‘Vivia pela minha filha e espero Justiça’, diz pai de criança morta com tiro em Manaus

João Rocha, pai de Yasmim segue sem entender real motivo da morte da filha (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

MANAUS – Yasmim Vitória Garcia da Rocha, 3 anos, morreu após ser atingida por um tiro acidental feito pelo padrasto, Roberto Siqueira Júnior, 19 anos. A tragédia aconteceu na segunda-feira, 20, em uma chácara localizada bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus. 

João Garcia, 24 anos, pai da pequena Yasmim falou com a REVISTA CENARIUM, nesta quarta-feira, 22, após enterrar a filha. Muito abalado e sem dormir desde a morte da menina, João afirmou que Yasmim morava com ele e sua família, pois a mãe da criança não tinha condições de sustentá-la. Segundo ele, desde a separação do casal, a filha nunca havia passado um fim de semana com a mãe.

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Familiares e amigos pedem justiça pela morte prematura da menina Yasmim Garcia. (Ricardo Oliveira)

Aparentemente emocionado e consternado, João Rocha, disse. “Desculpa, minha filha era uma criança tão inteligente e sorridente. Ela era a minha razão de viver, minha luz. Fazia tudo por ela. A Yasmim não gostava de ver ninguém triste”. Neste momento, com a voz embargada e com lágrimas escorrendo no rosto — o pai da pequena Yasmim faz uma pausa e volta a falar com nossa equipe — “acabei de enterrar minha princesinha. Minha única filha. Acordava todos os dias com o sorriso dela dizendo, ‘te amo papai’. E agora, como será?”, salienta João Garcia.

Suspeitas

Questionado sobre o que ele espera a partir de agora, João Garcia é enfático. “Minha irmã está aqui de prova. Eu vivia pela minha filha. Só quero justiça e espero que ela seja feita. Não vou descansar até que morte da minha filhinha não fique impune”, desabafa, o pai de Yasmim, agradecendo a nossa equipe pelo carinho de como o abordou na porta do Cemitério Tarumã, onde a criança foi enterrada, na manhã desta quarta-feira. 

João Garcia afirmou ainda que Yasmim falava para ele que o padrasto não tinha paciência e que às vezes, era muito agressivo com ela. Segundo João, por esse motivo, desde que a mãe da criança, Emily Feitosa da Rocha, se envolveu com Roberto Júnior, a criança via a mãe apenas para passar o dia, nunca para dormir.

“No único dia que autorizei minha filha passar o fim de semana com a mãe, porque ela pediu: ‘papai, estou com saudades da mamãe e quero ficar e dormir com ela’, aconteceu essa tragédia. Minha filha foi passar o fim de semana com a mãe e a encontrei sem vida no hospital”, finaliza João.

Familiares protestam em maio ao funeral da pequena Yasmim. (Ricardo Oliveira / Revista Cenarium)

A dor da família

Quando nossa equipe chegou à porta do Cemitério Parque Tarumã, Zona Oeste da cidade, por volta das 11 horas, familiares e amigos aguardavam do lado de fora bastante emocionados e comovidos com a tragédia. Entre eles, estava Gilcélia Feitosa da Rocha, 36 anos, avó materna de Yasmim. Em decorrência da pandemia do novo Coronavírus, a organização do Cemitério só autoriza a entrada de cinco pessoas da família durante o enterro.

Aparentemente abalada e muito triste Gilcélia Rocha falou com a nossa equipe a seguinte história:

“Desde a primeira vez que vi o Roberto, meu coração fechou. Coisas de mãe, sabe moça. Não sabia do relacionamento da minha filha com ele. Mas como mãe é a última a saber, tive de aceitar. Ele não trabalhava, não era futuro para minha filha. Disse diversas vezes para ele procurar um emprego, já que minha filha era mãe de uma criança pequena e, estava grávida novamente. Desta vez, dele. Mas ele não levava a sério o que eu falava”, disse a avó materna de Yasmim.

