Caso Vini Jr. : indiferença perturbadora

Da Revista Cenarium*

Há mais de uma semana, Vinicius Junior, o astro do futebol do Real Madrid, time da Espanha, domina o noticiário esportivo. No último dia 21, ele foi vítima da racista torcida do Valencia. Os supremacistas imbecis, em coro, o chamaram de “macaco”, entre outras ofensas, por ser um negro retinto. Contavam com a indiferença das autoridades. De mais a mais, nunca foram repreendidos pelo vil preconceito em relação aos não brancos.

Dessa vez, Vinicius Junior reagiu às sucessivas agressões. Cobrou do árbitro e dos dirigentes do Real Madrid providências. Revidou o presidente da Primeira Divisão da Liga de Futebol Profissional da Espanha (La Liga), Javier Tebas, que tentou minimizar o episódio. “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga”, acusou o jogador.

Os gestos e as declarações de Vinicius Junior moveram o mundo contra o racismo. Tiraram da confortável zona da indiferença os dirigentes das organizações futebolísticas, as autoridades brasileiras, a polícia e o judiciário espanhóis e até a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Todos entraram em campo para condenar a violência e cobrar providências das autoridades espanholas diante de repetidas manifestações racistas. Os agressores — supremacistas da estupidez — contavam com o descaso das autoridades ao comportamento desprezível contra o brasileiro, e não só com ele, mas com tantos outros jogadores negros, como sempre havia ocorrido. Desta vez, houve reação.

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Vinicius Junior se impôs como atleta e homem negro que cansou de ser alvo da ignorância dos “desumanos” e mal-educados brancos. Basta! Quando haverá um “basta” no Brasil, que tem 56% de negros na sua população? Um coronel foi, na semana passada, condenado a um ano de prisão, em “regime aberto”, por humilhar um soldado do Exército que cursa Economia. Isso não foi condenação. No máximo, uma repreensão.

No Brasil, quais são as punições aos integrantes das forças de segurança pública que invadem favelas e matam dezenas de jovens negros com tiros nas costas? E os que agridem homens e mulheres só por serem pretos ou pardos? Por onde anda a Justiça que ignora os mais de 60% de negros prisioneiros sem sentença judicial? Estão na cadeia os brancos que violentam sexualmente meninas negras de até 13 anos?

O que acontecerá com o senador que condenou a repercussão, na imprensa, do caso de Vinicius Junior: “Cadê os defensores da causa animal, que não defendem o macaco?” Para ele, os veículos estavam revitimizando o jovem atacante do Real Madrid. O ato de desprezo e ignorância do parlamentar é próprio dos racistas, embora seja notória a quantidade de melanina na sua pele.

O silêncio das autoridades por essas e outras indagações é gritante e atordoa a mente de uma parcela da sociedade que não encontra sentido para tanta discriminação e tantas ações de ódio contra o povo negro. A indiferença mata.

(*) Rosane Garcia, nascida no Rio de Janeiro, mas há 62 anos em Brasília, jornalista há 41 anos, trabalhou nos jornais Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e, hoje, é subeditora de Opinião do Correio Braziliense.
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(*)Rosane Garcia, nascida no Rio de Janeiro, mas há 62 anos em Brasília, jornalista, há 41 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e, hoje, é subeditora de Opinião do Correio Braziliense.

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