Vídeo: indígenas Korubos expulsam servidores da Funai de área de proteção no Vale do Javari no AM

Lideranças do povo Korubo criticam as políticas públicas implementadas pela Funai (Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – Indígenas isolados da etnia Korubo expulsaram, na terça-feira, 17, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, localizada no município de Atalaia do Norte, no extremo Oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru. Lideranças do grupo exigem melhorias aos serviços ofertados aos indígenas, criticam as políticas públicas implementadas pela Funai e afirmam que a área de proteção vem se deteriorando há cerca de dois anos, por conta da falta de recurso, investimento e compras de equipamentos para fiscalização, se agravando com a pandemia da Covid-19.

Indígenas Korubo durante reunião com integrantes da Força Nacional da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari (Reprodução)

“A Frente de Proteção Etnoambiental vem se deteriorando por falta de investimento, recursos e readequação e compras de equipamentos para fazer a fiscalização e, com a pandemia, isso só piorou, porque ninguém sabe quem está vindo com Covid-19 ou não. E essa revolta dos Korubos é justamente por isso, é uma cadeia de problemas que vêm se acumulando e sem solução. Chegou ao ponto que a única saída para fazer reivindicação foi ocupar o espaço da base da Frente Etnoambiental”, declarou uma liderança indígena, que preferiu não se identificar com medo de represálias.

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Em um vídeo obtido pela CENARIUM, é possível ver o momento em que os indígenas retiram os agentes da Funai da região, levando-os sob uma ponte de madeira. Alguns dos Korubos aparecem carregando lanças. Não há relatos de mortes ou feridos. Segundo a liderança indígena ouvida pela reportagem, o local encontra-se completamente ocupado pelos Korubos.

“Neste momento, a base está ocupada pelos índios Korubos e sem a mediação, até o momento, de alguém da Funai”, declarou a liderança indígena ouvida pela reportagem.

Vídeo mostra o momento em que servidores da Funai são expulsos da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari (Reprodução)

Korubos

Os Korubos são considerados indígenas recém-contatados, por conta do primeiro contato entre eles e os “homens brancos” ocorrer apenas em 1996. A maioria dos Korubos vivem na Terra Indígena do Vale do Javari, sendo que grande parte ainda são isolados. A região é o território com a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo.

Para entrar na região, é necessário cumprir quarentena de 14 dias. A medida, no entanto, não vem sendo cumprida, segundo lideranças indígenas. Por serem povos de recém-contato, um dos riscos é de que haja confrontos armados entre os isolados e os não-isolados.

Entre uma das reivindicações dos Korubos é o retorno do líder indígena Beto Marubo, membro da Organização Representativa dos Povos Indígenas da Terra do Vale do Javari (Univaja), para a coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental, onde ele trabalhou por um período de 14 anos (2003 a 2017). Atualmente, a base é coordenada por Gutemberg dos Santos. Procurado pela CENARIUM, Beto Marubo disse à reportagem que recebe com surpresa a reinvindicação dos Korubos sobre sua volta à base.

Segundo o líder indígena, as invasões no Território Indígena do Vale do Javari vêm aumentando nos últimos anos, de forma exponencial, sobretudo, durante o período da pandemia da Covid-19. “Isso tem afetado diretamente a subsistência deles, porque são indígenas de recente contato. Eles dependem da caça, pesca e como o ambiente vem sendo muito desprotegido, eles foram reivindicar com os servidores da Funai”, explicou Beto Marubo.

Tensão

A região vive um momento delicado e a tensão entre lideranças vem piorando desde a exposição, em julho deste ano, do áudio do coordenador da Funai no Vale do Javari, o tenente da reserva do Exército Henri Charlles Lima da Silva, encorajando os Marubo a “meter fogo” contra indígenas isolados, caso sejam importunados por eles. O áudio foi obtido pela Folha de S.Paulo e foi repudiado à CENARIUM, pelo líder indígena do povo Marubo, Eliésio Vargas Marubo.

Veja também: Marubos repudiam áudio de coordenador da Funai que incita violência entre indígenas no Amazonas

O caso, no entanto, surgiu 16 dias após indígenas isolados raptarem uma mulher de 37 anos de uma aldeia vizinha, segundo relatos dos Marubos. A mulher foi encontrada sozinha na mata, com as mãos amarradas, depois de quatro horas de busca, sendo a terceira tentativa de sequestro da mesma pessoa desde o final de 2020.

A CENARIUM entrou em contato com a sede da Funai, em Brasília, no início da tarde desta quinta-feira, 19, questionando se o órgão tem conhecimento sobre caso e o que foi acordado com os Korubos. A reportagem, no entanto, não obteve retorno até a publicação deste texto.

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