Artistas da Amazônia condenam ataque sofrido por Gilberto Gil durante partida do Brasil na Copa do Qatar

Artistas da Amazônia se solidarizam a Gilberto Gil e comentam reflexos da polarização na Cultura (Arte: Mateus Moura)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Ícone da música popular brasileira e personalidade respeitada por artistas do calibre de Stevie Wonder e Laura Pausini, o cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil foi hostilizado por um torcedor bolsonarista nos corredores do estádio Lusail, onde o Brasil jogou sua primeira partida na Copa do Mundo no Qatar. A REVISTA CENARIUM entrevistou artistas do Norte do País para falar sobre o episódio.

Depois de ser hostilizado por um simpatizante de Jair Bolsonaro (PL), Gilberto Gil gravou vídeo em agradecimento às mensagens de solidariedade que recebeu (Reprodução Internet)

O paraense Nilson Chaves, conhecido por obras como “Coração Sonhador“, “Tô que Tô Saudade“, “Olho de Boto“, “Não Vou Partir”, “Sabor Açaí“, entre outras, contextualiza a violência sofrida por Gilberto Gil. “Infelizmente, vivemos um momento extremamente violento comandado por esse presidente que está aí”, observou. “Não estou aqui dizendo que sou a favor de Lula ou Bolsonaro, mas, o que vemos é uma violência geral, desrespeito e terrorismo“, lamenta.

Nilson chamou a atenção para a intransigência. “A questão é que essas pessoas não aceitam o resultado democráticos das urnas, estamos passando por um clima de fanatismo, uma coisa doente“, avalia. Para ele, para quem já passou pela ditadura e o exílio, Gilberto Gil saberá contornar a situação. “Que o Gil possa realmente se recuperar disso, aliás, o Gil tem uma experiência muito grande para absorver de outra forma esse momento“, declara.

PUBLICIDADE

Limite

O também paraense Francisco Weyl, ensaísta, jornalista e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté, fez uma análise sobre os reflexos da polarização na cultura e outros segmentos. “Chegamos a um limite nas relações políticas após a ascensão de um governo de direita que desmontou o aparelho de Estado destinado ao público de baixa renda, do mesmo modo desqualificou e enfraqueceu as instituições públicas e democráticas, promovendo ataques deliberados contra as causas sociais contemporâneas, questões étnicas, de gênero, e culturais em geral“, aponta.

Para o artista amazônico, a luta não pode parar. “Repudiaremos, denunciaremos e criticaremos essas cenas medievais e retrógradas. Além de poeta e ícone da cultura, Gil é negro, num país qualificadamente racista, ao mesmo tempo que os movimentos sociais negros avançam para pautar o tema e assegurar as conquistas de direitos no mundo real, contraditório”, salienta.

Perverso

Para a cantora amazonense Lucilene Castro, intérprete de artistas como Chico da Silva e do poeta Anibal Beça, após quatro anos do atual governo, as coisas não poderiam ser diferentes. “O bolsonarismo trouxe à tona o que há de pior na sociedade brasileira“, criticou. “Pessoas como a que agrediu Gilberto Gil já existiam, mas, elas estavam escondidas nos seus esgotos e foi no bolsonarismo que elas apreenderam que tudo poderia ‘ser permitido’, inclusive a ter esse tipo de comportamento“, dispara.

A artista amazonense Lucilene Castro (Divulgação)

Para a artista amazônida, o comportamento do homem que agrediu o autor de “Domingo No Parque“, “Palco“, “Vamos Fugir” entre outros clássicos da MPB e é um dos criadores do lendário movimento “Tropicália“, não tem amparo na razão ou em qualquer outro sentido que não seja o definido por ela. “Não é por um ataque personalizado ao Gil. Não é pela eleição perdida, não é pela família e pelos ‘bons costumes’ que eles pregam, não é por nada disso! É porque são pessoas essencialmente cruéis. A crueldade deles foi potencializada pelo Bolsonaro“, aponta.

Se você olhar, o Gilberto Gil é um senhor de 80 anos que merece respeito. Se a pessoa não respeita a obra dele que por si só já é um monumento da cultura brasileira, que respeite ao menos a idade“, observa. “Essas pessoas se acham no direito de invadir o espaço das outras e dizer o que elas bem querem. Se não for tomada uma medida mais dura, eu não sei até que ponto poderemos conviver em sociedade“, questiona Lucilene Castro.

História

O cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil (Mauro Pimentel/AFP)

Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador, na Bahia. É o primeiro filho de José Gil Moreira (1913-1991), médico formado pela Universidade da Bahia, e de Claudina Passos Gil Moreira (1914-2013), professora primária. Foi um dos criadores do movimento “Tropicália“, que revolucionou a música brasileira em plena ditadura militar, na década de 1960. Ao lado de Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Betânia marcou de forma indelével a cultura brasileira.

Autor de clássicos como “Drão“, “Refazenda“, “Super Homem” entre tantos outros, Gil foi laureado com a Ordem do Mérito pelo Governo Francês, em 1997. Foi nomeado, em 1999, “Artista Pela Paz“, pela Unesco. Entre 2003 e 2008, foi ministro da cultura nos mandatos do governo Lula. Foi embaixador da ONU para agricultura e alimentação e, em 2021, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 20.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.