Após três anos, pandemia de Covid-19 chega ao fim com 7 milhões de mortos no mundo e 700 mil óbitos no Brasil
05 de maio de 2023
Covas abertas para mortos pela Covid-19 em cemitério de Manaus, no Amazonas (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta sexta-feira, 5, o fim da emergência sanitária em saúde pública causada pela Covid-19, que desencadeou, em março de 2020, uma das pandemias mais devastadoras. Com incalculáveis perdas nesses últimos três anos, o mundo sofreu e chorou a morte de quase 7 milhões de pessoas; mais de 700 mil delas apenas no Brasil.
Para a OMS, a doença, agora, é um “problema de saúde estabelecido e contínuo”, mas não necessariamente significa o fim de uma ameaça global. De acordo com especialistas ouvidos pela CENARIUM, a vigilância da Covid-19 não acabou. “Pessoas ainda estão morrendo, ainda temos novos casos e ainda temos internações”, advertiu, por exemplo, o infectologista Nelson Barbosa.
Momento adequado
Epidemiologistas, infectologistas e autoridades em saúde pública concordam em dizer que“o pior já passou”, mas Barbosa lembra que o Amazonas chegou a registar uma média diária de mais de 100 óbitos devido às complicações da doença em pacientes infectados, especialmente, em 2021. A comparação entre o antigo e o atual cenário, feita pelo comitê da OMS, é crucial para a mudança de protocolo.
O infectologista Nelson Barbosa (Reprodução/Acervo Pessoal)
“Este foi o momento adequado para a Organização Mundial da Saúde declarar o fim da emergência. Eles analisaram todos os números de mortes, a cada sete dias, os números de internações, números de casos novos, e viram, por exemplo, que em todo o Brasil, a média de mortes é, hoje, algo em torno de 300 óbitos diários”, concorda o infectologista, indicando que a decisão da entidade já era algo esperado.
O especialista ainda pondera sobre a erradicação do Coronavírus. “Se você lembrar da época da primeira e da segunda ondas, aqui no Amazonas, ocorreram de 120 a 150 óbitos por dia“, detalhou. “Mas isso não significa que a pandemia acabou”, disse Nelson.
Esforços
Epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz, Jesem Orellana também concorda em dizer que “parece um bom momento”, considerando todos os esforços dos últimos três anos, como a “recomendação de muitas vacinas altamente efetivas, medicações que auxiliam no tratamento da doença, perda de força das variantes e da queda sustentada de mortes pela doença”, disse.
Epidemiologista da Fiocruz, Jesem Orellana, em frente à instituição (Reprodução/Acervo Pessoal)
Orellana, no entanto, ressalta que “a pandemia segue ativa e matando milhares de pessoas, semanalmente, mundo afora. Portanto, a epidemia segue ativa, no Brasil, e o SARS-COV-2 não parou de evoluir”, complementou o especialista da Amazônia.
Estrago maior
Considerada a pandemia mais letal do século, o rastro de destruição deixado pela Covid-19 pode ser bem maior do que o contabilizado até agora, segundo estimativa da OMS, que acredita que os países subnotificaram o número real de vítimas.
Considerando as chamadas mortes em excesso, que ultrapassam o esperado, de acordo com as tendências normais de mortalidade, a doença pode ter matado 15 milhões de pessoas ao redor do globo, segundo a entidade. Isso é 13% mais do que o esperado para um período de dois anos.
Nelson Barbosa aponta que apandemia nos mostrou o despreparo do mundo diante da Covid-19. “Isso nos traz uma lição para a próxima pandemia, do quanto os sistemas de saúde devem estar integrados e o quanto as respostas devem ser imediatas. O bloqueio dos casos de uma próxima doença deve ser precoce e eficaz, foi isso que não aconteceu. A gente achava que nunca ia chegar ao ocidente, e chegou“, comentou.
Turista usando máscara durante visita ao Teatro Amazonas, em Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Experimentos
Com a crise escancarada, e depois de gastar milhões em comprimidos, o governo e a Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) fizeram do Estado o experimento semelhante ao que ocorreu no vizinho Amazonas. Em caráter experimental, a administração de medicamentos sem eficácia, comprovada para o tratamento da Covid-19, foi liberada em pacientes acometidos pela doença.
Publicado em janeiro do ano passado, o texto autorizava o uso de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e azitromicina, drogas do ‘kit Covid’, em quem tivesse a fase inicial da doença – mesmo “sem comprovação laboratorial da infecção pelo Sars-Cov-2”.
A aplicação de remédios contra vermes, piolhos e malária, utilizados de forma ineficaz e em negação à ciência, também foi pauta na edição N° 14 da REVISTA CENARIUM, publicada meses antes, tornando público o laboratório de experimento feito por políticos da Amazônia Legal com a população da região.
O especial de capa também abordou retrocessos na saúde pública de Rondônia, como a distribuição desses medicamentos nos 52 municípios do Estado, a adesão de gestores municipais e a facilidade para a aquisição nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Perdas e ganhos
O epidemiologista da Fiocruz, Jesem Orellana, comenta a superação da pandemia, mas lamenta que o País tenha tido aprendizados traumáticos, com colapsos sanitários históricos, além de consequências sociais e econômicas devastadoras.
Aplicação de dose da vacina da Covid-19 em idosa moradora de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
“No entanto, conseguimos alguns avanços na rede de frios para vacinas, conseguimos aumentar nossa vigilância genômica e, quem sabe, acumular conhecimento sobre os erros que nos levaram a esta que foi a mais desafiadora tragédia sanitária nos últimos 100 anos”, disse o especialista à CENARIUM. Apesar de ser uma notícia esperada por muita gente, segundo Jesem, ainda não é totalmente correto dizer que a pandemia acabou. “Precisamos seguir nos cuidando e, principalmente, nos vacinando contra a doença, sempre que recomendado pelas autoridades sanitárias”, alertou Orellana.
É difícil estimar o que se ganhou, em meio às perdas, desde o primeiro caso da Covid-19 aos mais de 765 milhões de infectados confirmados em todo o planeta. Por outro lado, a vacinação, ainda mais avançada, agora, se mostra como uma robusta esperança.
“Nós estamos diante de uma nova vacina que é a bivalente. É importante que a população faça a imunização, porque ela vai proteger contra a cepa original do coronavírus e contra a cepa modificada, que é a Ômicron, predominante em mais de 90% dos casos novos em todo o mundo”, garante o infectologista.
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