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Artistas da Amazônia condenam ataque sofrido por Gilberto Gil durante partida do Brasil na Copa do Qatar
Artistas da Amazônia se solidarizam a Gilberto Gil e comentam reflexos da polarização na Cultura (Arte: Mateus Moura)
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27 de novembro de 2022
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Ícone da música popular brasileira e personalidade respeitada por artistas do calibre de Stevie Wonder e Laura Pausini, o cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil foi hostilizado por um torcedor bolsonarista nos corredores do estádio Lusail, onde o Brasil jogou sua primeira partida na Copa do Mundono Qatar. A REVISTA CENARIUM entrevistou artistas do Norte do País para falar sobre o episódio.
O paraense Nilson Chaves, conhecido por obras como “Coração Sonhador“, “Tô que Tô Saudade“, “Olho de Boto“, “Não Vou Partir”, “Sabor Açaí“, entre outras, contextualiza a violência sofrida por Gilberto Gil. “Infelizmente, vivemos um momento extremamente violento comandado por esse presidente que está aí”, observou. “Não estou aqui dizendo que sou a favor de Lula ou Bolsonaro, mas, o que vemos é uma violência geral, desrespeito e terrorismo“, lamenta.
Nilson chamou a atenção para a intransigência. “A questão é que essas pessoas não aceitam o resultado democráticos das urnas, estamos passando por um clima de fanatismo, uma coisa doente“, avalia. Para ele, para quem já passou pela ditadura e o exílio, Gilberto Gil saberá contornar a situação. “Que o Gil possa realmente se recuperar disso, aliás, o Gil tem uma experiência muito grande para absorver de outra forma esse momento“, declara.
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Limite
O também paraense Francisco Weyl, ensaísta, jornalista e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté, fez uma análise sobre os reflexos da polarização na cultura e outros segmentos. “Chegamos a um limite nas relações políticas após a ascensão de um governo de direita que desmontou o aparelho de Estado destinado ao público de baixa renda, do mesmo modo desqualificou e enfraqueceu as instituições públicas e democráticas, promovendo ataques deliberados contra as causas sociais contemporâneas, questões étnicas, de gênero, e culturais em geral“, aponta.
Para o artista amazônico, a luta não pode parar. “Repudiaremos, denunciaremos e criticaremos essas cenas medievais e retrógradas. Além de poeta e ícone da cultura, Gil é negro, num país qualificadamente racista, ao mesmo tempo que os movimentos sociais negros avançam para pautar o tema e assegurar as conquistas de direitos no mundo real, contraditório”, salienta.
Perverso
Para a cantora amazonense Lucilene Castro, intérprete de artistas como Chico da Silva e do poeta Anibal Beça, após quatro anos do atual governo, as coisas não poderiam ser diferentes. “O bolsonarismo trouxe à tona o que há de pior na sociedade brasileira“, criticou. “Pessoas como a que agrediu Gilberto Gil já existiam, mas, elas estavam escondidas nos seus esgotos e foi no bolsonarismo que elas apreenderam que tudo poderia ‘ser permitido’, inclusive a ter esse tipo de comportamento“, dispara.
Para a artista amazônida, o comportamento do homem que agrediu o autor de “Domingo No Parque“, “Palco“, “Vamos Fugir” entre outros clássicos da MPB e é um dos criadores do lendário movimento “Tropicália“, não tem amparo na razão ou em qualquer outro sentido que não seja o definido por ela. “Não é por um ataque personalizado ao Gil. Não é pela eleição perdida, não é pela família e pelos ‘bons costumes’ que eles pregam, não é por nada disso! É porque são pessoas essencialmente cruéis. A crueldade deles foi potencializada pelo Bolsonaro“, aponta.
“Se você olhar, o Gilberto Gil é um senhor de 80 anos que merece respeito. Se a pessoa não respeita a obra dele que por si só já é um monumento da cultura brasileira, que respeite ao menos a idade“, observa. “Essas pessoas se acham no direito de invadir o espaço das outras e dizer o que elas bem querem. Se não for tomada uma medida mais dura, eu não sei até que ponto poderemos conviver em sociedade“, questiona Lucilene Castro.
História
Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador, na Bahia. É o primeiro filho de José Gil Moreira (1913-1991), médico formado pela Universidade da Bahia, e de Claudina Passos Gil Moreira (1914-2013), professora primária. Foi um dos criadores do movimento “Tropicália“, que revolucionou a música brasileira em plena ditadura militar, na década de 1960. Ao lado de Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Betânia marcou de forma indelével a cultura brasileira.
Autor de clássicos como “Drão“, “Refazenda“, “Super Homem” entre tantos outros, Gil foi laureado com a Ordem do Mérito pelo Governo Francês, em 1997. Foi nomeado, em 1999, “Artista Pela Paz“, pela Unesco. Entre 2003 e 2008, foi ministro da cultura nos mandatos do governo Lula. Foi embaixador da ONU para agricultura e alimentação e, em 2021, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 20.
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