Artistas indígenas preservam tradição por meio do grafismo ancestral

Os artistas Adolfo Tapaiuna e Tuniel Mura são referências na arte (Composição: Weslley Santos a partir de Arquivo Pessoal)
Emilli Marolix – Da Revista Cenarium

PARINTINS (AM) – Em meio à diversidade cultural do Brasil, artistas indígenas estão emergindo como guardiões de uma tradição milenar por meio do grafismo indígena. Em diferentes partes do País, esses artistas mantêm viva essa forma de expressão artística que não só embeleza, mas também conta histórias e preserva a identidade de seus povos.

O artista indígena do povo Sateré Mawé Adolfo Oliver, também conhecido como Adolfo Tapaiuna, 20 anos, é um deles. Universitário de Designer Digital da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), ele cresceu na comunidade indígena Inhã-bé, localizada no Rio Tarumã-Açú, Zona Rural de Manaus, e começou a trabalhar com grafismo ainda na infância por influência de avó e dos tios.

Quando eu era criança eu via os meus tios pintando, a minha avó pintando, então essa arte ela foi transmitida a partir disso. Eu também sou de uma família de artesãs, então a questão de se manter a oralidade é a partir dessa perspectiva. Depois de me entender acabei me enxergando no ramo do grafismo”, diz Adolfo.

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Cada comunidade indígena possui sua própria linguagem visual única, e o grafismo indígena é uma celebração da diversidade cultural e da riqueza artística dos povos originários do Brasil. As técnicas tradicionais de pintura, como o uso de pigmentos naturais e a aplicação manual, continuam a ser valorizadas e transmitidas de geração em geração.

Adolfo Oliver, indígena do povo Sateré Mawé (Arquivo pessoal)

Adolfo compartilha os significados de seus grafismos para o seu povo, tendo em vista que cada etnia possui suas histórias e seus significados. “O grafismo vem com um significado de força, resistência, luta e proteção. Quando o guerreiro vai para o Ritual da Tucandeira, com o grafismo para o ritual, ele é uma proteção. Quando a gente vai para luta, ele vem como resistência”, ressalta.

Adolfo Oliver faz a pintura corporal (Arquivo pessoal)

O ritual da Tucandeira é um rito de passagem tradicional dos homens indígenas Sateré Mawé que marca a transição da infância para a idade adulta. Nele, meninos da aldeia têm que vestir uma luva feita de palha cheia de formigas tucandeiras e resistir por, pelo menos, 15 minutos às doloridas ferroadas do inseto.

Após a primeira experiência com as formigas, os meninos, agora “homens”, podem se casar e começar uma família, mas espera-se que passem pelo ritual menos 20 vezes durante a vida.

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Resistência

Além de beleza estética, o grafismo indígena é uma forma de resistência cultural. Cada linha, forma e cor carrega histórias, mitos e conhecimentos ancestrais. A pintura dura cerca de dez a 15 dias no corpo, e é feita por materiais encontrados na natureza. Um dos mais usados é o sumo da fruta do jenipapo.

Esse material é usado por Adolfo Oliver e também pelo jovem indígena Tuniel Mura, que reside na Aldeia Murutinga, em Autazes, município a 113 quilômetros de distância de Manaus. Ele é professor, artista visual, desenhista de grafismo corporal indígena, estilista de moda e líder da comunidade, onde atua como conselheiro local de saúde indígena.

Tuniel Mura mora na aldeia Murutinga, em Autazes (Arquivo pessoal)

Tuniel enfatiza a importância de conhecer os significados para valorizar o grafismo. “É importante valorizar esse universo de significados, mostrar para quem não conhece é uma forma de orgulho, as pessoas não indígenas fazem alguns grafismos no corpo só porque achou bonito, depois de ficar contente por ver a pintura em seu corpo, muitas vezes não sabem que sentimento pode significar, como tristezas, luto ou passagem. Essas pinturas são importantes para os povos indígena que por meio delas vêm a identidade de um povo”, ressalta.

Nas redes sociais, o artista fala sobre o cotidiano, cultura, lugar onde vive e da vida profissional. O artista usa a internet como forma de dar mais visibilidade à arte e contribuir para o reconhecimento e reavivamento da cultura do povo Mura.

Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona
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