Bicicletada em homenagem a Julieta Hernández é confirmada em sete países

A artista e cicloviajante venezuelana Julieta Inés Hernández Martínez (Reprodução/Internet)
Adriã Galvão – Da Revista Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – Nesta sexta-feira, 12, ruas de países da América Latina e Europa serão ocupadas por ciclistas, artistas e manifestantes em uma bicicletada em homenagem à artista cicloviajante Julieta Hernández. A migrante venezuelana, conhecida como Miss Jujuba, foi encontrada morta em Presidente Figueiredo (a 117 quilômetros de Manaus) em 5 de janeiro e será velada nesta quarta-feira, 10, em Manaus.

No Brasil, a bicicletada deve ocorrer simultaneamente em 53 municípios. Cidades do Chile, México, Argentina, Uruguai, Portugal e França também confirmaram a participação na homenagem.

A convocação para a bicicletada foi feita pela família de Julieta e pelo coletivo Circo di SóLadies, Nem Só Ladies, do qual a artista fazia parte. O movimento, que ganhou força nas redes sociais com a hashtag #JustiçaParaJulieta, também protesta contra a violência sofrida por mulheres em todo o mundo e pede respeito às mulheres que viajam sozinhas.

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“Não podemos nos calar, precisamos do apoio de todas as pessoas contra essa violência! Julieta é mais uma vítima dessa sociedade que não permite que mulheres sejam livres”, diz a publicação do coletivo Circo di SóLadies, Nem Só Ladies.

Convocação para bicicletada ganha força nas redes sociais (Foto: Divulgação / Redes Sociais)
América Latina

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a amiga de Julieta e também artista venezuelana, Diana Afronativa, conta que a bicicletada no Brasil representa uma forma de reconhecer a importância da vida de Julieta e seu fazer artístico.

“Julieta era minha amiga há dez anos e nossos encontros sempre foram nas criações coletivas. Nos encontros de circo, malabares, teatro, saraus, ela sempre teve a vontade de somar, de construir novos horizontes e levar alegria para as pessoas. É uma forma simbólica de homenagear sua pedalada, sua arte, alegria, movimento e amor”, completou.

Em Boa Vista, capital de Roraima, Diana coordena juntamente ao coletivo La Mochila Migrante e outras 14 organizações, a bicicletada que será realizada no dia 12 de janeiro. A artista também foi uma das autoras do mural em homenagem à Julieta, feito no último domingo (7).

Mural em homenagem a Julieta Hernández pintado em muro de Boa Vista-RR (Foto: Adriã Galvão/ Revista Cenarium)

“É importante que os artistas se mobilizem reconhecendo que nosso fazer artístico é importante e que precisamos de nossos companheiros e companheiras para levar arte e cultura para a comunidade e a sociedade. Por isso, também juntamos forças com nossos amigos na Venezuela para essa convocatória”, completou.

O coletivo “Cicletada de las Niñas” e a comunidade “Viajar Sola”, de Santiago, no Chile, também se preparam para a mobilização em homenagem a Julieta Hernandéz. À CENARIUM, a coordenadora de ambas organizações, Mapapo Castillo, destaca que o momento é de união entre mulheres latino-americanas.

Mulheres viajantes, como Julieta e eu, estão em todo o mundo. O que aconteceu com ela, poderia ter acontecido comigo ou com uma de minhas amigas que conheci viajando. Toda vez que vejo um testemunho, choro de novo porque não estamos seguras em nenhum lugar”.

Leia também: Brasil é o segundo País mais perigoso para mulheres que viajam sozinhas

Mapapo conta ainda que a bicicletada na capital chilena também contará com rodas de conversa sobre cicloviagens para mulheres e revela que o momento é de fortalecimento das redes de apoio compostas por mulheres viajantes e artistas.

Queremos deixar a mensagem que o problema não é da mulher que está viajando sozinha ou viajando de bicicleta, mas sim do machismo e misoginia que nos atravessa diariamente em casa, na rua, no trabalho, etc”, finalizou.

Manifestação também vai abordar o fortalecimento das redes de apoio compostas por mulheres viajantes e artistas (Arquivo pessoal: Cicleta de Las Ninas)
Cidades

Confira as cidades e países que participarão da bicicletada em homenagem a Julieta Hernandéz, no dia 12 de janeiro:

