Amazonas expõe ‘mundo dos insetos’ e manejo das águas em Brasília


Por: Ana Cláudia Leocádio

05 de novembro de 2024
Amazonas expõe ‘mundo dos insetos’ e manejo das águas em Brasília
Insetos expostos pelo Inpa (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

BRASÍLIA (DF) – O mundo dos insetos e os trabalhos ligados ao manejo da água na Amazônia são os destaques do Amazonas na 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que começou nesta terça-feira, 5, e termina no próximo domingo, 10, no Museu da República, no Centro de Brasília.

Neste ano, o tema do evento é “Biomas do Brasil: diversidade, saberes e tecnologias sociais” e reúne experiências de diversos órgãos institucionais, entre eles alguns ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MTCI). Entre o foco das discussões, segundo a pasta, está “o papel das tecnologias sociais na construção de projetos que possam responder aos desafios enfrentados nos biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, além do Sistema Costeiro-Marinho”.

A Região Norte decidiu reunir, no mesmo estande, três instituições integrantes do MTCI: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Instituto Mamirauá, localizados no Amazonas, e o Museu Goeldi, no Estado do Pará.

Área do evento em Brasília (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Para abordar projetos ligados ao manejo da água, os analistas de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Mamirauá, localizado no Médio Solimões, penduraram um pirarucu inflável de cinco metros no estande, para chamar atenção para a forma como ocorre o manejo do peixe na região. Além disso, está sendo exposto o trabalho da instituição durante a seca extrema, desde o ano passado, seja no salvamento dos botos no lago de Tefé, ou provendo água potável às populações ribeirinhas.

Os pesquisadores da área de Entomologia do Inpa decidiram levar uma parte da coleção de insetos para expor aos visitantes, o que tem atraído muitos estudantes ao estande, principalmente das escolas públicas. Insetos em forma de pelúcia, publicações de livros e uma armadilha para copa das árvores também estão em exposição. Os representantes do Museu Goeldi ainda não estavam presentes no estande durante a visita da CENARIUM, na manhã desta terça.

Importância dos insetos

O pesquisador da área de Entomologia do Inpa Alexandre Somavilla disse estar surpreso com a procura por informações porque, em 21 anos de realização desse evento, é a primeira vez que o instituto traz os insetos como tema. “A gente tenta fazer essa atividade de popularização e desmistificar os insetos. Mostrar para eles [estudantes] essa rica fauna amazônica que, para muitos deles que vivem aqui no Distrito Federal, no bioma Cerrado, é completamente diferente. Está sendo uma procura incrível”, comemorou.

Borboletas expostas pelo Inpa (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Somavilla ressalta a importância dos insetos para a vida no planeta, pois eles são dominantes na Terra. Somente espécies de besouros, disse ele, são mais de um milhão, o que requer mais pessoas para estudar, pesquisar esses seres vivos. “Então, a gente precisa de mais apoio, a gente precisa falar mais de insetos para que novos estudantes, novos cientistas surjam e se interessem por esse mundo dos insetos e com isso fazer com que a novos trabalhos sejam desenvolvidos”, declarou Somavilla.

Um dos besouros levados para expor em Brasília é o “Hércules”, considerado o mais forte do mundo, capaz de carregar até 800 vezes o seu peso, segundo o pesquisador. Outra peça importante à mostra é uma vespa capaz de imobilizar e matar uma aranha caranguejeira, considerada uma das mais perigosas.

Uma das grandes preocupações do pesquisador, agora, são as mudanças climáticas, como secas e queimadas, que afetam de forma drástica a vida desses seres vivos, porque reduzem as florestas, que são refúgio dos animais. “Com toda certeza, a gente tende a enfrentar cada vez mais um extermínio desses insetos. A gente tem que lembrar que sem insetos não tem vida”, afirmou o pesquisador.

Somavilha explica que os insetos são responsáveis por diversos serviços ecossistêmicos como, por exemplo, a polinização que as abelhas, as borboletas e os besouros realizam. “Sem polinização não temos alimento. As formigas e os cupins, as baratas são importantes na decomposição da matéria orgânica. Eles ficam lá trabalhando, são verdadeiros engenheiros do solo, sem eles também a gente vai ter acúmulo de matéria orgânica e não vai ter decomposição”, explicou.

Manejo das águas

O Instituto Mamirauá decidiu levar como tema para Brasília o que os conecta com a água e, além de pesquisas e publicações, apresenta o trabalho de manejo de pirarucu, principalmente pelo papel social que desempenha também na pesca da região.

A analista de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Mamirauá Bianca Darski explica que, além de um modelo inflável de sete metros com a frase “pirarucu só se for legal”, estão em exposição o projeto que leva água potável aos ribeirinhos da região no período da seca e a simulação da temperatura da água, que levou à mortandade de botos no Lago de Tefé, na estiagem de 2023.

“Foram 300 animais que a gente perdeu ano passado. Isso equivale a 10% da população de botos, boa parte deles boto vermelho. A água chegou a 41 graus no Lago de Tefé. Então se você quiser sentir o que significa 41 graus, a gente tem o banho-maria digital para colocar a mão e ver por que o animal morreu. Ele morreu de hipertermia, uma temperatura muito alta da água”, explicou Darski.

Experimento simula temperatura da água que levou mortandade de botos no Amazonas (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Na seca deste ano, considerada pior que a do ano passado, a analista informa que o instituto já distribuiu cinco mil kits de tratamento emergencial para tornar a água do rio potável, composto de sulfato de alumínio e hipoclorito de sódio.

Pirarucu aguarda prorrogação

No caso do manejo do pirarucu, por causa da grande estiagem deste ano, o período de despesca está atrasado e agora os manejadores aguardam a resposta do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para um pedido de prorrogação de prazo, para além do período de defeso, que começa em dezembro.

Segundo a analista de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Mamirauá Brenda Meireles, este ano, foram solicitadas mais de 100 mil cotas ao Ibama dentro de 70 grupos de manejadores, que é como são chamados os pescadores legalizados dentro dessa plataforma coordenada pelo instituto e fiscalizada pelo órgão ambiental federal.

Tradicionalmente, o período de despesca vai de agosto a novembro, mas desde o ano passado, não foi possível cumprir o cronograma porque os rios ficaram muito secos. Agora, informou Meireles, a expectativa é pela prorrogação, pois ano passado o Ibama autorizou até o dia 10 de janeiro. “Já foi solicitado pelo Coletivo Pirarucu, agora é aguardar”, disse.

Bianca Darski lembra que, em 2023, apesar das dificuldades, os pirarucus ainda conseguiram se reproduzir a contento, porque foi possível pescar animais de 1,80 metro, bem acima do limite permitido por lei, de 1,50 metro. “Então, isso é muito bom, porque se conseguiu pegar peixes que tiveram tempo de se reproduzir e de crescer”. No Mamirauá, já foi pescado um pirarucu de 2,82 metros, segundo Darski, mas o recorde é de três metros, em outra localidade.

Leia mais: Instituto afirma que 10% da população de botos foram perdidas em uma semana
Editado por Adrisa De Góes

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