Brasil x Guiné: Vini Jr. lidera seleção em jogo contra o racismo
17 de junho de 2023
Brasil vai jogar de preto no primeiro tempo do amistoso - Reprodução
Da Revista Cenarium*
MADRI – Vini Jr. entra em campo neste sábado, 17, primeira vez como a maior estrela da seleção brasileira. Em fase espetacular pelo Real Madrid, na Espanha, ele foi um dos grandes atletas da temporada europeia de 2022/23. E vestirá a camisa 10, que foi de Pelé e nos últimos dez anos era propriedade incontestável de Neymar –que, em recuperação de lesão, não foi convocado.
Mas não é só por isso que o mundo estará de olho nele neste sábado. Vinicius Junior hoje representa o combate ao racismo no futebol, e, por causa disso, a seleção brasileira jogará de uniforme preto pela primeira vez em sua história.
A roupa será utilizada no primeiro tempo do amistoso com a seleção da Guiné, às 16h30 (de Brasília), no RCDE Stadium, em Barcelona, com transmissão de Globo, SporTV e Globoplay. No segundo, o time voltará a campo com a tradicional camisa amarela, que, segundo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), também trará “uma alusão à luta contra o racismo”.
Vini Jr. foi alvo de cânticos racistas quando atuou contra o Valencia, na casa do adversário, há cerca de um mês. O caso virou incidente internacional, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o premiê espanhol Pedro Sánchez (PSOE) lamentando o fato e pedindo providências. A Espanha entrou em discussão sem precedentes sobre o fato de ser ou não uma nação racista.
O atacante brasileiro sofre insultos criminosos praticamente em todos os jogos fora de Madri, sede de seu time. E mesmo ali ele não está imune. Há cinco meses, torcedores do arquirrival Atlético de Madrid penduraram um boneco inflável escuro com a camiseta número 20 de Vini Jr. (ele passará a usar a 7 na próxima temporada) em uma ponte da cidade, atado por uma corda no pescoço.
A segunda partida da rodada ibérica está prevista para as 16h (horário de Brasília) de terça-feira, 20, em Lisboa, contra o Senegal.
Vinicius e outros jogadores brasileiros que estarão em campo falaram sobre os incidentes registrados na Espanha. Rodrygo Góes, outro que defende o Real Madrid e esteve na última Copa do Mundo, lamentou o mais recente, em Valência.
“Eu estava ali dentro de campo e ouvi o estádio todo gritando ‘mono’ [macaco, em espanhol]. Eu acompanhei de perto e eu sou negro também, como o Vinícius, e ter vivido isso de perto foi bem complicado para mim”, disse Rodrygo.
Cercado por Gayà e Cenk, Vinicius Junior aponta para o torcedor que fazia gestos racistas na arquibancada do Mestalla Xinhua
A seleção começou a se reunir em Barcelona na segunda-feira (12), mas apenas dois dias depois treinou com o grupo completo de 23 jogadores. Segundo a CBF, na quarta-feira, o técnico interino Ramon Menezes “deu ênfase ao trabalho defensivo do time titular, com atenção para o posicionamento dos jogadores quando atacados pelos adversários”.
Se em campo o posto de referência máxima do Brasil é agora ocupado por Vini Jr., o banco de reservas continua vago. Desde a saída de Tite, após a Copa de 2022, a CBF não fechou com nenhum treinador. Enquanto isso, o interino se lança a testar jogadores.
Os últimos a se apresentar à seleção foram o goleiro Ederson, do inglês Manchester City, que ajudou seu time a vencer a final da Champions League, no sábado (10), e o zagueiro Robert Renan, do russo Zenit, que substituiu Nino, do Fluminense, contundido em jogo do Campeonato Brasileiro.
A convocação de Nino havia sido uma das sete de jogadores de clubes brasileiros. Estão em Barcelona três atletas do Palmeiras (Weverton, Raphael Veiga e Rony), dois do Flamengo (Ayrton Lucas e Pedro) e um do Fluminense (André).
Os demais, que atuam no exterior, são o goleiro Alisson, os zagueiros Ibañez, Éder Militão e Marquinhos, os laterais Alex Telles, Danilo e Vanderson, os meio-campistas Bruno Guimarães, Casemiro e Joelinton e os atacantes Lucas Paquetá, Malcom e Richarlison.
Ramon Menezes orienta atletas em treino na Espanha – Albert Gea – 15.jun.23/Reuters
Será a oitava vez que o Brasil jogará em Barcelona, uma história que começou em 1934, com derrota para a seleção da Catalunha. Na inesquecível Copa de 1982, na Espanha, foram dois jogos na cidade, ambos na segunda fase: a vitória por 3 a 1 sobre a Argentina de Maradona e a derrota por 3 a 2 para a Itália de Paolo Rossi. O revés ficou conhecido como Tragédia do Sarriá, em alusão ao nome do estádio, demolido em 1997.
Daquela vez, o Brasil não mudou de uniforme. Mas foi após outra partida que abalou o país que a seleção trocou de cor pela primeira vez. Quando estreou, em 1914, o Brasil usava camisetas e calções brancos. Com essa roupa, perdeu para o Uruguai por 2 a 1 a final da primeira Copa realizada no Brasil, em 1950, no Maracanã lotado.
O trauma foi tamanho que, em 1952, a seleção voltou a campo estreando o amarelo e o azul, em tentativa de expurgar a praga que o impedia o país de ser campeão mundial —o que ocorreria em 1958, na Suécia, com Pelé e Didi.
De preto, no entanto, será a primeira vez em 109 anos.
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