A era do terrorismo: quem está preparado?

Aliás, esse embuste assemelha-se às particularidades ocultas dentro do espírito do 11 de Setembro, onde fenece uma ficção hollywoodiana de que os EUA são o País mais bem arranjado do planeta – quiçá do Universo –, em beligerância e inteligência preventiva, tendo – ao contrário do que pregam – treinado e acolhido aqueles que seriam os seus algozes e destruidores da “fabulística” certeza de sua intransponibilidade e invulnerabilidade, e que marcaram, para a eternidade, com sangue e com assombro a alma do seu povo e do mundo inteiro.

Em tempos desditosos de duas guerras ‘solenes’ em andamento na Terra (e já há rumores sólidos de outra se desenhando na África – Níger), os do povo se revelam extraordinários especialistas em estratégias de batalhas e em minudências políticas internacionais. Há especialistas por todos os lados, em bares, em hordas, nas ruas, becos, armazéns, mercearias, hospitais, faculdades, escolas, lares, jornais, prostíbulos, palácios, igrejas, academias, nas rádios, nas TVs, nos podcasts, nos subúrbios, e em quase todos os quadrantes das cidades onde haja uma mente ávida por boatos e ansiosa por reproduzir retóricas confusas e cheias de parcialidade e absurdos. Cada especialista se manifesta com o fragor de suas teorias, algumas plagiadas, outras decoradas, muitas totalmente sem sentido algum e bem longe da coerência. O mais hilário é a pseudopropriedade com que falam a respeito do tema.

Sobre as atrocidades devastadoras e “inesperadas” desse mais novo conflito entre Israel (traiçoeiramente atacado) e a Palestina (neste ato representada formal e publicamente pelos terroristas do Hamas), os doutos peritos em guerra e em direito alienígena (estrangeiro) proclamam os mais diversos e pilhéricos impropérios concernentes ao panorama histórico, teológico e político da referida batalha, cujo armistício ou cessar-fogo parece distante ou impossível. O tanto que eles são inimigos, uma guerra que nem essa jamais poderia ser chamada de inesperada, assim como não devem mais serem inesperados os ataques terroristas às escolas pelo mundo.

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Vejo bastante, por exemplo, nos “feeds”, “teólogos” e “sacerdotes” vociferando cheios de bazófia que, além de ser “o fim dos tempos”, esses “sinais” representam o “inequívoco cumprimento” do que pontifica a Bíblia Sagrada. “Homens de Deus” – que nem o escatológico e risível Pr. Silas Malafaia – afirmando que, se o Hamas atirar uma vez, Israel deve atirar cem mil vezes, e que o revide jamais deve ser executado na mesma proporção do ataque. Para quem apregoa o amor cristão, e se sustenta de modo nababesco disso tudo, não parece haver comiseração naquele perdulário coração, que se idiotiza em seu peito a cada abertura de boca. Parlamentares borrachos que nem Magno Malta, pervertendo a razão e a episteme. A alienação é nefanda, e o fanatismo é diabólico.

Outros especialistas, do tipo aventureiro, do tipo político, do  tipo acadêmico, do tipo filósofo, do tipo ideologista, do tipo profano, do tipo agnóstico, do tipo ateu, do tipo pernóstico, do tipo poeta, do tipo apedeuto, do tipo sei lá o quê!, advogam que a Palestina é originalmente uma nação (desestatizada) onde se formam – desde “piquititinhos” – terroristas bárbaros, crudelíssimos, mártires, desses que não carecem de aposentadoria para sustentar os seus, basta que se explodam, literalmente, para que ganhem o “paraíso”, a “imortalidade”, a heroicidade e o pensionamento vitalício para as suas famílias. 

