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BR-319 não é opção ao isolamento do AM e sim agravo ao problema e crise climática
Ponte caída na BR-319 (Foto: Reprodução)
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06 de outubro de 2023
Lucas Ferrante – Especial para Revista Cenarium Amazônia**
MANAUS (AM) – Nessa quarta-feira, 4 de outubro, o governador do estado do Amazonas, Wilson Lima, pediu ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, a viabilidade de reasfaltamento da BR-319 que liga Manaus, no centro da floresta Amazônica até Porto Velho, no arco do desmatamento amazônico. O governador afirmou, sem dados científicos, que a rodovia seria a opção contra o isolamento do estado causado pela seca na região.
Em estudo publicado no periódico Conservation Biology no início deste ano, foi apontado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade de São Paulo (USP) e da NASA que a pavimentação da rodovia BR-319 expande as anomalias climáticas observadas no arco do desmatamento amazônico até a Amazônia central, o que tende a levar ao colapso os serviços ecossistêmicos essenciais para o Brasil, como os “rios voadores”, e agravar as anomalias de temperatura e perda de água para a Amazônia central.
O estudo apontou que no Leste da Amazônia, onde o desmatamento foi galopante, houve significativa concentração de anomalias climáticas que impactaram negativamente as chuvas da região e que, por sua vez, afetaram as chuvas e o abastecimento de outras áreas do país. As consequências do desmatamento sobre a região foram tão grandes, que afetou o transporte de água para o Sul e Sudeste do país através do fenômeno conhecido como “rios voadores amazônicos”, que culminaram em desabastecimento humano e em declínios de espécies ameaçadas.
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Em 2020 na revista Science, foi apontado que a rodovia BR-319 é a ponta de lança do desmatamento na Amazônia, ligando a Amazônia central ao arco do desmatamento amazônico. Em estudo publicado pela Land Use Policy, foi apontado que não existe governança ativa no território que possa controlar o desmatamento e que agências fiscalizadoras como o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) facilitaram a grilagem de terras e desmatamento ilegal na região. Em estudo publicado no periódico cientifico Environmental Conservation, que é editado pela Universidade de Cambridge, foi apontado o crescimento do crime organizado por trás dos desmatamentos ilegais que ocorrem na região.
Em 2021, um estudo da renomada Die Erde, que é editada pela associação geográfica de Berlim, apontou que, se pavimentada, a rodovia BR-319 tende a causar o colapso climático da Amazônia, ou seja, a rodovia nitidamente não é solução para o isolamento causado pela seca na Amazônia, mas o caminho para o colapso climático e a morte ecossistêmica da região. Outros fatores, como a exploração de petróleo na foz do Amazonas, tendem a agravar a crise climática, como apontado na renomada revista Nature. Entretanto, isso parece não estar entre as preocupações dos políticos brasileiros e do Amazonas.
Nessa quinta-feira, 5 de outubro, o dia amanheceu com os piores índices de qualidade do ar já registrados em Manaus, isto causado pelas centenas de queimadas que ocorrem principalmente na rodovia BR-319. Ainda precisamos destacar que rodovia BR-319 não tem ligação direta com os munícios impactados pela seca, e para que esta ligação existisse, seria necessário, além da rodovia, centenas de quilômetros de estradas vicinais, o que resultaria em mais desmatamento, mais queimadas, mais degradação ambiental e espalhamento de mazelas sociais na Amazônia, como apontou o periódico científico Journal of Racial and Ethnic Health Disparities. Os dados científicos são claros, a rodovia BR-319 agrava o problema e passa longe de ser uma solução para a seca da região Amazônica. Em meio a isso, vários políticos e parte da mídia usam a crise climática para promover o lobby da rodovia BR-319 que é um dos fatores que mais agravam esta crise.
Os estudos científicos podem ser acessados nos links abaixo:
(*) Lucas Ferrante possui formação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Mestrado e Doutorado em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde em sua tese avaliou as mudanças contemporâneas da Amazônia, dinâmicas epidemiológicas, impactos sobre os povos indígenas e mudanças climáticas e seus efeitos sobre a biodiversidade e pessoas. Foi ganhador do “The Chico Mendes Courage Award” em 2023 pelo Sierra Club, um dos mais importantes prêmios em ecologia no mundo, devido aos seus estudos sobre a rodovia BR-319.
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