Vozes do Pará refletem sobre desafios e urgência em preservar a Amazônia
05 de setembro de 2024

Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Comemorado no dia 5 de setembro, o Dia da Amazônia destaca um dos mais preciosos patrimônios naturais da humanidade e a maior reserva natural do planeta. Com sete milhões de quilômetros quadrados, dos quais cinco milhões e meio são de floresta, o bioma é essencial para o equilíbrio climático global e a preservação dos recursos hídricos.
Em celebração à data, a CENARIUM reuniu vozes importantes do Pará para refletir sobre os cuidados necessários com a Amazônia: a coordenadora da Associação Indígena Pariri, do povo Munduruku, Alessandra Korap; o professor de origem quilombola Aiala Colares; e a bióloga e doutora em Ecologia Aplicada, professora Vania Neu, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).

Alessandra Korap: ‘Não temos como comemorar o Dia da Amazônia’
A liderança indígena do povo Munduruku Alessandra Korap afirma que o Dia da Amazônia não é motivo de comemoração, mas de alerta. “Para nós, o Dia da Amazônia somos nós mesmos: povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas e outros povos tradicionais que vivem da roça, da pesca, da caça, das sementes e raízes. Mas estamos vivendo um caos com queimadas, garimpo, desmatamento e mineração”, lamenta.
Korap destaca como a destruição ambiental impacta no cotidiano dos povos da floresta, alterando o clima e dificultando práticas culturais e de subsistência. “Não há como comemorar enquanto a Amazônia queima e seca. Muitos enxergam a floresta apenas como fonte de lucro, ignorando as necessidades dos povos que verdadeiramente cuidam dela”, critica.

Aiala Colares: ‘A Amazônia também é quilombola’
O professor Aiala Colares reforça a presença e a relevância das comunidades quilombolas na Amazônia, muitas vezes invisibilizadas nas discussões sobre o bioma. “Não estamos falando apenas de populações indígenas e ribeirinhas. Os territórios quilombolas, especialmente no Pará e Maranhão, são fundamentais para a conservação da floresta”, afirma.
Segundo Colares, a relação dos quilombolas com a floresta é profunda, pois dela extraem os recursos que garantem a sobrevivência desse povos. “Os quilombolas têm um modo de vida baseado no extrativismo sustentável, que respeita e preserva a natureza”, ressalta.

O professor também destaca o papel do conhecimento ancestral na formulação de modelos de desenvolvimento sustentável. “Antes da bioeconomia, os povos da floresta já praticavam atividades sustentáveis. O saber tradicional é um pilar essencial para a preservação e para a construção de políticas públicas”, pontua.
Entre os maiores desafios enfrentados pelas comunidades quilombolas, ele aponta a questão fundiária. “A falta de regularização das terras expõe as comunidades a invasões e grilagem. Proteger esses territórios é vital não só para os quilombolas, mas para toda a Amazônia”, diz Aiala Colares.
Vania Neu: A urgência da conservação da Amazônia
A bióloga Vania Neu, da Ufra, alerta para a urgência da conservação da Amazônia diante das agressões que o bioma sofre diariamente. “A Amazônia é crucial por seus serviços ecossistêmicos e ambientais. Mas, com o avanço das queimadas, do garimpo e do desmatamento, a floresta está sendo degradada a uma velocidade alarmante”.
Neu chama a atenção para a responsabilidade de cada um na preservação do bioma. “Vivemos um momento difícil, com seca intensa e insegurança hídrica que afeta as populações tradicionais. É preciso que cada um reflita sobre o que está fazendo para conservar esse sistema único, essencial para a continuidade da vida no planeta”, alerta.
Um apelo à ação coletiva
As reflexões de Alessandra Korap, Aiala Colares e Vania Neu convergem em um ponto: a preservação da Amazônia é uma responsabilidade coletiva e urgente. Segundo eles, o Dia da Amazônia deve servir não só para celebrar, mas para impulsionar ações concretas de proteção ao bioma e aos povos que nele habitam, garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações.