40 anos do movimento “Diretas Já!”: a dualidade do verde e do amarelo na democracia brasileira

Há exatos 40 anos, o Brasil vivenciava um dos momentos mais marcantes de sua história recente: o movimento “Diretas Já”. Milhões de brasileiros saíram às ruas, clamando por eleições diretas para presidente, em um período de regime militar. A luta pela redemocratização do país foi simbolizada por manifestações massivas, e as cores verde e amarelo emergiam como símbolos da esperança e do desejo por um futuro democrático.

Quatro décadas depois, o cenário político brasileiro presencia uma dualidade intrigante: de um lado, a memória vitoriosa das “Diretas Já”; de outro, os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, marcados por protestos que questionaram a legitimidade das instituições democráticas e pedia intervenção militar. Surpreendentemente, ambos os movimentos se vestiram de verde e amarelo, uma coincidência simbólica que merece reflexão.

O movimento “Diretas Já” representou uma convergência de forças democráticas em prol da participação popular na escolha do chefe do Executivo. O verde e o amarelo, então adotados como cores-símbolo, simbolizavam a luz no fim do túnel para um país que ansiava por se libertar das amarras autoritárias. Eram as cores da esperança, da unidade e da busca por um futuro democrático.

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Contrastando com essa memória histórica, os eventos de 8 de janeiro de 2023 revelaram um lado sombrio, com manifestações que ecoavam a nostalgia de tempos autoritários. Novamente, o verde e o amarelo nas camisas da seleção brasileira de futebol se faziam presentes, mas agora associado a uma narrativa que questionava as instituições democráticas e, ironicamente, clamava por uma volta a um passado sombrio e violento.

A dualidade do verde e do amarelo nesses dois momentos simboliza a complexidade da democracia brasileira. Se por um lado, o “Diretas Já” representou a força do povo em busca de um regime democrático, os eventos de janeiro de 2023 indicam que a estabilidade democrática não é um dado adquirido, mas sim uma construção contínua no seio da nossa sociedade.

O verde e o amarelo, nesse contexto, podem ser interpretados como um lembrete de que as cores da democracia podem variar conforme a narrativa que a sociedade adota. Enquanto o verde e o amarelo das “Diretas Já” representavam a busca pela luz da liberdade, as mesmas cores nos atos de janeiro de 2023 evocavam a volta do arbítrio e a supressão do estado democrático de direito.

Ao analisar esses dois momentos, é crucial refletir sobre a importância de preservar os valores democráticos conquistados. As cores verde e amarelo, símbolos de união e esperança, devem ser resgatadas em sua essência positiva, para que não seja cooptada por forças que buscam minar a democracia.

Assim, ao celebrar os 40 anos do movimento “Diretas Já”, é imperativo reconhecer que a trajetória democrática do Brasil é marcada por desafios constantes. O verde e o amarelo, longe de serem apenas duas cores, carregam consigo a responsabilidade de representar os anseios de uma sociedade que, mais do que nunca, precisa se unir em prol da preservação e fortalecimento da democracia. O contraste entre o verde e amarelo de ontem e de hoje destaca a necessidade de uma reflexão profunda sobre os rumos que o país deseja trilhar em sua jornada democrática.

*Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues é jornalista, escritor, professor do curso de Jornalismo da Ufam, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).

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(*)Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues – jornalistas, escritor, professor do Curso de Jornalismo da UFAM, mestre e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e líder do Grupo de Pesquis em Comunicação, Cultura e Amazônia (Trokano).

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