ele. Ele tem um dom de convencimento. Se ele usar isso aí para o bem junto com a gente, vai ajudar muito. O que coloca ele em risco são as atitudes deles. Se o padre Júlio morasse do lado da sua casa e ele enchesse de gente na frente da sua casa todo dia, nenhum vizinho ia ficar contente”, respondeu o coronel.
Medidas consideradas polêmicas
O vice-prefeito disse que, sem os decretos e leis consideradas polêmicas, a maioria dos usuários de entorpecentes dispersos em ruas da cidade não seriam influenciados a aceitar tratamento e emprego.
Entre as medidas estão a limitação de instalação de barracas por pessoas em vulnerabilidade. Agora, elas só podem improvisar barracas em espaço públicos à noite e se não quiserem ir para albergues da Prefeitura de São Paulo.
“Se você montar uma barraca em frente a um comércio, ele vai fechar. A gente precisa ter um regramento. A barraca é para dormir e durante o dia essas barracas têm que ser desfeitas para que a vida dos outros continue. Em relação à marmita, vai comer em local adequado. Ninguém gosta de comer no meio da rua. Lá em São Paulo, a pessoa tinha que andar 500 metros e montamos um local”, explicou o vice-prefeito rebatendo acusações de que a medida reduz a locomoção e direitos fundamentais de pessoas em vulnerabilidade.
Mello Araújo sugeriu que as mesmas ações sejam adotadas pela Prefeitura de Manaus. Na avaliação do vice-prefeito, a aglomeração em Manaus é pequena e pode ser facilmente resolvida com cooperação entre o município e o governo do Estado.
Realidade em Manaus
À CENARIUM, o vereador Coronel Rosses afirmou que vai filtrar as sugestões. Ele reconheceu que a realidade de Manaus é diferente da paulistana, mas disse concordar que o dependente químico não vai procurar ajuda se tudo for dado de “mão beijada a ele”.
“Aqui trouxemos uma realidade da cidade de São Paulo. Vamos filtrar e vê o que tem exequibilidade ou não à nossa realidade, mas uma coisa concordo plenamente. Não podemos continuar mantendo o usuário de droga dando bolsa família, alimentação e tudo aquilo que ele precisa para permanecer naquele local. Não vai mudar aquela realidade dando conforto para quem ali está. Temos que dar conforto, sim, mas precisamos tirar eles dali”, declarou Rosses.
As medidas chegaram a ser questionadas na Justiça pela oposição ao prefeito Ricardo Nunes. A Defensoria Pública de São Paulo (DPE-SP) conseguiu decisões provisórias contra a remoção de colchões e objetos pessoais das mais de 30 mil pessoas em situação de rua na cidade.
A ação foi movida pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL/SP) e pelo padre Júlio Lancellotti. Ricardo Nunes conseguiu reverter a liminar de primeira instância em abril. Com a derrubada, os fiscais da prefeitura intensificaram as remoções de pertences de moradores de rua como cobertores, colchonetes, travesseiros, panelas, roupas e fogareiros.