Violência e assédio são as principais preocupações de brasileiras, diz pesquisa
11 de março de 2022
Manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, no Dia Internacional das Mulheres. (Bruno Santos - 8.mar.22/Folhapress)
Com informações da Folha de S. Paulo
SÃO PAULO — A violência e o assédio são a principal causa de preocupação entre mulheres no País. O quadro consta de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), entre os dias 19 de fevereiro e 3 de março deste ano.
O levantamento, encomendado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), traz um retrato sobre a situação das brasileiras no que se refere ao preconceito e à violência. Foram ouvidas 3.000 mulheres nas cinco regiões do País.
Um dos principais pontos levantados é que 83% das respondentes acreditam que os casos de violência contra a mulher aumentaram durante a pandemia da Covid-19. Essa opinião é maior entre mulheres pretas (87%) do que entre brancas (81%) e pardas (83%).
A pesquisa Observatório Febraban Mulheres, Preconceito e Violência mostra que, apesar de 56% das entrevistadas afirmarem que a questão da igualdade de gênero no Brasil “melhorou” ou “melhorou muito” nos últimos dez anos, oito em cada dez ainda se dizem insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a forma como as mulheres são tratadas na sociedade brasileira.
A violência e o assédio (40%), seguidos do feminicídio (26%) e da desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, são os principais pontos negativos.
A grande maioria considera haver desigualdade entre mulheres e homens quanto à remuneração ou salários (82%), direitos (71%) e liberdade sexual (71%). E um terço (31%) indica o machismo como principal causa para o Brasil ocupar a quinta posição em mortes violentas de mulheres. Um quinto (20%) aponta que a impunidade ou falta de leis mais rigorosas levam a essa situação.
Ainda sobre violência, mais da metade (55%) das brasileiras viram ou tomaram conhecimento sobre mulheres próximas que foram vítimas de situações de violência verbal, física ou sexual. O número chega a 63% na faixa etária de 18 a 24 anos.
Também passam da metade as que já foram vítimas ou já presenciaram alguma situação de preconceito ou discriminação contra mulheres: na rua (67%), no transporte público (56%), em festas ou em locais de entretenimento (54%).
Quase oito em cada 10 (77%) entrevistadas indicam a casa como o lugar onde as situações de violência, ameaça e assédio ocorrem com mais frequência, e sete em cada dez (69%) citam pessoas próximas ou conhecidas —atuais ou antigos cônjuges, companheiros e namorados— como principais agressores.
Equipe do projeto Órfãos do Feminicídio visita crianças que tiveram a mãe morta em 2019 em Manaus. (Mathilde Missioneiro/Folhapress)
“Indo direto ao ponto, a pesquisa nos faz um sério alerta de que, mesmo com os avanços dos últimos anos, as mulheres no Brasil ainda são, com frequência, vítimas de violência, assédio, preconceito e discriminação e de que precisamos de políticas e ações afirmativas que enfrentem esse grave problema social”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
No ambiente profissional, 40% das entrevistadas dizem já ter sofrido ou conhecem alguém que sofreu assédio moral por ser mulher. Esse percentual é muito similar ao das que apontam o assédio sexual também no ambiente profissional (38%). Em ambos os casos, apenas um terço (33%) disse ter havido denúncia do crime.
A pesquisa também mostrou que apenas 30% das vítimas denunciam o agressor aos órgãos oficiais ou policiais. Além desses, 14% buscam apoio informal de amigos, familiares ou conhecidos; e apenas 1% procura os diretores/gestores das empresas ou instituições onde ocorreu o fato.
Para 59% a denúncia não acontece por medo de represália e de perseguição. Um quinto (19%) refere-se à vergonha, 15% expressam o medo de que não acreditem no fato e 10% citam a falta de confiança na Justiça.
“Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe.
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