Violência armada na Grande Belém atinge principalmente população negra
08 de setembro de 2024
A Região Metropolitana de Belém (RMB) registrou, em agosto de 2024, 68 tiroteios e 59 pessoas baleadas (Composição: Weslley Santos/CENARIUM)
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – A Região Metropolitana de Belém (RMB) registrou, em agosto de 2024, 68 tiroteios e 59 pessoas baleadas, de acordo com o relatório mensal divulgado pelo Instituto Fogo Cruzado. Dessas vítimas, 50 morreram, sendo 33 pessoas negras, e nove ficaram feridas, das quais duas eram negras. Esses dados ressaltam uma realidade preocupante: a população negra é desproporcionalmente afetada pela violência armada.
Eryck Batalha, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Pará, afirma que a violência não atinge a todos da mesma forma. “A violência, sobretudo a violência armada, tem como alvo constante homens e mulheres negros, que sofrem diariamente. Em agosto, mais da metade dos mortos em tiroteios eram negros. Não podemos normalizar isso e temos o dever de questionar por que só uns têm direito à proteção enquanto a resposta para outros é o tiro. Os dados deste relatório escancaram o quanto a segurança pública precisa ser redesenhada a partir de dados e evidências se o foco dela for a preservação da vida“, observou.
À CENARIUM, o advogado Alexandre Julião, mestre em direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que a violência armada na RMB reflete um padrão de desigualdade racial, acentuado pela predominância de negros e pardos nas áreas periféricas onde ocorrem a maioria dos tiroteios.
“O Pará se manteve entre os Estados com as maiores taxas de homicídios do País nos últimos dez anos, e a maior parte dos tiroteios ocorre em regiões periféricas, onde reside uma população majoritariamente negra”.
Advogado Alexandre Julião (Arquivo pessoal)
Julião observa que a violência armada não é um fenômeno isolado, mas parte de um racismo estrutural que permeia as políticas de segurança pública. “Há um direcionamento racialmente determinado nas políticas de segurança, especialmente no Estado do Pará e na RMB, onde a letalidade policial afeta predominantemente homens negros de 16 a 24 anos”, afirmou.
Segundo ele, o racismo estrutural opera como uma lógica que desumaniza a população negra, negando-lhes direitos e dignidade e facilitando a violência contra essas pessoas.
Vulnerabilidade e controle violento do Estado
A situação de extrema vulnerabilidade da população negra na Grande Belém agrava ainda mais o impacto da violência armada. Julião ressalta que a falta de acesso a direitos básicos e políticas públicas adequadas deixa essa parcela da população exposta tanto à pobreza quanto à violência.
“A população negra é a mais pauperizada e vive em um estado de profunda vulnerabilidade social. O Estado, ao invés de garantir acesso a direitos, muitas vezes se apresenta apenas por meio do controle violento”, explicou.
Esse contexto cria um ciclo de vulnerabilidade extrema e controle violento, onde a população negra da RMB não só enfrenta a precariedade econômica, mas também a constante ameaça da violência armada, diz o advogado.
As reflexões de Alexandre Julião apontam para a necessidade urgente de uma reformulação nas políticas de segurança pública que priorize a preservação da vida e leve em consideração as desigualdades raciais e sociais que marcam a região.
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