Bolsa cai 2% e dólar sobe, após Lula dizer: ‘Vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência’

Lula em encontro com a sociedade civil brasileira na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, na manhã desta quinta, 17 (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)
Da Revista Cenarium (*)

MANAUS — A Bolsa de Valores brasileira abriu em forte queda nesta quinta-feira, 17, retomando o movimento de baixa da véspera, e o dólar continuava a avançar contra o real. A movimentação é uma resposta à proposta do novo governo de furar o teto de gastos para pagar Bolsa Família e às declarações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a reação dos mercados.

Se eu falar isso, vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência”, disse Lula, completando que a flutuação dos índices não acontece “por causa das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que ficam especulando todo santo dia“.

A fala do presidente eleito foi feita durante encontro com manifestantes de movimentos sociais presentes na COP27, em Sharm el-Sheik, Egito, e vem um dia após a entrega da minuta da PEC da Transição, que fura o teto de gastos para acomodar recursos em programas sociais, como o Bolsa Família.

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Indicador de referência da Bolsa, o Ibovespa caía 2,06% às 10h15, recuando aos 107.969 pontos. O dólar comercial à vista subia 1,70%, cotado a R$ 5,4760 na venda. Mais cedo, na abertura do mercado de câmbio, a moeda americana havia disparado mais de 2%, com a cotação atingindo R$ 5,53.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito Fernando Haddad
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito Fernando Haddad, durante encontro nesta quinta, 17, com representante da sociedade civil brasileira na COP27, a conferência do clima da ONU, no Egito (Joseph Eid/AFP)

Na quarta-feira, 16, o índice Ibovespa tombou 2,58%, aos 110.243 pontos, depois de ter mergulhado mais de 3% ao longo do dia. O dólar comercial à vista avançou 1,52%, valendo R$ 5,3840 na venda. O mercado de juros futuros também apresentou forte alta. A taxa DI (depósitos interbancários) para 2024 passou dos 14% ao ano.

O mercado financeiro doméstico foi pressionado ao longo do dia por rumores sobre o nome do futuro ministro da Fazenda e pela espera por uma definição quanto às despesas que ficarão fora do teto de gastos em 2023.

À noite, após o fechamento do mercado, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), apresentou a minuta da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, que propõe retirar o programa Bolsa Família do teto de forma permanente e abre caminho para honrar promessas de campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A medida é considerada necessária para evitar um apagão social no próximo ano, já que a proposta de Orçamento enviada em agosto pelo governo Jair Bolsonaro (PL) assegura apenas um valor médio de R$ 405,21 para os beneficiários, além de impor cortes severos nas verbas para a habitação e no Farmácia Popular.

Lula fala ao microfone; ao seu lado está uma mulher negra
Lula em encontro com a sociedade civil brasileira na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, na manhã desta quinta, 17 (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)

Analistas explicam que, ao abrir mais brechas para ampliar gastos sem uma limitação como a imposta pelo teto de gastos, o governo gera condições para que a inflação ganhe fôlego devido ao aumento de dinheiro público circulando no mercado.

Para controlar essa pressão inflacionária, o Banco Central pode retomar as elevações da taxa de juros do país, hoje em 13,75% ao ano. Juros altos tendem a esfriar o mercado de ações, pois investidores se voltam para os ganhos oferecidos pela renda fixa. Isso reduz a capacidade das empresas financiarem seus projetos, prejudicando a geração de emprego.

Além disso, o descontrole dos gastos públicos pode dificultar a execução do plano financeiro traçado pelo governo. É o chamado risco fiscal. Investir no País fica mais arriscado e investidores levam seus dólares para fora, tornando a moeda americana mais cara por aqui. Esse processo gera inflação e requer juros ainda mais altos.

Em momentos de incertezas sobre os rumos da economia, investidores também avaliam que retorno dos títulos do governo precisa ser mais altos para compensar o risco, o que exerce ainda mais pressão no mercado de juros.

Os juros sobem com a ideia de que o Brasil pode ter um problema fiscal devido à intenção do governo de aumentar os gastos“, comentou Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. “Já que o país quer gastar mais, o investidor cobra um prêmio maior.”

O mercado segue precificando risco fiscal com forte alta nos juros futuros e penalizando ativos de risco com desvalorização de quase todas as ações do índice Bovespa“, comentou Leandro De Checchi , analista da Clear Corretora.

Ao colocar gastos com benefícios sociais fora do teto, a PEC cria uma imprevisibilidade sobre a política fiscal e, com o fiscal em dúvida, a gente vê imediatamente a curva de juros estressar“, disse Nicolas Farto, chefe de renda variável da Renova Invest.

Rumores sobre o nome do futuro ministro da Fazenda também influenciaram os preços dos ativos após a agência Reuters ter noticiado que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad era o favorito de Lula no momento.

Especulava-se no mercado que o nome de Haddad poderia até mesmo ser anunciado nesta quarta-feira, segundo Alexsandro Nishimura, sócio da BRA BS, o que não se confirmou.

O mercado doméstico também teve o seu desempenho prejudicado pela baixa no exterior, onde investidores da Bolsa de Nova York venderam ações para receber os lucros obtidos nos últimos dias. O S&P 500, parâmetro do mercado americano, caiu 0,83%.

(*) Com informações da Folhapress

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