Viúva de Bruno Pereira cobra retratação do governo federal por morte de indigenista

Bruno Pereira e a esposa, Beatriz Matos. (Arquivo pessoal)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – Viúva do servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Pereira, a antropóloga Beatriz Matos, afirmou nesta quinta-feira, 14, que a família do indigenista não recebeu nenhum apoio ou ao menos condolências do governo federal, e espera uma retratação da parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), Hamilton Mourão e do presidente da fundação, Marcelo Xavier.

“A família não recebeu uma palavra de condolência. No funeral do Bruno tinha representante do governo municipal, do estadual, não tinha do governo federal. Com exceção de vocês, senadores, os deputados na comissão da Câmara, a gente não teve nenhum apoio”, desabafou a viúva.

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A declaração foi feita durante a quarta reunião da comissão temporária externa do Senado que propõe investigar in loco, no prazo de 60 dias, as providências adotadas diante do desaparecimento do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”, e de Bruno Pereira.

Beatriz lembrou que o indigenista era considerado um funcionário público dedicado e comprometido com o trabalho, e que Xavier, como presidente da fundação, não deveria ter o acusado de estar no Vale do Javari “ilegalmente”.

“O presidente da Funai acusa o funcionário de estar fazendo alguma coisa, no lugar de tomar para si a investigação, a proteção, a indignação, o cuidado com a família, com os filhos. É indignante a falta de apoio que a gente teve da esfera federal desse País. Eu como família gostaria de uma retratação”, disse ainda a viúva.

A antropóloga destacou, ainda, a perda irreparável, para o indigenismo brasileiro, da morte de Bruno. “É irreparável nossa perda, é irreparável a perda do Bruno pro indigenismo brasileiro, para política de isolados. É uma figura que tinha 41 anos, ainda tinha pelo menos 30 anos de trabalho pela frente. É inestimável o que a gente perdeu”, acrescentou.

Plano emergencial

Beatriz Matos atua no Vale do Javari desde 2005 e é membra do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI). Ela e Bruno têm dois filhos, de 2 e 3 anos. A antropóloga cobrou também um plano emergencial de proteção aos povos indígenas e seus territórios na região do Alto Solimões, no Amazonas.

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“A gente tem mais de um mês do acontecimento e não tem ainda a execução de um plano emergencial para segurança do Vale do Javari. Os funcionários da Funai estão desprotegidos, o movimento indígena está desprotegido, os próprios indígenas estão desprotegidos”, disse ela.

“Por ter feio esse trabalho que Bruno e Dom foram assassinados. Deveria ser política pública e não fonte de ameaça”, concluiu.

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