Violência contra mulher: nas redes sociais, elas debatem mais o tema do que os homens

O X vermelho desenhado na palma da mão faz parte de uma campanha mundial para amparar mulheres em situação de violência doméstica (Secretaria de Segurança Pública do Ceará/Divulgação)
Com informações da Folha de S. Paulo

SÃO PAULO — No Brasil, mais usuárias de redes sociais do que usuários tratam do tema violência contra a mulher. Elas respondem por 54% das publicações e eles, por 45%, segundo estudo realizado pela Ipsos Brasil com a ONU Mulheres, divulgado nesta terça-feira, 5. O dado tem como base 351,6 mil autores de posts cujo gênero foi possível identificar.

O quadro é uma das conclusões do levantamento, que, ao todo, analisou 4,9 milhões de publicações feitas em 2020 em cinco países. Entre elas estão notícias, posts públicos em redes sociais, entre as quais Twitter, Instagram, Facebook, e também em fóruns de opinião. Em comum, todos abordavam violência contra a mulher.

O objetivo, segundo os autores do trabalho, era medir o impacto da pandemia nas notícias e nas conversas online acerca do tema em Brasil, México, El Salvador, Honduras e Guatemala. Só no Brasil foram 2,5 milhões de posts e 137 mil publicações de sites de notícias.

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Para a análise, foi utilizado um sistema que interpreta grandes volumes de dados por meio de inteligência artificial.

Sinal vermelho desenhado na mão tornou-se uma forma de mulheres vítimas de violência pedirem ajuda (Divulgação)

O estudo aponta que no Brasil apenas 5% das publicações sobre violência contra a mulher provinham de sites de notícias. As demais eram de redes sociais. “Esse dado inclui pessoas que compartilham notícias, relatando casos de violência, comentando casos famosos, discussões sobre cultura do estupro, não necessariamente atrelados a notícias”, diz Helena Junqueira, coordenadora da pesquisa no Brasil.

Entre as formas de violência que se discutem nas redes, destacam-se espancamentos de mulheres, brigas entre casais e casos de assédio envolvendo motoristas de carros por aplicativo.

Internautas também relembram a importância de se proteger as mulheres vítimas de violência e relatam a história das vítimas e o perfil dos agressores, sobretudo em casos de estupro e de grande repercussão.

Com relação ao volume de notícias por país, o México ficou em primeiro lugar, com 68% das 458 mil notícias sobre o tema identificadas no estudo, com uma ampla cobertura não só sobre casos de violência mas também a respeito de campanhas de feminicídio.

Em segundo lugar, aparece o Brasil com 30% do total de notícias sobre o tema. Honduras, Guatemala e El Salvador apresentam 1% cada.

Segundo a pesquisa, a mídia brasileira destaca casos policiais. Em geral, as ações da polícia são relatadas por sua ação punitiva, uma vez que atuam na investigação dos casos, a execução dos mandados de prisão e a aplicação da lei.

Inclusive, os serviços mais lembrados pelas pessoas quando o assunto é violência contra a mulher são os policiais, com 57%.

Enquanto o México é o país com maior volume de notícias, o Brasil é o que tem o maior volume de conversas em redes sociais sobre o tema, ou seja, 58% do total, seguido do México com 41%, Guatemala com 1%, Honduras 0,2% e El Salvador 0,1%.

Comportamentos tóxicos não permeiam apenas o mundo dos relacionamentos amorosos, destacam especialistas
Comportamentos tóxicos não permeiam apenas o mundo dos relacionamentos amorosos, destacam especialistas (BBC Brasil/ Getty Images)

Com relação ao percentual de busca no Google, no Brasil, 65% das vítimas buscam informações, ajuda e formas de denúncia, como lidar com a situação, enquanto 5% dos agressores buscam informações se cometeram abusos, se sofrem de ciúmes excessivos ou buscam ajuda para modificar esses comportamentos.

Os outros 30% das buscas podem ser de ambos, uma vez que não foi possível captar se quem buscava a informação era a vítima ou agressor. “Essa identificação é feita pela pergunta que a pessoa fez no Google. O que identificamos como possíveis agressores são buscas do tipo: ‘como saber se estou sendo abusivo com a minha esposa'”, afirma Helena Junqueira.

Nos países de língua espanhola analisados, somente 27% das vítimas fizeram essa pesquisa e 22% dos agressores. E outros 51% podem ser de ambos.

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