AM tem aumento de casos de Covid-19 com Manaus vivendo quarta onda e ‘gripe silenciosa’, alertam especialistas

Especialistas alertam que a capital vive a quarta onda da pandemia e uma "gripe silenciosa" (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Amazonas voltou a ter um aumento significativo de casos de Covid-19. Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), o Estado tem registrado um crescimento na média diária de casos da doença, com números expressivos, principalmente, em Manaus. Além disso, especialistas alertam que a capital vive a quarta onda da pandemia e uma “gripe silenciosa”, com cada vez mais pacientes testando positivo para o vírus.

O cientista e epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, destacou que a quarta onda da pandemia já incide na capital amazonense e os casos do vírus devem se intensificar, principalmente, por conta de grandes eventos, como as festas tradicionais de São João e o Festival Folclórico de Parintins. Além disso, o especialista afirma que a tendência de aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), especialmente, por Covid-19, em Manaus, não é de hoje e, sim, de algumas semanas atrás.

“O fato de estarmos enxergando essa curva de aumento de casos graves na quarta onda comprova que já estávamos tendo milhares de casos na comunidade há mais tempo e os mesmos estavam simplesmente passando em branco nas estatísticas oficiais, o que caracteriza uma epidemia silenciosa ou ocultada, tal como vimos na virada de 2021 para 2022, quando subitamente as internações começaram a aumentar. A diferença, agora, em plena quarta onda, é que as autoridades não têm mais interesse em testagem em massa e voltam a centrar o foco, equivocadamente, no hospital, a partir de onde é impossível controlar a epidemia, pois, o espalhamento viral se dá na comunidade ou fora do hospital”, destacou.

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Alerta

Na quarta-feira, 29, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e a FVS-RCP emitiram um comunicado de risco alertando sobre o aumento na média diária de casos de Covid-19 no Estado. O documento alerta que o crescimento foi impulsionado por Manaus, cuja quantidade de casos passou de 18 para 103 casos novos por dia. No interior, o aumento na média diária foi de 8 para 20 casos diários. A capital do Estado tem 62% dos casos registrados nesses últimos dois meses.

Na última sexta-feira, 24, um boletim da FVS-RCP fez análise entre 10 e 23 de junho deste ano e mostrou que a média diária de casos de Covid-19, no Amazonas, havia passado de 21 para 70 no período de 14 dias. Em Manaus, a média diária havia subido de 12 para 55. No interior do Estado, por outro lado, o número tinha elevado de 9 para 15 casos. Ao todo, foram 732 novos casos confirmados no intervalo de tempo analisado, com uma morte pela doença registrada no dia 12 de junho.

“Este é um aumento esperado, dada a constante evolução do novo coronavírus, em especial, das mutações mais contagiosas (descendentes da variante Ômicron) e os amplos e precoces relaxamentos fomentados por autoridades sanitárias e pela população como um todo, além do enorme número de pessoas ainda sem vacina ou com o esquema incompleto, sobretudo, das doses de reforço, tão importantes em tempos de Ômicron. No entanto, esses números de casos novos devem estar amplamente subnotificados ou sem refletirem a real força da circulação viral no Estado do Amazonas”, frisou Jesem Orellana.

Para o médico infectologista Nelson Barbosa, os números acendem um alerta. À REVISTA CENARIUM, o profissional da saúde, que atuou na linha de frente na primeira e segunda onda da pandemia da Covid-19, no Amazonas, destaca que Estado precisa voltar a impor o uso obrigatório de máscaras de proteção para evitar que o cenário se torne preocupante.

“As autoridades de saúde têm que admitir que a pandemia não acabou, que o vírus continua circulando, que nós temos que voltar a usar máscaras para evitar que essa situação se torne preocupante e a gente possa viver tudo aquilo que vivemos: o lockdown e a falta de leitos em hospitais. Nós temos que nos antecipar e ficar em alerta, pois, tivemos a experiência da primeira e segunda onda”, destacou Barbosa.

O epidemiologista Jesem Orellana também defendeu à REVISTA CENARIUM que o Amazonas deveria ter imposto o uso obrigatório de máscaras em ambientes fechados, há semanas, como no transporte coletivo, shoppings centers e comércio de forma geral, além de escolas, universidades, feiras, mercados ou ambientes fechados com alto potencial de contágio. “Mais uma vez, o Amazonas dando maus exemplos na pandemia. De um lado, se antecipou para recomendar a suspensão do uso de máscaras em ambientes fechados, em 2022, e, de outro, retarda a retomada da recomendação do uso de máscaras em ambientes fechados, apesar da promessa do atual secretário de saúde. Isto comprova o insistente desinteresse do Estado do Amazonas no controle efetivo da epidemia, já que o padrão é o mesmo, atrasado, ineficaz e ancorado na certeza de impunidade”, lamentou Orellana.

Reflexos

Segundo a FVS-RCP, o aumento de casos não representou reflexos significativos em hospitalizações e óbitos, pois o número de pessoas internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com o vírus é baixo, sendo um dos menores índices de internações pela doença desde o início da pandemia. Na terça-feira, 28, a pasta registrou apenas três pacientes hospitalizados em UTI e na rede pública.

Para a diretora-presidente da FVS-RCP, esse número reduzido de casos graves da doença se dá pela vacinação contra a Covid-19. “É preciso que todos se mantenham alertas e não relaxem, porque é a vacina que proporciona o não agravamento dos casos”, afirmou Tatyana Amorim.

Número reduzido de casos graves da doença se dá pela vacinação contra a Covid-19, afirma a FVS (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

No último 9 de junho, o Boletim InfoGripe da Fiocruz apontou que os casos de Covid-19, no Brasil, corresponderam a 69% das ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), nas quatro últimas semanas antes da publicação da pesquisa. Segundo o documento, a tendência é que haja um aumento dos casos.

“Em nível nacional, observa-se cenário claro de crescimento no número de casos semanais de SRAG associados à Covid-19 em todas as faixas etárias da população adulta. Para as ocorrências de SRAG na população em geral, a estimativa mostra crescimento de 39,5% na média móvel de casos semanais na comparação entre a primeira e última semana de maio. Na população adulta, a partir de 18 anos, a estimativa é de que esse crescimento tenha sido de 88,7%”, informa trecho do estudo.

Na faixa etária de 0 a 4 anos, os casos seguem fundamentalmente associados ao Vírus Sincicial Respiratório (VSR), embora também se observe presença de Covid-19, rinovírus e metapneumovírus, segundo o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.

“É fundamental que a população retome certas medidas simples e eficazes como o uso de máscaras, especialmente, no transporte público, seja ele coletivo ou individual – tais como ônibus, trem, metrô, barcas, táxis e aplicativos. E quem ainda não tomou a dose de reforço da vacina de Covid-19, é preciso tomar. A vacinação é simplesmente fundamental”, alertou Marcelo Gomes.

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