Visita ao último igarapé limpo de Manaus emociona estudantes
Por: Letícia Misna
20 de março de 2025
MANAUS (AM) – Próximo ao Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, alunos da rede pública de Manaus conheceram Água Branca, o último igarapé limpo de Manaus, localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste. Para a maioria deles, foi a primeira vez que puderam ter contato com uma água natural que ainda não virou depósito de lixo.

Parte do Água Branca passa por dentro de um sítio pertencente ao jornalista e ativista Jó Fernandes Farah. Presidente da Organização Não Governamental (ONG) Mata Viva, ele e seus companheiros cuidam da nascente, lutando por sua preservação há mais de 20 anos. É por meio de projetos da Mata Viva que crianças podem participar de excursões como essa e ter contato com a água limpa.
Uma dessas crianças foi Thayla Pereira, de 11 anos. Aluna do 6º ano do Ensino Fundamental, a estudante destacou que a experiência foi boa porque nunca havia visto igarapé “assim”. “Os que eu via sempre tinham lixo, pedaço de vidros, esgoto… E esse aqui é mais limpo, mais preservado e não tem o mau odor que os outros têm”, disse Thayla.

À CENARIUM, a estudante ainda citou o aquecimento global e como ele destrói a vida na Terra, além de aconselhar sobre a preservação do curso d’água. “Sempre guarde e espere achar um lixo para poder jogar porque isso prejudica muito vidas, peixes, e até a gente mesmo. Não é muito bom estar sempre poluindo porque isso prejudica demais as pessoas e os animais”, ressaltou.
Ameaça e salvação
Para o biólogo Arley Figueiredo, que acompanhou as crianças na excursão, a salvação das águas está na conscientização das novas gerações. “As crianças são cheias de energia e elas estão aptas a absorver o aprendizado que a gente tem a passar para elas. É muito importante que elas tenham essa consciência ambiental e façam o reconhecimento do igarapé que ainda é límpido em Manaus”, afirmou.

O biólogo destacou, no entanto, que a nascente sofre uma grave ameaça: as grandes construções que estão sendo levantadas no bairro Tarumã, às voltas do Água Branca.
“A especulação imobiliária aumentou o valor dos imóveis e assim tudo é vislumbrado para o Tarumã: mansões, grandes condomínios e habitações feitas ao redor do Água Branca. E para isso ser feito a mata ciliar, o fragmento vegetal, é retirado; fora o tratamento de esgoto desses condomínios, que a gente não sabe o que é feito. A gente está falando de dinheiro, e dinheiro, cara, quanto mais tem mais poder se adquire”, ressaltou.

Para ele, uma das soluções para manter a nascente segura seria cobrar das construtoras que as áreas desmatadas fossem reflorestadas, e que as estações de esgoto dos residenciais não despejassem dejetos nas águas.
“Esse igarapé é a vida. Toda água que a gente consome ela é extraída do Rio Negro, e esse igarapé é uma das nascentes do Rio Negro; ele [Água Branca] tem que ser preservado; e além de servir como fonte de água, também serve como local de reprodução de espécies de peixes como jatuarana, pacu, aracu, uma diversidade de fauna ictiológica”, completou.