Brasileiros aprovam protagonismo feminino na política, mas candidatas ainda enfrentam barreiras
07 de outubro de 2021
Pesquisa apontou que 72% das pessoas acreditam que mais mulheres, como lideranças políticas, são garantia de um mundo mais pacífico e bem-sucedido (Reprodução/Google)
Cassandra Castro – Da Cenarium
BRASÍLIA – Mais mulheres como lideranças políticas são garantia de um mundo mais pacífico e bem-sucedido. Pelo menos é isso o que pensa boa parte dos quase mil entrevistados que foram ouvidos no Brasil durante uma pesquisa sobre liderança global realizada em 28 países. No País, 72% das pessoas ouvidas concordam com essa afirmação, 18% discordam e 10% não souberam opinar sobre o tema. À CENARIUM, representantes femininas na política pontuaram os desafios da busca por mais espaço.
O estudo realizado pela Ipsos, uma empresa de pesquisas globais e inteligência de mercado, também aponta que o Brasil é o primeiro no ranking de países que apostam nas lideranças femininas para uma transformação mundial pacífica e próspera, com um percentual de 72%, seguido por Peru e Colômbia, com 70%.
Desafios para uma maior representatividade feminina na política
Na avaliação da professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cofundadora d’A Tenda das Candidatas – uma organização que atua na formação de lideranças de mulheres -, Hannah Maruci Afialo, os dados revelados na pesquisa representam um descompasso em relação à realidade política brasileira.
“Os brasileiros querem ver as mulheres no poder, na política, mas ainda há um baixo investimento por parte dos partidos tanto financeiramente quanto em termos políticos para viabilizar candidaturas femininas”, afirma a especialista.
A professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cofundadora d’A Tenda das Candidatas, Hannah Maruci Afialo (Reprodução/Redes sociais)
Essa questão, aliada a outros fatores como políticos com mais visibilidade, mais dinheiro para campanhas e o estereótipo do político homem e branco, também colaboram para a manutenção do quadro atual da política brasileira. Hannah Afialo também destaca a importância do investimento em um quadro de mulheres candidatas nas quais o eleitor confie e queira votar.
Para isso, ela destaca ainda a necessidade de um suporte qualificado a essas mulheres para que elas sejam preparadas para competirem a um cargo eletivo. “A gente ajuda na preparação psicológica, no planejamento financeiro e também ensinamos como essas mulheres podem negociar com os partidos políticos”, explica ainda sobre o trabalho feito n’A Tenda das Candidatas.
Amazonas sem representantes no Congresso
A jornalista Laura Lys foi candidata a uma vaga na Câmara Municipal de Manaus (CMM), no Amazonas, nas eleições do ano passado. Ela conta à CENARIUM que sentiu vontade de mudar a situação política e social da cidade e decidiu concorrer, apesar de existirem poucas mulheres que concorram e, quando o fazem, quase não recebem votos. “A própria mulher não vota em mulher. Na verdade, não é nem critério de escolha. Poucas pensam: ‘vou votar em uma mulher pra me representar’, disse ela.
Esta mentalidade pode ser um dos motivos para que a presença feminina nas instâncias de poder seja ainda tão pequena. A advogada e coordenadora regional do Observatório Nacional de Candidaturas Femininas, Aparecida Veras, explica que, mesmo com pontos positivos na legislação, ainda há muito o que avançar para ter uma representatividade feminina justa e necessária.
“Hoje, a representatividade feminina na Câmara gira em torno de 15%, 13% no Senado. O Amazonas, atualmente, não tem representante feminina no Congresso Nacional. O número de mulheres na Assembleia Legislativa do Amazonas também é muito baixo, de 24 parlamentares, apenas quatro são mulheres”, frisa a advogada.
A jornalista Laura Lys (Reprodução/Facebook)
Caminhos para mudar o cenário político
A professora Hannah Afialo acredita ainda na necessidade de mudanças embasadas na educação tanto dos eleitores quanto dascandidatas, para que diminua a distância entre o que se quer ver e como se usa o voto. Ao contrário do que se pensa, as mulheres são muito envolvidas no fazer político, mas existem obstáculos que as desmotivam a buscar um cargo eletivo.
“Elas enfrentam várias barreiras para serem eleitas, existe a violência de gênero e de raça e precisamos, não só de uma legislação que ajude a mitigar essa violência, mas de uma conscientização sobre a imagem que se espera de um representante, de um parlamentar. Hoje em dia, a gente ainda liga muito isso à figura do homem”, destacou Afialo.
Ainda na avaliação da especialista, é fundamental investir na educação política para que o eleitorado comece a desconstruir “essa visão machista e racista que se tem na sociedade e que se reproduz na escolha de representantes”. “Precisamos de mais mulheres eleitas para que, quando se olhe para a política, a gente veja as mulheres e isso faça sentido. Se a gente não se vê lá, a gente não enxerga que esse é o nosso lugar”, finalizou.
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