‘Zona Franca 2.0’: Paulo Guedes quer ‘Selva do Silício’ para atrair empresas para Amazônia

O ministro da Economia, Paulo Guedes defendeu a isenção para empresas de tecnologia, mesmo com a existência da Zona Franca (Marcello Casal Jr/Agência Brasl)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Mesmo com a existência da Zona Franca de Manaus (ZFM) — parque industrial considerado o ‘corpo’ da economia do Amazonas — , o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao participar de um painel paralelo à 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na sexta-feira, 5, prometeu criar o que chamou de “Selva do Silício” na capital amazonense, referindo-se ao Vale do Silício, região nos Estados Unidos que concentra empresas, com domínio mundial, na área de tecnologia.

“Imagine, não só o turismo, mas ser um polo, a capital mundial, realmente, dos seminários executivos sobre economia verde, digital, sobre carro elétrico. Todos que quiserem se instalar lá (na Amazônia). É a selva do silício, por exemplo. Tem o Vale do Silício e nós vamos fazer a Selva do Silício”, declarou o ministro, que estava acompanhado do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.

Na videoconferência, Paulo Guedes defendeu a isenção de impostos, por 20 anos, para que empresas de tecnologia, como Tesla, Amazon e Google se instalem na Amazônia. O ministro disse ainda que é preciso transformar a “vocação” de Manaus e entorno, para que a região se torne a capital mundial da economia verde. Com isso, o governo deve buscar atrair empresas de tecnologia para iniciar campanhas que visem promover o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental.

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Discurso repetitivo

A fala de Guedes provocou debate entre especialistas, políticos e internautas. O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, declarou à CENARIUM, neste sábado, 6, que mesmo com o governo federal a caminho do quarto ano de mandato, nada fez para gerar oportunidade por meio da biodiversidade amazônica e lembrou, ainda, da proposta, de 2019, do ministro Paulo Guedes, em transformar Manaus na capital mundial da biodiversidade.

“Todos ouvimos, do ministro da economia, proposta semelhante a esta em sua primeira visita à Manaus, em agosto de 2019, já como responsável pela economia. Vamos entrar no último ano do governo e nada foi feito para gerar oportunidades a partir da biodiversidade amazônica. Não discutimos suas boas intenções. Entretanto, o que nós sentimos, na gestão da economia, foram constantes mexidas na política fiscal, com danos efetivos na rotina econômica”, declarou o vice-presidente da Fieam.

Para Nelson Azevedo, mais do que boas intenções, Manaus precisa de segurança jurídica e investimentos em infraestrutura competitiva. “Temos gerado receita mais do que suficiente para tanto. Está faltando interlocução construtiva para avançar na geração de empregos e oportunidades para a região e para o País”, destacou.

Repercussão

Nas redes sociais, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), citou propostas não entregues pelo ministro da Economia do governo Bolsonaro e defendeu a permanência da Zona Franca de Manaus e investimento em bioeconomia.

“Para COP26, Guedes fala em “Selva do Silício”. Não criou uma linha de crédito e nem criou um incentivo para bioeconomia. Não investiu um real em pesquisa aplicada na área. A ZFM deve ser protegida e os investimentos em bioeconomia não podem ser só retórica oportunista”, publicou o deputado, no Twitter.

O procurador do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Loula, afirmou também que o governo Bolsonaro está totalmente perdido e sem realizações, e que não consegue entregar obras simples e, seguramente, não entregará a “Selva do Silício”.

“Por absoluta incompetência, o governo Bolsonaro não consegue entregar nem mesmo as coisas mais simples e, seguramente, não entregará a tal “Selva do Silício”. A verdade é que o governo Bolsonaro segue totalmente perdido e sem realizações”, declarou, no Facebook.

O diretor-presidente da Bemol, uma das maiores empresas do ramo varejista da região Norte, Denis Benchimol Minev, também chamou a atenção para a proposta do ministro da Economia e questionou, em publicação nas redes sociais, se Paulo Guedes não ouviu falar do Polo Industrial de Manaus (PIM).

“Será que ele já ouviu falar do Polo Industrial de Manaus? Alguém bem conectado poderia soprar para ele?”, escreveu Denis Minev, no Instagram, ao compartilhar uma notícia sobre a “Selva do Silício”.

‘Troca de nomes’

A isenção de impostos, uma das principais ‘propostas’ de Paulo Guedes, teria como objetivo despertar o interesse de empresas de todo o mundo para se instalar em Manaus. No entanto, o projeto de criar um novo ambiente para indústrias ganhou a atenção de internautas. Usuários da rede social Twitter afirmaram que a medida apenas trocaria o nome da ZFM para “Vale do Silício”.

“Bolsa Família = Auxílio Brasil. Zona Franca de Manaus = Selva do Silício. Esse governo é mestre em renomear o que já existe”, criticou uma pessoa, em uma publicação no Twitter.

Outros internautas também criticaram o ministro Paulo Guedes e relembraram de programas do governo Bolsonaro que substituíram iniciativas já existentes no Brasil, como o “Bolsa Família”, que foi substituído pelo “Auxílio Brasil”, e o “Minha Casa Minha Vida”, que foi trocado pelo “Casa Verde e Amarela”. Confira as publicações:

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