Gilcélia afirmou também que vez ou outra, Yasmim dizia para ela que Roberto era muito agressivo e que havia dito para Emily que não gostava dele. “Ele era obcecado pela Emily, tinha ciúmes da criança com a mãe. Quando ele [Roberto] estava com minha filha, não gostava que a Yasmim ficasse perto”, relatou.

Relatos

No Sábado, 18, Gilcélia assegurou que havia ligado para Roberto, informando que seu marido [preferiu não dizer o nome] havia conseguido um ‘bico’ para limpar um terreno e que havia chamado Roberto para ajudá-lo. Segundo ela, jamais imaginaria que naquele fim de semana, sua neta seria assassinada.

“Meu marido conseguiu um bico e sugeri pra ele chamar o Roberto para ajudá-lo, pois ele está desempregado e vai ser pai e precisava ajudar minha filha com a criança. O Roberto passou o fim de semana lá em casa e a Yasmim também. Na segunda, o Roberto viu a espingarda, meu marido falou para ele ter cuidado porque a arma estava carregada, mas ele continuou brincando com a arma. Eu estava na rua fazendo umas compras, quando meu marido ligou. Ele disse que havia ouvido um tiro e quando chegou para ver, a neta estava baleada. Fiquei desesperada, larguei tudo e saí correndo para a UPA, mas infelizmente, não pude ver mais minha neta com vida”, pontua Gilcélia.

Gilcélia destacou ainda que Emily, gravida de cinco meses, não compareceu ao enterro da filha porque estava internada com problemas de saúde e por está muito abalada com a morte de Yasmim.

Entenda o caso

No sábado, 18, a pequena Yasmim havia sido deixada pelo pai para passar o fim de semana com a mãe, na casa da avó materna, localizada na rua Sabiá, 203, Campos Sales, Zona Oeste de Manaus.

Segundo a avó da criança, que havia saído para fazer umas compras, a menina estava sob a guarda da mãe, no momento do disparo. Na companhia delas estava uma amiga de Emily, Yasmim e o Roberto Siqueira Júnior.

De acordo com informações da polícia, a menina foi baleada por volta das 14h30 desta segunda-feira, 20, e em seguida levada pela avó materna até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales. Na sequência, Yasmim foi transferida para o Hospital e Pronto-Socorro da Criança, no bairro Compensa, também na Zona Oeste, onde não resistiu ao ferimento e morreu por volta das 19h. 

Policiais da 20ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom) foram acionados e se deslocaram até o sítio onde ocorreu o disparo, que atingiu a menina. No local, eles apreenderam a arma, mas não encontraram o padrasto da criança. O jovem foi localizado na casa onde mora, na comunidade Jesus Me Deus, Zona Norte da capital, onde ele se entregou.  

Inicialmente, o suspeito foi levado para a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) e, depois, encaminhado à Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), onde o caso está sendo investigado. 

Diligências

De acordo com Marília Campello, delegada da DEHS, responsável pelo caso, o resultado da custódia saiu nesta terça-feira, 22. Segundo ela, ainda não se sabe a determinação do Juiz sobre a custódia. Mas, provavelmente Roberto foi encaminhado para a penitenciária.

“No inquérito, Roberto estava manuseando a arma que disparou acidentalmente. Mas, não há como analisar a intenção dele, somente com base nas circunstâncias”, relatou a delegada.

“O inquérito apenas começou com o flagrante, mas ainda não finalizamos. Ao que tudo indica, ele estava manuseando a arma e o tiro saiu e atingiu fatalmente a criança, é isso que temos até o momento. Não é que ele pegou a arma para matar a criança”, finaliza.

A delegada afirmou também que algumas testemunhas precisam ser ouvidas, pois foram citadas no inquérito. E, que para a conclusão do inquérito pode levar até dez dias a partir do dia da prisão de Roberto Junior.

 

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