‘A prioridade é usar todo o potencial do SUS’, declara Nísia Trindade, primeira mulher a comandar Ministério da Saúde

Nísia Trindade é a atual presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Reprodução/Fiocruz)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – Logo após ser anunciada nesta quinta-feira, 22, pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para comandar o Ministério da Saúde, Nísia Trindade defendeu o uso máximo de todo o potencial do Sistema Único de Saúde (SUS), essencial durante a pandemia de Covid-19 enfrentada pelo Brasil, nos últimos dois anos. Nísia é a primeira mulher a comandar o ministério e é atual presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A prioridade é usar todo o potencial do Sistema Único de Saúde (SUS), com os seus serviços próprios, a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem a 50% das internações do SUS, e também o setor privado para um grande esforço, no sentido de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos os encaminhamentos de prioridade para a regulação, dando transparência a esse processo”, afirmou a futura ministra que complementa:

À esquerda, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e à direita, a futura ministra da Saúde Nísia Trindade (Ricardo Stuckert/Reprodução)

“Esse já é um esforço que estamos trabalhando, e tem muitos elementos na transição para nos ajudar nesse sentido. Também pensamos em mutirões em áreas de vazios assistenciais; esse é o foco prioritário, como o próprio presidente Lula vem falando“, defendeu a futura ministra.

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Avanço

Para o epidemiologista da Fiocruz Jesem Orellana a indicação de Nísia Trindade ao Ministério da Saúde tem múltiplos significados. Representa a vitória da ciência, do Sistema Único de Saúde (SUS) e das suas dezenas de milhões de usuários, especialmente, dos mais vulneráveis. Por ser a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde, denota inédito avanço na luta contra o machismo estrutural que dominou o gerenciamento do Ministério da Saúde desde a sua criação.

No entanto, embora estejamos otimistas com a volta do funcionamento efetivo de tão importante pasta e com a urgente necessidade de recuperação da imagem do ministro de Estado da Saúde, no Brasil, precisamos lembrar que a situação da pasta é extremamente delicada, não apenas devido aos cortes de recursos financeiros e as desastrosas gestões dos últimos anos, como também pelo desafio que Nísia Trindade terá para conseguir cumprir seu mandato de forma efetiva e com o devido apoio do legislativo, judiciário, executivo, de trabalhadores da saúde, de representantes estratégicos da sociedade civil organizada e de demais gestores do SUS“, analisa Orellana.

Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz e futura ministra da Saúde (Reprodução/Internet)

Atuações

Como presidente da Fiocruz, Nísia Trindade liderou as ações da instituição no enfrentamento da pandemia, como a criação de um novo centro hospitalar no campus de Manguinhos; o aumento da capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; promoção de iniciativas junto a populações vulneráveis; criação do Observatório Covid-19 e da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica; e inauguração do Biobanco Covid-19 (BC19-Fiocruz).

Enquanto esteve à frente da instituição, a Fiocruz tornou-se referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas Américas, para o diagnóstico de Covid-19. A futura ministra também coordenou o acordo da Fiocruz de encomenda tecnológica. Dentre os feitos que marcam a trajetória de Nísia na instituição tem-se o trabalho interdisciplinar em acordos de cooperação internacional. Além disso, ela foi membro do grupo de trabalho de Plano de Ação Global da OMS (2018); do grupo consultivo da OMS para a implementação da Agenda 2030 (2019); entre outros.

Durante a pandemia de Covid-19, também participou de diversos fóruns de cooperação transnacional e copresidiu o Grupo Diretor de Recuperação Econômica, um dos grupos do Roteiro de Pesquisa da ONU para a Recuperação da Covid-19. Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na categoria Ciências Sociais e, em setembro de 2021, tornou-se membro independente do Conselho da Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), tendo recebido diversos prêmios ao longo dos últimos anos pelo reconhecimento de seu trabalho. 

Perfil

Nísia Trindade Lima é presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde 2017. Doutora em Sociologia (1997), mestre em Ciência Política (1989) pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp) e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj, 1980). Sua tese de doutorado, ‘Um Sertão Chamado Brasil’, conquistou o prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Sociologia, no Iuperj, e sua publicação encontra-se em 2ª edição.

Foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde. Participou da elaboração do Museu da Vida, premiado museu de ciência da Fiocruz. Na Editora Fiocruz (2006-2011), atuou na implementação da Rede SciELO Livros. Foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016), período em que coordenou as Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia na instituição e também a implantação de políticas de acesso aberto, com o objetivo de tornar disponível toda a produção científica da instituição.

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