BID elege Ilan Goldfajn, primeiro brasileiro a comandar a instituição

O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Revista Cenarium*

WASHINGTON e BRASÍLIA – O ex-presidente do Banco Central do Brasil Ilan Goldfajn foi eleito neste domingo, 20, o novo presidente do BID (Banco Interamericano do Desenvolvimento). Ele será o primeiro brasileiro a comandar a instituição, que financia projetos de desenvolvimento no continente e tem sede em Washington.

Indicado ao posto pelo Governo Jair Bolsonaro, houve pressão contra o brasileiro, por parte do PT, depois da eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo assim, Goldfajn foi eleito em 1° turno na votação da Assembleia de Governadores, que reúne representantes dos países que compõem o banco, com votos que representam 80% do capital da entidade.

Presidente do Banco Central, entre 2016 e 2019, indicado por Michel Temer (MDB), Goldfajn, 56, é, hoje, diretor de Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), cargo do qual se licenciou para disputar a eleição do BID. Nascido em Israel, filho de brasileiros, é formado em economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com doutorado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA.

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Ele concorria com outros quatro candidatos: a argentina Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria do País; o mexicano Gerardo Esquivel, um dos diretores do Banco Central do País; o chileno Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Economia; e Gerard Johnson, de Trinidad e Tobago, ex-funcionário do BID.

O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn (Ueslei Marcelino/Reuters)

A eleição do brasileiro foi facilitada depois que o Governo Alberto Fernández abriu mão da candidatura de Todesca Bocco na reta final e decidiu apoiar Goldfajn, que já tinha auxílio dos Estados Unidos.

Como EUA, Brasil e Argentina têm a maior parte das ações do banco (30% para o primeiro, 11,4% para cada um dos dois últimos), o caminho se abriu para o brasileiro. Já na primeira rodada de votação, ele obteve 80% dos votos.

Goldfajn foi indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que fez um giro com autoridades do continente, em Washington, no mês passado, durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, na tentativa de angariar apoio ao brasileiro. Os candidatos foram alvo de sabatina, no último dia 12, e Goldfajn foi o que causou a melhor impressão entre os concorrentes.

A candidatura foi ameaçada quando Jair Bolsonaro (PL) perdeu a eleição presidencial brasileira, porque o PT trabalhou para adiar a eleição do BID e emplacar outro nome que não o do indicado por Bolsonaro.

O ex-ministro petista da Fazenda Guido Mantega chegou a enviar um e-mail à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, pedindo que o pleito fosse adiado por 45 a 60 dias. A eleição, porém, não foi adiada, mas a escolha de Goldfajn ficou ameaçada, uma vez que autoridades não querem se indispor com o próximo presidente do Brasil. Na quinta-feira, no entanto, Mantega renunciou ao seu cargo na equipe de transição do Governo Lula, o que voltou a dar tração ao ex-presidente do Banco Central no BID.

Neste domingo, Yellen parabenizou Goldfajn pela vitória e disse que o BID desempenha um papel vital na promoção do bem-estar econômico, social e ambiental da América Latina e do Caribe.

“Os EUA esperam trabalhar com o presidente Goldfajn para implementar o conjunto de reformas que os acionistas estabeleceram para reforçar o desenvolvimento sustentável, inclusivo e resiliente; crescimento liderado pelo setor privado; ambição climática; e aumentar a eficácia institucional do BID”, disse, em comunicado.

Conforme mostrou reportagem da Folha, as prioridades de Goldfajn apresentadas no processo seletivo do banco se alinhavam às de Lula e incluíam combater a fome, promover a cooperação entre países, fomentar crescimento com inclusão social, diversidade e preservação ambiental.

Para Otaviano Canuto, que foi vice-presidente do Banco Mundial e do BID e diretor-executivo do FMI e do Banco Mundial, a escola foi acertada. “Ilan tem as características pessoais e o perfil de alguém ótimo para dirigir uma instituição como essa”, afirma elogiando o foco do brasileiro em energia limpa, segurança alimentar, aumento da cooperação regional e conservação de recursos naturais. “O desafio vai ser buscar algum processo de aumento de capital para aumentar a escala do que o banco faz”.

Fundado há 63 anos, o BID é considerado o maior e mais antigo organismo financeiro multilateral do mundo e financia projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional na América Latina e no Caribe. Tem 48 países membros e sede em Washington (EUA).

Em novembro de 2022, estavam previstos quase US$ 30 bilhões (R$ 160 bilhões) pelo BID para projetos em preparação ou implementação no Brasil. Entre eles, programas para potencializar negócios de bioeconomia na Amazônia, expansão do ensino em Florianópolis (SC), investimentos rodoviários no Estado de São Paulo, pecuária sustentável no Mato Grosso, além de uma série de ações federais.

A eleição deste domingo põe fim a um conturbado período que começou com a chegada de Mauricio Claver-Carone, ao posto, em 2020. Acusado de se envolver com uma subordinada, o americano foi destituído, por unanimidade, em setembro.

No ano da eleição de Claver-Carone havia forte disposição para que os países que compõem o banco elegessem um brasileiro. Uma série de nomes foram discutidos, como Marcos Troyjo (hoje, no banco dos Brics); Rodrigo Xavier; Carlos da Costa (ex-BNDES) e Martha Seillier (ex-secretária do Programa de Parcerias e Investimentos), mas sem sucesso.

O Brasil desistiu de emplacar um indicado, após um pedido direto do então presidente americano Donald Trump a Jair Bolsonaro para que o País apoiasse Claver-Carone, então diretor de assuntos para o hemisfério ocidental no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. A conturbada gestão do americano, no entanto, chegou ao fim antes que ele completasse o mandato de cinco anos.

Em entrevista recente à Folha, Claver-Carone, desafeto de Paulo Guedes, afirmou que o País tinha feito uma má escolha ao apoiar sua destituição e que não encontraria, agora, apoio para eleger um nome próprio.

(*) Com informações da Folhapress
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