Em pronunciamento na manhã desta segunda-feira, o vice-presidente afirmou não saber se há um mandante para o crime. “Se há um mandante é comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação, principalmente, do Bruno, e não do Dom, o Dom entrou de ‘gaiato’ nessa história. Foi efeito colateral”, disse Mourão.
Em relação à fala de Hamilton Mourão, a Univaja rebateu ressaltando que tal declaração demonstra desconhecimento por parte do vice-presidente sobre a região em que o crime foi praticado, onde segundo a União dos Povos Indígenas, o “narcotráfico é um operador central”.
“O vice-presidente centraliza, ainda, a atividade de vigilância, desempenhada pela equipe de vigilância da Univaja, da qual Bruno era consultor técnico, na pessoa física do Bruno. Ademais, em uma declaração desrespeitosa, refere-se ao jornalista britânico, Dom Phillips, nosso parceiro falecido, como “gaiato”, declarou a Univaja em nota enviada à imprensa.
Trecho da nota divulgada pela Univaja (Divulgação)
Mourão justificou ainda que, provavelmente, os assassinos do jornalista e do indigenistas cometeram o crime por conta da situação difícil em que vivem no interior do Estado. “Essas pessoas, aí, que assassinaram, provavelmente, os dois são ribeirinhos, gente que vive também, ali, no limite de, vamos dizer, ter acesso a melhores condições de vida. Vivem da pesca. […] Então, é uma vida dura”, disse.
Contudo, a Univaja destaca que o inquérito policial aponta a existência de um grupo criminoso organizado para saquear os recursos naturais da Terra Indígena Vale do Javari.
“O vice-presidente demonstra, novamente, desconhecimento de nossa região ao afirmar que os acusados pelo assassinato de Bruno e Dom são apenas “ribeirinhos” que levam uma “vida dura”, “vivem da pesca”. Não se trata apenas de simples “ribeirinhos”, pois, ribeirinhos não teriam condições financeiras para extrair toneladas de ilícitos ambientais, em longas viagens ilegais à terra indígena, e, posteriormente, exportar para outros países de forma ordenada e profissional, obtendo lucros de milhões de reais”, destaca.
Trecho da nota divulgada pela Univaja (Divulgação)
Situação comum
Hamilton Mourão tratou, ainda, o crime como uma emboscada, e disse que ocorreu num momento de embriaguez por parte dos assassinos. O vice-presidente afirmou que a situação é comum em periferias de grandes centros.
“Na minha avaliação, deve ter acontecido no domingo, domingo a turma bebe, se embriaga, mesma coisa que acontece aqui na periferia das grandes cidades. Aqui em Brasília, a gente sabe, todo final de semana tem gente que é morta, aí, à facada, tiro, das maneiras mais covardes, normalmente, fruto de quê? Da bebida. Então, mesma coisa deve ter acontecido lá”, falou Mourão.
“Ora, tal afirmação demonstra que o vice-presidente não está acompanhando com afinco todas as investigações da autoridade policial noticiadas pela imprensa. Como sabemos, o assassinato de Bruno e Dom demonstra uma ação ordenada e planejada, não fruto do acaso, pressupondo a participação de inúmeras pessoas que se empenharam em seguir a embarcação de Bruno e Dom, em ocultar seus pertences e embarcação, esquartejar seus corpos, queimá-los e enterrá-los em diferentes trechos da área de busca”, contesta a Univaja que exige “o aprofundamento das investigações, considerando os documentos produzidos e compartilhados pelo movimento indígena, com as autoridades, desde 2021”, finaliza a nota.
Trecho da nota divulgada pela Univaja (Divulgação)
Aventura não recomendável
Em outras ocasiões, o presidente Jair Bolsonaro (PL) já tinha tratado com desdém o assassinato brutal de Dom e Bruno. No dia 7 de junho, em entrevista ao “SBT News”, Bolsonaro classificou o trabalho da dupla como “uma aventura não recomendável”.
“Realmente, duas pessoas, apenas, em um barco, em uma região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer”, disse o presidente.
Na última quarta-feira, 15, Bolsonaro voltou a comentar o caso em entrevista à jornalista Leda Nagle transmitida no Youtube. Desta vez, o presidente falou sobre o trabalho do jornalista britânico, correspondente do “The Guardian”, na Amazônia.
“Esse inglês, ele era malvisto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro e questão ambiental. Aquela região é uma região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter redobrado mais a atenção consigo próprio, mas resolveu fazer uma excursão”, declarou Bolsonaro.
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