Vitória de Biden pode acender ‘farol amarelo’ no Polo Industrial de Manaus

O novo presidente dos EUA em recente pronunciamento avisou que tem outra visão de mundo para as relações políticas-ambientais dos norte-americanos com o planeta (Reprodução/Agência Reuters)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Localizado no Brasil setentrional, o Polo Industrial de Manaus (PIM) é um parque industrial que concentra centenas de empresas multinacionais, onde dezenas delas são de origem norte-americana. A julgar pelo posicionamento do novo presidente dos EUA, Joe Biden, esse capital pode ser usado como fator de pressão ambiental.

Para o deputado estadual e economista Serafim Correa, um especialista quando o assunto é Zona Franca de Manaus (ZFM), a eleição de Biden tem um simbolismo que reforça o equívoco que foi eleger Trump no passado. “Um alívio para o mundo. Uma vitória da democracia que afastou um desequilibrado que muito prejudicou a humanidade”, declarou.

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Para o economista, a possibilidade de usar o PIM como válvula de pressão não é algo crível, o que não quer dizer que Biden irá tolerar Bolsonaro. “Não creio. Isso não funciona assim, mas é evidente que se o Brasil continuar com essa política ambiental equivocada sofrerá sanções econômicas. Ou seja, podem aplicar restrições comerciais e financeiras”, avaliou.

Cruzada econômica

Eleito novo presidente do EUA, Joe Biden declarou uma semana antes do final da eleição, que “reuniria o mundo para proteger a Amazônia”. A expressão foi um claro recado ao governo brasileiro que pratica política ambiental equivocada na visão de inúmeros líderes mundiais, entre eles o agora presidente dos Estados Unidos.

De acordo com a Agência Reuters, a controversa política ambiental brasileira ou a falta dela é apontada por diplomatas e especialistas em comércio exterior como algo que entrará fortemente em qualquer conversa sobre comércio com os norte-americanos em uma administração Biden”, destacou a agência.

“O democrata colocou as mudanças climáticas, o combate às emissões de carbono e a defesa da energia limpa no centro de seu plano de governo, em um movimento que foi capaz de atrair os mais jovens e um espectro de eleitores mais à esquerda dos eleitores norte-americanos”, detalhou sobre o resultado das eleições, a Reuters.

Necropolítica

O cientista político Marcelo Saráfico também acredita que o PIM ainda não entrará no jogo diplomático. “Não, não acredito que o capital das multinacionais originárias dos EUA, e instaladas no PIM, possa ser usado para fazer pressão sobre o governo brasileiro para que modifique sua política ambiental. É mais provável que a pressão ocorra pela via de dispositivos internacionais de regulação ambiental e de comercial”, apontou.

Para ele, a via de pressão terá outra direção na economia brasileira. “Isso significa que, de algum modo, os interesses dos setores madeireiro, minerador e agropecuário passem a experimentar constrangimentos para suas exportações. Isso não significa, de imediato, que o governo brasileiro alterará sua necropolítica para a Amazônia”, lamentou.

Segundo ele, a sociedade norte-americana tende a se envolver. “Mas pode significar uma retomada, nos EUA, do movimento transnacional de defesa do ambiente e dos povos originários. Diante disso, o governo brasileiro enfrentará o desafio de ajustar as sandices ideológicas de ministérios como os do Meio Ambiente e das Relações Exteriores”, observou.

De acordo com Seráfico, esse ajuste se dará em face da nova ordem advinda das urnas. “Será um contexto em que o negacionismo e as fake news não somem, mas perdem parte da força que tinham, pois um de seus mais poderosos difusores sairá dessa plataforma excepcional de comunicação que é o posto de presidente da república dos EUA”, finalizou.

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