Chamado de mentiroso, Pazuello invoca habeas corpus para não responder sobre falta de oxigênio em Manaus


20 de maio de 2021
Chamado de mentiroso, Pazuello invoca habeas corpus para não responder sobre falta de oxigênio em Manaus
Na CPI da Pandemia, Eduardo Pazuello estende a mão a Renan Calheiros, ladeado pelos senadores pelo Amazonas Omar Aziz e Eduardo Braga (Jefferson Rudy/Agência Senado)
Da Revista Cenarium

MANAUS – No primeiro dia de depoimento como testemunha na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia instaurada no Senado Federal, o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, se enrolou ao citar a data em que foi informado sobre a escassez de oxigênio em Manaus, em janeiro de 2020 e, quando chamado de mentiroso, invocou o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que o desobrigada a responder perguntas, cujas respostas gerassem provas contra ele.

Um dia antes de o País registrar o primeiro caso de contágio pela variante indiana do novo coronavírus, Pazuello tentou jogar sobre o Governo do Amazonas a culpa pela falta de O2, durante a segunda onda da pandemia da Covid-19 no Amazonas, que levou a uma pressão nunca vista sobre o Sistema de Saúde local, especialmente na capital.

O aumento exponencial de casos e óbitos no início de 2021 se deu, especialmente, pelo surgimento da variante P.1, em Manaus, e que hoje é a predominante no País, levando vários Estados ao colapso no SUS. Pazuello assumiu que soube da possibilidade de falta do insumo dia 10 de janeiro, ou seja, 4 dias antes da falta de O2 em unidades de saúde de Manaus, data que deu tempo ao general para providenciar o transporte de tanques para a cidade por meio de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), medida que não foi adotada a tempo.

Desmentindo o depoente

Desmentindo o depoente, alguns parlamentares, entre eles, o presidente da CPI, senador pelo Amazonas, Omar Aziz (PSD), lembrou que o secretário de Saúde do Estado, Marcellus Campêlo, ligou para o general, dia 7 de janeiro (sete dias antes de faltar o produto), alertando sobre a possibilidade e solicitando apoio para evitar o colapso, aumentando o prazo para a adoção de providências. Dias depois, em 20 de janeiro, uma comitiva do MS esteve em Manaus, não para dar suporte diante do aumento de casos de Covid-19, mas sim, para o lançamento de um aplicativo e para ampliar a promoção da Cloroquina, tema do discurso da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, médica Mayra Pinheiro.

O ‘equívoco’ na data de alerta ao Ministério da Saúde levou senadores de oposição a chamarem Pazuello de mentiroso, levando seu advogado a invocar o habeas corpus, mesmo após o ex-ministro ter afirmado que não se negaria a responder nem uma das perguntas.

Pazuello também foi questionado sobre o porquê de não ter estabelecido contato com o Governo da Venezuela, para trazer oxigênio do País vizinho de avião, agilizando o abastecimento em Manaus na iminente falta do insumo. O governo brasileiro rompeu relações com a Venezuela no início do Governo Bolsonaro. Ainda assim, o País, que faz fronteira com o Brasil, doou, por iniciativa própria, carretas com O2 ao Amazonas. O produto seguiu de Pacaraima, em Roraima, para Manaus, via BR-174, o que demandou dias de estrada.

Um dia antes, o ex-chanceler Ernesto Araújo, à época ministro de Relações Exteriores do Governo Bolsonaro, também assumiu que não fez contato com a Venezuela para apoio no abastecimento de Manaus e ainda tentou atribuir ao governo brasileiro, as negociações para o que, segundo ele, teria sido um fornecimento do insumo, providenciado pela empresa de gases medicinais White Martins. Informado que tratava-se de uma doação do estado de Bolívar (Venezuela), e que não houve intermediação do Governo Federal, Araújo mudou o discurso.

Outro ponto levantado pela CPI, foi a omissão do Ministério da Saúde, sobre a oferta de aeronaves, pelos Estados Unidos, via Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), braço da Organização das Nações Unidas (ONU), para o transporte de oxigênio a Manaus, dando apoio logístico à operação montada no Brasil. As aeronaves não chegaram a ser utilizadas, mesmo com um cenário de aumento de consumo do insumo em Manaus e com a segunda onda da Covid-19 se espalhando para o interior do Amazonas. Pazuello argumentou que não tomou conhecimento do documento.

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