Vírus da Covid-19 está se adaptando à população de Manaus, diz estudo

Durante aproximadamente três meses, o vírus da Covid-19, fez de Manaus um grande laboratório para sua evolução na natureza, aponta estudo do projeto ODS Atlas Amazonas. (Reprodução/UOL)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium*

MANAUS – Depois de fazer um estrago de proporções mundiais, o novo Coronavírus, ao que parece, está se adaptando aos hospedeiros humanos, na cidade de Manaus. É o que aponta o novo boletim ODS Atlas Amazonas, estudo interativo construído por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas. O estudo diz ainda que a capital amazonense será a primeira a vencer a Covid-19, no País.

Segundo o Atlas, a base para o novo estudo vem do número de óbitos que está em queda na cidade de Manaus. O detalhe chama atenção por apresentar uma mudança no comportamento viral.

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“O vírus é um parasita e que precisa de seus hospedeiros, os humanos”, destacou o doutor em Ecologia, Henrique dos Santos Pereira, em entrevista à REVISTA CENARIUM. Para o pesquisador, existe uma estratégia que deve ser observada atentamente. “Por uma questão de sobrevivência, não interessa ao parasita, matar o hospedeiro porque ele morre junto”, sentenciou.

O que Henrique Pereira prevê é que se trata de puro Darwinismo. “É uma evolução de pura ecologia porque o vírus precisa ser um comensal a viver dentro do ser humano”, explicou.

O Boletim ODS Atlas Amazonas avança na teoria de que Manaus será primeira cidade a vencer a Covid-19 porque foi o espaço onde ele primeiramente fez mais estragos. “É um parasita que se comporta diferente de um lugar para o outro e nesse ciclo, Manaus foi a primeira cidade a sentir um forte impacto que começou primeiro aqui e irá encerrar primeiramente aqui”, atestou o pesquisador do Altas.

Mas, isso não significa que exista em Manaus a chamada ‘imunidade de rebanho’, ou seja: todos estariam imunes por conta da grande exposição ao vírus. “Chegou-se a ventilar que 90% de Manaus havia sido exposta ao vírus, mas, ficamos no número de 15% que é mais crível”, acredita o membro do Atlas.

Ele refuta a tese de imunidade, porque isso teria que seguir um protocolo científico. “Para haver imunidade de rebanho, teríamos que ter uma campanha de vacinação em massa, mas, sequer vacina para o novo Coronavírus existe”, atentou.

A busca por esse equilíbrio de relações é a base de uma coexistência, segundo a avaliação do cientista. “O vírus que consegue conviver com o hospedeiro se dá bem, já o que mata esse mesmo hospedeiro, se dá mal, é obvio”, clareou Henrique.

Doutor em Ecologia, o Prof.º Henrique Pereira sustenta que o novo Coronavírus é um organismo em evolução, dentre a população de Manaus (Reprodução/Divulgação)

É preciso observar o outro…

O interessante no trabalho dos pesquisadores do Atlas ODS, é que o recente estudo se debruçou no ‘outro lado da moeda’, traduzindo: os cientistas estudaram o vírus dentro de uma ótica pareada aos seres humanos, porque segundo Pereira, é preciso entender que são duas populações, “nós e os vírus”, pareou.

“Quando observamos os números de óbitos em redução, ficamos intrigados e logo partimos para estudar o comportamento do vírus”, afirmou. “Logo chegamos à conclusão que se trata de evolução natural”, diagnosticou.

Para Henrique, outro fator aponta para esse ‘equilíbrio natural’. “Muitos dos infectados não estão desenvolvendo doenças mais graves, diante da convivência com o parasita”, detalhou.

“É outro ciclo que aponta um vírus que perde a letalidade, mas, avança na capacidade de se transmitir e com isso sobreviver e isso é uma estratégia dominante na população do parasita”, raciocinou.

Não significa quê...

Mas, mesmo que a possibilidade de convivência com o vírus esteja estabelecida, isso não significa que o governo se retire da luta e cruze os braços. “Alguém aprendeu a conviver, mas, não acabou!”, alertou Henrique.

“Não sabemos o quanto nossa imunidade irá durar e o quanto esse parasita vai evoluir, ainda é muito cedo”, considerou. “Por isso pedimos ao Governo do Estado que segurasse o isolamento por pelo ao menos mais duas semanas”, finalizou o pesquisador.

Darwin sempre Darwin

Charles Robert Darwin,  foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico, célebre por seus avanços sobre evolução nas ciências biológicas. Juntamente com Alfred Wallace, Darwin estabeleceu a ideia que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum.

Darwin propôs a teoria de que os ramos evolutivos são resultados de seleção natural e sexual, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às da seleção artificial.

Seu livro de 1859, A Origem das Espécies, causou espanto na sociedade e comunidade científica da época, mas conseguiu grande aceitação nas décadas seguintes, superando a rejeição que os cientistas tinham pela transmutação de espécies.

Já em 1870, a evolução por seleção natural tinha apoio da maioria dos intelectuais. Sua aceitação quase universal, entretanto, não foi atingida até à emergência da síntese evolutiva moderna entre as décadas de 1930 e 1950 quando um grande consenso consolidou a seleção natural como o mecanismo básico da evolução.

A teoria de Darwin é considerada o mecanismo unificador para explicar a vida e a diversidade na Terra.

Pioneiro, Charles Darwin criou uma das mais discutidas teorias científicas, para explicar a evolução da vida, no planeta Terra (Reprodução/SoCientífica)

O Atlas

Boletim ODS Atlas Amazonas é uma publicação periódica do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PPGCASA. Equipe Técnica: Prof.º Henrique dos Santos Pereira, PhD (Coordenador geral da pesquisa), Prof.º Danilo Egle Santos Barbosa, PhD (Coordenador técnico), Prof.ª Dr.ª Suzy Cristina Pedroza da Silva (Pesquisadora colaboradora), Bruno Cordeiro Lorenzi (Pesquisador colaborador) e Francynara Dias Lorenzi, enfermeira especialista em saúde coletiva.

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