A 500 dias da COP30, Belém tem desafios além da infraestutura

Vista aérea da orla de Belém (Reprodução/Agência Pará)
Raisa de Araújo – Da Cenarium

BELÉM (PA) – Nesta sexta-feira, 28, Belém do Pará começa uma contagem regressiva de 500 dias para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), prevista para novembro de 2025. Entre orçamentos milionários para obras de estruturação da cidade e grande preocupação sobre a infraestrutura da capital paraense, ativistas ambientais têm uma preocupação maior: o rumo das negociações sobre financiamento que a COP29, no Azerbaijão, vai tomar, e que podem definir as revisões de metas da conferência no Brasil. 

A COP tem dois grandes momentos: um no final do ano, que é a conversa entre os países, onde os negociadores se encontram, geralmente representados por ministérios e diplomatas de cada País e, às vezes, com a presença de presidentes ou chefes de Estado; e outro, no meio do ano, chamado de pré-COP que acontece na Alemanha, em Bonn. 

A mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e gerente de políticas públicas da ONG Proteção Animal Mundial, Natália Figueiredo, afirmou à CENARIUM que as conversas sobre financiamento neste evento foram difíceis, não havendo progresso e sem nenhum acordo sobre financiamento climático ter sido fechado. Por esse motivo, as expectativas para o evento no Azerbaijão são altas e irão definir o rumo das discussões da COP30, no Brasil.  

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A mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e gerente de políticas públicas da ONG Proteção Animal Mundial, Natália Figueiredo (Divulgação)

“Em novembro, os países, incluindo o Azerbaijão, terão muitas questões a definir. Questões como o valor do financiamento, se será por meio de empréstimos ou não, ainda precisam ser resolvidas. Esse é um ponto importante quando falamos de clima, que envolve muitas camadas. A transição justa para o petróleo e a pecuária é um debate muito importante, mas que necessita de recursos financeiros para acontecer”, explicou Natália.  

COP na Amazônia

Considerada uma COP30 das revisões de metas ou revisão de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs), um grande desafio será avançar nos compromissos de redução das emissões dos Sistemas Alimentares, que inclui a agropecuária industrial e o intenso desmatamento dos biomas provocado pela atividade e que são responsáveis por um terço das emissões de gases de efeito estufa, perdendo apenas para o setor de energia. 

A meta do Brasil é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 48% até 2025, e em 53% até 2030, em relação às emissões de 2005. Assim, o Brasil se compromete com metas graduais mais robustas de redução de emissões com vistas a alcançar a emissão líquida zero em 2050.

Natália Figueiredo ressalta que a edição brasileira poderá ser uma oportunidade para o Brasil liderar pelo exemplo, especialmente na redução das emissões dos Sistemas Alimentares. Ela explica que a quantidade de terra destinada, atualmente, para a exploração de animais pela pecuária é mais do que suficiente para alimentar o mundo e que o melhor caminho é aderir aos sistemas agroflorestais com a regeneração ecológica, o que vai assegurar a soberania alimentar e proteger o clima. 

Vista aérea panorâmica de drone do território do Parque Indígena do Xingu e fazendas de soja na floresta amazônica em Mato Grosso (Reprodução/Paralaxis/Shutterstock)

“Hoje, quando a gente escolhe produzir alimento na dinâmica do que chamamos de pecuário industrial, colocando milhões de animais em sistemas de confinamento, sem acesso à luz, com uma alimentação super precária, com o objetivo de exportação e de alimentação humana, a gente não consegue dar conta da necessidade global de mudança da forma de produzir esse alimento. A gente, hoje, produz mais comida do que é preciso para a nossa sociedade global e, ao mesmo tempo, a gente vê milhões de pessoas passando fome. Então, tem um descompasso, uma contradição”, explica Natalia. 

Transição justa

Desde a COP23, em 2017, os Sistemas Alimentares têm ganhado espaço nas discussões climáticas, com muitos avanços, como a criação de grupos de trabalho sobre o tema e a Declaração de Sistemas Alimentares, que foi proposta durante a COP 28, que aconteceu em Dubai, em 2023, onde 160 países se comprometeram a integrar a agricultura na ação climática.

A principal defesa da ONG e de outros grupos ativistas pelo clima, portanto, é uma transição justa para sistemas alimentares e sustentáveis, mas para isso, é preciso de dinheiro, por isso as negociações sobre financiamento, no Azerbaijão, neste ano, são tão importantes para definir as discussões da COP 30, em Belém, em 2024. 

Leia mais: Ministro afirma que visitantes não devem esperar COP30 como se fosse em NY
Editado por Adrisa De Góes
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