A ‘dança’ dos bolsonaristas no Amazonas para as eleições de 2024

Na frente, Jair Bolsonaro. Atrás, o acampamento de apoiadores do ex-presidente em frente ao CMA, em Manaus. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium e Presidência da República)
Ademir Ramos – Especial para Revista Cenarium**

A questão em pauta é recorrente nos debates alocados nas redes sociais, focados em analisar e compreender a conjuntura política do Amazonas quanto à relação de poder referente ao controle do estado, atiçado pelo bolsonarismo que se faz presente nas manifestações políticas eleitorais em Manaus, chancelando determinadas candidaturas para o parlamento estadual, federal e, em atenção, ao próprio governo do estado, é o caso do Wilson Lima, eleito em 2018 e reeleito em 2022 para o governo do Amazonas no mesmo palanque do candidato Bolsonaro, como expressão conservadora dos partidos de direita.

O movimento bolsonarista é uma centelha política resultante do antipetismo, capitaneado pelas forças políticas de direita sob a liderança do então deputado federal, capitão Jair Messias Bolsonaro, eleito em 2018 para a presidência do Brasil e derrotado em 2022 pelo petista, Luiz Inácio Lula da Silva, quando pleiteava sua reeleição por mais quatro anos.

Com a volta de Lula à presidência da república e com a possibilidade de Jair Bolsonaro ser condenado na justiça eleitoral e ter seus direitos políticos cassados por oito anos, o movimento bolsonarista passa por um rearranjo político colocando-se na aba de determinado candidato seja o Bolsonaro ou quem sabe um outro emergente do bloco conservador da extrema direita assentado nas pauta dos costumes, do nacionalismo militar, dos valores religiosos neopentecostais, do agronegócio predador e da devastação da Amazônia sob a lógica da acumulação do capital promotora do saque e da violação dos direitos fundamentais das comunidades tradicionais e dos povos originários.

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Estas afirmações podem ser conferidas no curso das ações das políticas bolsonaristas. Significa dizer que o movimento tem um caráter populista identificado com a direita conservadora de perfil ideológico marcado pela prática antipetista, que por muitas vezes é projetada como forma de combate ao comunismo encarnado na figura de Lula e dos partidos de esquerda no Brasil.

O mantra bolsonarista teve grande aceitação junto aos cristãos neopentecostais com aval dos pastores e demais agentes como parte de uma rede de domínio e controle de lideranças centradas na pátria, família e Deus acima de tudo. A demonização da política fez do Bolsonaro um mito redentor tal como a prática do populismo messiânico que viria para salvar a todos do comunismo e do fogo do inferno emanado de um governo lulista violando a tradição, família, propriedade e o culto dos altares das igrejas redentoras do movimento bolsonarista.

Bolsonaro venceu as eleições e junto com ele outros atores se firmaram na política, principalmente, no Amazonas. Para reeleição, em 2022, com a presença do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, o cenário mudou, não só pela presença do Lula, mas, pelos desmandos da política bolsonarista marcada pelo festival de besteira que assolou o país, resultando no abandono e desalento social registrado, especificamente, na pandemia da Covid-19, com ampla ressonância em Manaus e por todo o Amazonas contabilizado na morte dos pacientes por falta de oxigênio.

Lula ganha a eleição no Amazonas, mas, Bolsonaro se fez forte em Manaus, o que muito ajudou a reeleição do governador Wilson Lima. No momento, os analistas começam a desenhar determinados cenários para compreender o presente e o futuro deste fenômeno político eleitoral em vista às eleições municipais (2024), com extensão ao senado federal, focado nas duas cadeiras em disputas, como também, ao governo do estado (2026). As interrogações são as mais diversas, contudo, a certeza que temos é que passa pela prefeitura de Manaus as eleições de 2026 porque a capital do estado é o maior reduto eleitoral do Amazonas.

Por essas razões os atores em disputas estão sapateando no compasso de “dois pra lá, dois pra cá” porque ainda não se tem indicadores qualificados para ajuizar a densidade da força do movimento bolsonarista em Manaus e o que poder ser feito para retardar qualquer posicionamento de natureza contrário a esta facção política será feita. Da parte do poder executivo a melhor resposta são as obras de impacto junto à população e em atenção às demandas imediatas tanto na capital do estado como também nos demais municípios do interior do estado.

O fato é que o bolsorismo de ontem não é o mesmo de hoje. Ademais, a história nos ensina também que fora do poder qualquer liderança pode se esvair em brumas e devaneios sem projeto e programa de sustentação. Assim sendo, é importante que estejamos atentos as articulações políticas nacional para melhor compreender e avaliar o desempenho das candidaturas local, considerando, sobretudo, o poderio financeiro e a qualidade dos atores em disputas agregados a uma determinada causa popular capaz de mobilizar a vontade do eleitor fazendo crer que o trabalho, emprego e renda resultam de um compromisso em defesa da Zona Franca de Manaus, da qualidade das políticas públicas com segurança, saúde, educação, moradia e justiça social na capital e demais municípios do nosso Amazonas.

(*) Ademir Ramos é professor, antropólogo, coordenador do Projeto Jaraqui e do Núcleo de Cultura Política do Amazonas, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). E-mail: [email protected]
(*) Este conteúdo é de responsabilidade do autor.
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