Cabelo crespo: reprovação sobre uso de adereços é criticada por grupos afros
05 de abril de 2021
A polêmica surgiu após a cantora Ludmilla se apresentar no BBB.(Reprodução/Internet)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – Desde a participação da cantora Ludmilla no Big Brother Brasil 21, internautas repercutiram nas redes sociais nesta segunda-feira, 5, a postura da artista que em tom de protesto pediu respeito aos cabelos afros. Após o episódio, Ludmilla foi criticada por ser adepta do uso de laces – perucas com maior qualidade e cabelos orgânicos – e nem sempre se apresentar com os cabelos naturais.
Para a manauara e trancista profissional, Lia Duarte, de 29 anos, o uso de adereços, tranças e penteados não diminui em nada a importância, a representatividade e o gostar pelo cabelo. Mesmo ele sendo crespo ou cacheado. “Se uma mulher negra, cacheada, crespa quiser usar uma lace loira, lisa, ondulada curta, se ela quiser trançar o cabelo, ela vai continuar sendo uma mulher com cabelos afro e isso não interfere na genética dela e nem de gostar do próprio cabelo”, explica a trancista.
Lia Duarte é trancista profissional e atua há mais de 5 anos no mercado da beleza afro em Manaus (Reprodução/arquivo pessoal)
Liberdade capilar e transição
A trancista considera que o uso das laces, por exemplo, tem muito mais haver com o desejo rápido de mudança e curiosidade pelas diferentes versões possíveis de si mesma do que rejeitar as próprias raízes. “Isso se chama liberdade capilar”, comenta Lia Duarte.
Já no caso do uso das tranças, a profissional, que estudou e se profissionalizou em tranças para cabelos afros no Rio de Janeiro, aconselha que, além da busca pelo novo visual, a pessoa se informe e conheça sobre toda a carga cultural e ancestral que ela carrega. “As tranças são mais especiais ainda. É um processo que vai muito além da estética, mas ainda sim entra na liberdade de usar ou não”, ressalta.
Preta bacana é uma das referências na internet quando o assunto é entrelace (Reprodução/Instagram)
“Eu amo meus cabelos crespos, aprendi a valorizar mais e cuidar dele também. O uso desses métodos só me ajudou a manter meu cabelo natural por mais tempo, vencendo a transição capilar que não é um processo fácil, para se ver livre totalmente das químicas”, explicou a estudante.
Para a estudante Daniela Silva, 25 anos, o uso das tranças e da entrelace (técnica de alongamento das madeixas por entrelaçamento, onde o cabelo é todo trançado, para servir de base para a aplicação da tela de cabelos orgânicos, sendo costurado nas tranças da pessoa) foi fundamental para o processo de transição capilar da estudante.
Redes sociais e ironia
Nas redes sociais, como sempre, muitos apontaram o dedo para a cantora e àquelas que recorrem ao uso das perucas da moda e julgaram como juízes em seus tribunais. O mais irônico é perceber que a maioria dos incomodados (as) são pessoas, a maioria mulheres, que usam algum tipo de química, alisamento, escova ou chapinha nos cabelos e, provavelmente, ninguém os julga pela escolha.
Mulheres negras sofrem há séculos com inúmeras questões e este “patrulhamento” do cabelo de vez em quando vem à tona. Alisar, cortar, raspar, pintar, trançar, usar perucas ou qualquer outro processo que envolva o cabelo afro é sempre perseguido pelo racismo, o que não acontece com mulheres brancas, que, de certa forma, também brincam com o visual pelo uso do alongamento, tic tac, progressivas e dentre outros recursos que são normalizados quando uma mulher branca faz o que quer com o visual dela.
A influencer e ativista social também se posicionou sobre a polêmica. (Reprodução/Instagram)
Brunna Gonçalves, a companheira e bailarina da cantora Ludmilla, também não deixou o assunto passar em branco e fez um post no Instagram, onde escreveu abertamente sobre o assunto. “A cada dia que passa, eu me enxergo mais bonita, cacheada, com lace ou sem lace. Sinto que estou vivendo a minha melhor fase nas minhas diferentes versões. Obrigada pelo apoio de vocês, é muito importante para uma mulher que venceu ou está passando por uma transição capilar receber esse apoio!”, postou Brunna.
Na rede social, Ludmilla se pronunciou novamente sobre o assunto e rebateu as críticas. “O fato de eu estar usando lace lisa não anula as minhas raízes. Meu cabelo é crespo e meu local de fala sobre o racismo que eu sofro continua. Não sejam ignorantes”, disse a cantora.
Brunna Gonçalves, dançarina e companheira da cantora Ludmilla (Reprodução/Instagram)
“Chega de ignorância!”
“Eu lamento que até num simples ato de se emponderar e se sentir mais bonita, as mulheres negras são apontadas e incomodadas. É muito pequeno tentar desmerecer um pedido de respeito, uma fala antirracista ao uso de uma lace. Acho que as pessoas usam argumentos assim de maneira suja. Temos liberdade de fazermos o que quisermos e o mais importante é não esquecer nossas raízes. Isso nunca podemos negar”, finaliza a profissional.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.