‘A morte do Bruno foi a gota d’água’, dizem servidores da Funai em paralisação nacional
23 de junho de 2022
Saída do presidente da Funai e justiça por Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira foram reivindicadas. (Marcela Leiros/ Revista Cenarium)
Marcela Leiros e Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
BRASÍLIA E MANAUS — Servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e lideranças indígenas realizaram nesta quinta-feira, 23, uma paralisação nacional exigindo o fortalecimento do órgão, a demissão do presidente Marcelo Xavier, assim como justiça pelas mortes do servidor licenciado da instituição Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”.
Em frente à sede da Funai, em Brasília, funcionários da fundação questionaram sobre a política de insegurança e perseguições promovidas pela atual gestão do órgão aos servidores que atuam com proximidade aos povos indígenas. Os protestos ocorreram em outras regiões do Brasil, como em Manaus (AM).
Servidores da Funai e indígenas se unem por mais segurança no campo de trabalho (Marcela Leiros/Cenarium)
“O movimento, na verdade, foi a explosão de uma série de sentimentos que estamos tendo há algum tempo, mais acentuado nos últimos três anos, de limitações ao nosso trabalho, perseguição e assédio moral. A morte do Bruno foi a gota d’água. Era um de nós, poderia ser qualquer um de nós ali [no Vale do Javari, onde ocorreu a morte], porque a falta de condição é igual”, disse uma antropóloga, servidora da Funai, que preferiu não se identificar.
Servidores e indígenas se reuniram em frente à sede da Funai, em Brasília. (Marcela Leiros/ Revista Cenarium)
A greve foi deflagrada pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Federação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal e pela Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef).
Indígenas apoiam servidores da Funai, em Brasília. (Marcela Leiros/Revista Cenarium)
“Inicialmente, a gente tentou contato com o presidente da Funai, ele encaminhou uma comissão para falar com a gente. Apresentamos três demandas emergenciais, e saímos dela [da reunião] sem qualquer resposta”, disse outro servidor, que também preferiu não se identificar para evitar represálias.
Manifestantes pediram justiça pelas mortes de Dom Phillips e Bruno Araújo. (Marcela Leiros/Revista Cenarium)
Dossiê Funai
Um dossiê organizado pela Indigenistas Associados – Associação de Servidores da Funai (INA) e Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), resultado de três anos de monitoramento conjunto, com dados desde 2019, mostrou que sob o Governo Bolsonaro, a Funai implementa uma política “anti-indigenista”.
Em nove capítulos, são abordados como a Funai vem trabalhando contra a própria razão de sua existência, que é proteger e promover os direitos indígenas; o perfil geral da gestão presidencial do órgão, chamada “Nova Funai”; e normativas propostas pela “Nova Funai”, que facilitam o acesso de terceiros à posse e à exploração econômica das terras indígenas.
Em Manaus, servidores participam da paralisação nacional do órgão por melhorias nas condições de trabalho e justiça no caso do jornalista e indigenista. A mobilização foi organizada pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Amazonas (Sindsep-AM) e começou por volta das 9h, na capital amazonense, com uma reunião a portas fechadas e sem a participação da imprensa.
Em Manaus, protestos foram realizados, principalmente, por sindicalistas (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Em seguida, o grupo estendeu uma faixa em frente à sede da Funai, localizada na Avenida Maceió, bairro Nossa Senhora das Graças, pedindo ainda a exoneração do atual presidente da instituição, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier.
Segundo a secretária jurídica do Sindsep-AM, Geralda de Souza Oliveira, o ato contará ainda com palestras e rodas de conversas ao longo do dia, além de reuniões com universidades públicas para tratar sobre os direitos humanos e trabalhistas dos servidores e a luta por um plano de carreira.
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