Também já ouvi desajuizados e “despombalizados” – desses que só fazem um “o” quando se sentam na areia – afirmando, categoricamente, que o exército israelense é o mais bem preparado do mundo. Há dúvidas perniciosas quanto a isso. Aliás, esse embuste assemelha-se às particularidades ocultas dentro do espírito do 11 de Setembro, onde fenece uma ficção hollywoodiana de que os EUA são o País mais bem arranjado do planeta – quiçá do Universo –, em beligerância e inteligência preventiva, tendo – ao contrário do que pregam – treinado e acolhido aqueles que seriam os seus algozes e destruidores da “fabulística” certeza de sua intransponibilidade e invulnerabilidade, e que marcaram com sangue e com assombro, para a eternidade, a alma do seu povo e do mundo inteiro. A bem da verdade, ninguém está preparado, e o ufanismo é uma vitrine onde se guardam a mentira e a fantasia.

Eu mesmo não me atreveria a ser especialista sobre os aspectos desta guerra insana, porque o meu couro não é de aço, e não estaria disposto a tolerar pedradas, contudo, como um cidadão que se indigna com a covardia e com a desigual forma de lutar com honra, digo que, se pegassem um punhado de “líderes” dos dois territórios envolvidos nessa guerra – e nas demais –, aqueles que decidem pelos pobres de seus povos, sobre viver ou sobre morrer, e os colocassem dentro de um incinerador de mil graus, e junto deles pusessem também os mentores de países como China, Rússia, Síria, Egito, EUA, Inglaterra, Jordânia, Coreia do Norte e Irã, nem cinzas resultariam desses biltres, porque os seus restos se transformariam em meros espectros banidos da humanidade. Aliás, a despeito de banimento definitivo, não seria impróprio também que se extinguissem de vez (com pena capital) todos os membros e apoiadores do Hamas, Hezbollah, Estado Islâmico, Boko Haram, Al Qaeda, Neonazistas, Farc, Talibã, Ira, e todos os que simpatizam com toda essa desgraça.

Fato é que, quanto ao quesito malignidade, apura-se no seio eufórico do povo, que uma parte imputa ao Estado de Israel o caráter de nação egocêntrica, prole forjada dos EUA e de seus asseclas, impiedosa no tratamento cotidiano cruel com os palestinos que por Tel Aviv perambulam, nas ruas e becos; imperialista usurpador de territórios, exclusivista e desprezador da fé alheia, autointitulado “separado e escolhido”, e que defenestra suas mulheres durante a menstruação, por elas estarem impuras. Crenças à parte, onde está o pé e a cabeça disso tudo?

Sobre a Palestina, incluindo (mormente) o Hamas, tantos outros dessa geração de coscuvilheiros, raciocinam sobre o peito da certeza de que se trata de um povo hediondo, aliado de súcias satânicas, adoradores do terror e da morte, idólatras de uma divindade perversa e malfazeja, vingadora e inexorável; aprisionadores, violadores e decapitadores de bebês presos em jaulas, estupradores de mulheres inimigas, refenizadores de inocentes, traiçoeiros que fomentam o pavor, profanadores da fé contrária à sua, perdidos em arenosas incertezas e sem perspectivas de soberania devido à sua reconhecida primitividade e demérito.

Se há verdades ou mentiras nesses diversificados pareceres populares, o fato é que nem tudo daí pode ser invencionice, muito menos o fato de os malditos do Hamas terem decepado as cabeças de 40 bebês puros e inocentes. Ante a isso, paradoxal, verossímil, indubitável e inegável é que ambos os povos têm componentes elementares extraordinariamente maravilhosos em suas histórias e em sua formação. Mas a história revela que muitos dos seus líderes – não raro – são designados pelas mãos dissipadoras do Íblis (o próprio diabo, como veem os mulçumanos) para a governança, e que acabam posicionando o seu próprio povo no front de batalhas malfadas e na mira inerrante da desgraça bélica e feroz dos homens beligerantes. Desejo força e paz para os pobres que estão bem no meio de um fogo que eles nunca acenderam, sobretudo, para os enlutados, cujos cheiros amáveis dos entes queridos eles jamais sentirão novamente. Maldito terrorismo! A bem da verdade, ninguém está preparado!

Paulo Queiroz é escritor, antropólogo, jornalista e professor universitário. Presidente da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos (Abeppa) e da Academia de Letras, Ciências e Culturas da Amazônia (Alcama).
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(*)Escritor, Antropólogo, Jornalista, Professor de Ciência Política, Antropologia Jurídica e Direito Constitucional.

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