Da Revista Cenarium*
RIO DE JANEIRO – Após a aprovação do pedido de recuperação judicial das Americanas, os credores e os acionistas já começam a se articular para avaliar a proposta que será feita pela varejista para reduzir o nível de endividamento de R$ 43 bilhões, conforme revelado no pedido apresentado na quinta-feira, 19, à Justiça do Rio de Janeiro.
De acordo com fontes, já é esperado entre os credores financeiros que a rede varejista ofereça um corte entre 80% e 90% do valor total da dívida.
As fontes destacaram que já estão em andamento as conversas com a Rotschild, empresa contratada para atuar na intermediação entre os acionistas das Americanas e os credores no Brasil e no exterior.
Segundo uma das fontes ouvidas pelo GLOBO, sob condição de anonimato, o clima será de uma extensa e estressante negociação. Ninguém espera que o plano de recuperação judicial das Americanas seja aprovado antes de dois anos.
Segundo classificou a fonte, esse é o período esperado, hoje, no cenário razoável. “Será um longo período de discussões”, explicou esse executivo que não quis se identificar.
O consenso inicial dos credores é que seria necessário um aporte da empresa de cerca de R$ 15 bilhões. Mas, de acordo com diversos credores, é quase “zero” a possibilidade de que os acionistas de referência façam uma proposta nesse primeiro momento. “Haverá uma pressão inicial, neste primeiro momento, seguindo a estratégia dessa última semana”, lembrou.
As Americanas têm os acionistas de referência – o trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da 3G Capital – com a maior fatia do capital, com 31,13% das ações. Em seguida, aparecem as gestoras Capital Group (9,91%) e BlackRock (5,05%), além do TIAA Cref (fundo de pensão dos EUA formado por professores, com 6,05%).
Porém, tanto do lado dos credores como da empresa, há um entendimento, endossado por advogados, de que “todos vão ter que ceder” para se chegar a um acordo.
Ao longo da tarde de quinta-feira, começaram a circular informações, no mercado, de que os acionistas das Americanas poderiam buscar um novo investidor para a empresa, mas a hipótese é vista como pouco provável pelos credores.
Em paralelo ao desenvolvimento do plano de recuperação judicial, as Americanas também trabalha em um plano para reforçar seu caixa, que caiu de R$ 800 milhões para R$ 250 milhões em apenas dois dias.
A empresa vai tentar viabilizar a venda de alguns ativos, embora haja uma percepção de que o dinheiro não será suficiente para cobrir o rombo.
Uma outra fonte lembrou que a venda de qualquer ativo vai precisar passar pelo crivo da Justiça, que determinou também o desbloqueio de valores por parte dos bancos. Segundo a petição enviada na quinta-feira, à Justiça, as Americanas disse que foram retidos R$ 100 milhões do Banco Safra, R$ 474 milhões do Bradesco, R$ 50 milhões do Itaú e R$ 1,4 bilhão de BTG e Votorantim.
Para os credores, ainda há uma série de perguntas sem resposta para se iniciar as discussões em relação ao caminho para recuperação da empresa. Eles relatam dúvidas sobre a real situação de caixa da companhia, o valor total da dívida e a lista de credores, que ainda precisa ser apresentada.
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