As Mulheres de Bolsonaro

Eu costumo falar que não adianta nada para nós termos mulheres ocupando espaços de poder que não nos representam.

Torna-se uma luta em vão.

Na política, que é um campo tão machista e dominado por homens, é díficil e doloroso para uma mulher chegar ao poder, ainda somos poucas ocupando essa lacuna.

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Muitas alcançam esse status e isso não impede que elas passem por situações constrangedoras no exercício de seus mandatos, como machismo e misoginia. Passam durante o processo e depois que se elegem. Os homens sempre fazem questão de mostrar às mulheres o quão difícil é conviver com eles, independente do cargo que ocupamos.

O banheiro feminino no Senado foi construído apenas em 2016, acho que isso por si só ja diz muita coisa. Nunca nos quiseram lá.

Ainda têm aquelas que usam o discurso feminista para se promover, usurpam e enganam com posicionamentos mentirosos e se apropriam de um movimento que não lhes representam para ganhar votos, pior que muitas conseguem. E só descobrimos que são uma farsa quando as mesmas se elegem. Posso citar tranquilamente a Tábata Amaral, mas essa aí nunca enganou a mim.

Não é novidade pra ninguém que o nosso presidente Bolsonaro seja uma pessoa extremamente preconceituosa. Ele não esconde de ninguém que é homofóbico, racista, sexista e misógino. Já fez várias ofensas públicas contra as mulheres e contra os grupos minoritários. Além de sempre apoiar pautas que atrasam os direitos femininos conquistados com tanto sacrifício durante  décadas.

Bolsonaro odeia as mulheres que ele não pode silenciar e subjugar, e muitos cidadãos brasileiros se identificam com ele.

Recentemente destilou ódio e desrespeito a uma jornalista que apenas estava fazendo o seu trabalho. Seu ódio é tanto que beira o desequilíbrio.

Mas esse não foi o primeiro epsódio de misigonia praticado por ele, e nem será o último.

Ele deu um show de horror e violência explícitas contra a moça. Mas ninguém fala nada, quase ninguém se indignou, estamos normalizando todos os tipos de violência em nosso país, principalmente àquelas destinadas às mulheres. Nem mesmo outras mulheres se indignam, pois tudo ficou politizado, até mesmo a violência política/feminina.

Eu sempre digo que feminismo não é e nem devia ser partidário. Estar ao lado das mulheres e defender seus direitos não devia ser pauta política, todo cidadão com conciência social tinha que apoiar.

As mulheres que estão com o Bolsonaro e se elegeram com a sua legenda retrógrada, não nos representam. Ao contrário, elas apoiam o discurso misógino do presidente, elas votam em pautas que violam os nossos direitos, fazem um enorme desserviço para o movimento feminista expalhando mentiras, a verdade é que elas representam um grande retrocesso para as causas femininas e no que diz respeito às garantias de nossos direitos.

Num país como o nosso, ter mulheres ocupando espaços de poder que não nos representam é desolador, muito frustrante.

O Brasil é um país horrível para ser mulher.

Somos o quinto país no mundo em taxa de feminicídio. Somos o quinto país que mais mata mulheres de forma violenta.

A cada 11 minutos uma mulher é estuprada.

A cada hora mais de 500 mulheres são agredidas.

A cada 7 horas o país registra um caso de feminicídio.

Nascer mulher, criar uma menina num país como o nosso não é fácil, é na verdade assustador.

Por isso é tão importante que saibamos em quem votar, em quem vai nos representar, nem toda mulher vai lutar por nossos direitos, nem toda mulher é feminista, o machismo é estrutural e está enraizado em nossa criação e atinge um número muito grande de mulheres, e essas, quando chegam ao poder, se tornam “as mulheres de Bolsonaro”.

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(*)Regiane Pimentel é bacharel em direito, ativista social e feminista amazônida.

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