BRASIL
  • Boa Vista – RR
  • Manaus – AM
  • Presidente Figueiredo – AM
  • Belém – PA
  • Santarém- PA
  • Ananindeua – PA
  • Alter do Chão – PA
  • Belterra – PA
  • Santana – AP
  • Palmas – TO
  • Maracanaú – CE
  • Natal – RN
  • Campina Grande – PB
  • Brasília – DF
  • Campo Grande – MS
  • Goiânia – GO
  • Bonito – MS
  • Curitiba – PR
  • Florianópolis – SC
  • Paranaguá – PR
  • Porto Alegre – RS
  • Garibaldi – RS
  • Belo Horizonte – MG
  • Betim – MG
  • Campinas – SP
  • Marília – SP
  • São Paulo – SP
  • Sorocaba – SP
  • Rio de Janeiro – RJ
  • Vitória -ES
  • Mogi das Cruzes – SP
  • Piracicaba – SP
  • Uberlândia – MG
  • São José dos Campos – SP
  • Jacareí – SP
  • Ilhabela- SP
  • Jaguariúna – SP
  • Aracaju – SE
  • Recife- PE
  • Salvador- BA
  • Tamandaré – PE
  • João Pessoa – PB
  • São Luis – MA
  • Fortaleza- CE
  • Maceió – AL
  • Gramado – RS
  • Vilamão – RS
  • Cascavel – PR
  • Pelotas – RS
  • Londrina – PR
  • Blumenau – SC
  • Chapecó – SC
  • Montevideo – Uruguai
  • Santiago – Chile
  • Mar Del Plata – Argentina
  • Avellaneda – Argentina
  • Villa Gessel – Argentina
  • Porto – Portugual
  • Marseille – França
  • Lisboa – Portugal
Despedida

Nesta quarta-feira, 10, será realizado o velório de Julieta Hernández. O pedido da família é para que os presentes vistam roupas coloridas, tragam poesias, músicas e expressem arte, refletindo as cores e a cultura que marcaram a vida de Julieta.

A celebração será na Capela Beija-Flor, Recanto da Paz, em Flores, Zona Centro-Sul de Manaus. Para aqueles que estão longe, é sugerido celebrar em vídeos e dedicatórias nas redes. “Estaremos juntes, trazendo as cores, os sons, as expressões da arte e da cultura que conduziram a vida e obra de Julieta. Estão todes convidados. Amor e Luz para Julieta!”, diz a publicação.

Publicação convida para última despedida a Julieta Hernández, em Manaus (Foto: Reprodução / Redes Sociais)
Carta para Julieta

Na manhã desta quarta-feira, o coletivo Circo di SóLadies, Nem Só Ladies divulgou uma carta escrita pelas irmãs de Julieta, Sophia la Roja Hernández, Nona e Vero, em que relatam como a artista salvou os filhos do casal suspeito de matar e enterrar o corpo da cicloviajante. Confira na íntegra, traduzido para o português pela Revista Pluriverso:

Há alguns dias, recebemos a pior notícia, aquela que ninguém deveria nunca ouvir. A imprensa sensacionalista faz o seu trabalho, mostrando-nos informações e detalhes horríveis que fizeram muitos terem medo. Mas Julieta sempre rejeitou o medo, ela era uma ariana poderosa, nunca teve medo, pelo contrário, rebelava-se com o poder de uma tempestade. Hoje, devemos contar essa parte de sua história, que não é de forma alguma a mais importante nem a que queremos que seja lembrada, mas sua trágica morte é uma história de proeza inimaginável.

Julieta se imortalizou e essa é a maior expectativa de qualquer artista! E dói, claro, dói a todos nós porque sentimos que tínhamos muito a aprender com ela, tantos planos interrompidos pela realidade injusta. Mas Juli era assim, ela vivia o presente buscando sempre a expressão mais elevada de sua alma. Sua bondade e disposição para servir sempre foram sua forma de se relacionar. Julieta não acreditava em impossíveis, como acreditar neles se ela percorreu milhares de quilômetros com a força de suas pernas.

Num dia sombrio, em seu caminho ela encontrou cinco grandes razões para se martirizar, cinco crianças, crianças pobres. Os assassinos dela foram os monstruosos pais dessas criaturas. Com o último dinheiro que tinha, ela comprou leite para essas crianças e decidiu ir para a casa dessa família pobre e miserável. Possivelmente, pelo que as pessoas contam, ela percebeu o abuso contra elas. Não era a primeira vez que Julieta se comovia diante do sofrimento infantil e se disponibilizava para lhes levar ao menos um pouco de alegria e amor, e foi naquela casa que aconteceu tudo o que não conseguimos mencionar. O homem, bêbado, quis abusar de Juli, ela se defendeu com todas as suas forças, mas a mulher dele foi quem conseguiu deter nossa Julieta, agarrou-a cansada e muito machucada.

Eles a enterraram com a sua bike, com os seus sonhos e os nossos corações. Hoje ambos estão e estarão presos pelo resto de suas vidas.

As crianças estão agora em um abrigo com um futuro, com outra oportunidade. Obrigada, Juli, por sua dedicação, pois nessa cena final você salvou cinco crianças de tantas misérias, e com isso gerou um movimento que não se apagará, porque aqueles que morrem pela vida não podem ser chamados de mortos. E você, irmã, foi isso, luz, amor e sorrisos que sempre ressoarão em todos nós que tivemos a sorte de conhecê-la, e em todos que ouvirem e conhecerem sua história.

    Sophia la Roja Hernández e suas irmãs de alma e caminhos.

Editado por Yana Lima

Revisado por Gustavo Gilona

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