Deputadas do Pará dizem que enfrentam resistência política no Estado


Por: Fabyo Cruz

08 de março de 2025
Deputadas do Pará dizem que enfrentam resistência política no Estado
Das 41 cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa), apenas sete são ocupadas por mulheres (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, traz reflexões importantes sobre a participação feminina nos espaços de poder e decisões políticas no Brasil. Apesar de representarem 51,5% da população e 53% do eleitorado, as mulheres ainda ocupam uma parcela reduzida dos cargos eletivos no país. No Pará, a situação reflete essa desigualdade: das 41 cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa), apenas sete são ocupadas por mulheres.

As deputadas Ana Cunha (PSDB), Andréia Xarão (MDB), Cilene Couto (PSDB), Diana Belo (MDB), Lívia Duarte (Psol), Maria do Carmo (PT) e Paula Titan (MDB) afirmam que enfrentam diariamente desafios que vão desde a resistência política até a violência de gênero, questões que limitam o avanço da participação feminina nas decisões sociais.

A CENARIUM tentou ouvir todas as parlamentares paraenses sobre o papel feminino na política, porém, por questão de compromisso parlamentar, somente as deputadas Ana Cunha, Lívia Duarte, Paula Titan e Andréia Xarão deram retorno à reportagem.

Ana Cunha (Ascom Alepa)
Representatividade

Para Ana Cunha, a presença de mulheres na política é essencial para garantir representatividade e pluralidade na formulação de políticas públicas. “As mulheres trazem perspectivas fundamentais sobre questões sociais, econômicas e ambientais, além de fortalecerem pautas relacionadas à igualdade de gênero, saúde, educação e proteção social”, destaca a deputada do PSDB.

Paula Titan (Ozéas Santos/Ascom Alepa)

Paula Titan reforça que a inclusão de diferentes realidades femininas no debate político é indispensável para uma sociedade mais equitativa. “No entanto, é essencial que essa representatividade seja plural e contemple a diversidade das mulheres brasileiras — indígenas, ribeirinhas, quilombolas, negras, periféricas e tantas outras”, aponta a parlamentar.

A deputada Lívia Duarte, primeira mulher negra eleita para a Alepa, ressalta que a representatividade precisa ser ampliada. “Nós nunca tivemos uma mulher indígena como legisladora no Estado do Pará, apesar de termos uma população indígena significativa. Isso mostra o quanto ainda precisamos avançar”, afirma.

Andréia Xarão acrescenta que as mulheres possuem uma visão mais apurada sobre problemas sensíveis e, muitas vezes, invisíveis no cotidiano da sociedade. “A mulher consegue ter um olhar bem mais preciso diante de problemas que o homem, por experiência, não consegue enxergar. Certas decisões políticas refletem em toda a sociedade, exigindo que sejam tomadas por olhares e sentimentos diferentes”, comenta.

Ela destaca que, embora ainda vivamos em um mundo machista e desigual, a representatividade feminina nos espaços de poder é crucial para garantir a igualdade de oportunidades. “A mulher pode, sim, conquistar mais direitos e inspirar outras a fazerem o mesmo, sem tirar o espaço de ninguém, mas conquistando o seu próprio espaço”, afirma.

Desafios

As deputadas apontam que os desafios são estruturais e perpassam desde o acúmulo de funções até a violência política de gênero. Ana Cunha enumera alguns dos principais obstáculos:

  • Cultura patriarcal e resistência política: as mulheres frequentemente enfrentam discriminação e ataques misóginos.
  • Desigualdade econômica: o financiamento de campanhas eleitorais ainda favorece os homens.
  • Acúmulo de funções: muitas mulheres acumulam responsabilidades domésticas e familiares, o que dificulta sua atuação política.
  • Falta de apoio partidário: candidaturas femininas são, muitas vezes, usadas apenas para cumprir cotas eleitorais.

Paula Titan destaca a falta de estrutura nos espaços legislativos para acolher mulheres, especialmente mães. “A política foi historicamente desenhada por e para homens. Ainda não há garantias universais, como licença-maternidade e berçários dentro dos parlamentos, o que acaba afastando muitas mulheres da vida pública”, explica.

Lívia Duarte chama atenção para a constante deslegitimação das mulheres na política. “Muitas vezes, nossa autoridade é questionada. Já ouvi deputados se referindo a mim como ‘menina’, enquanto um homem jovem nunca seria chamado de ‘rapaz’ nesses espaços”, relata. Segundo a deputada do Psol, essa postura revela o machismo estrutural que ainda permeia o ambiente político.

Livia Duarte (Marcos Barbosa)

A deputada também relembra que, ao tomar posse como vereadora em Belém, foi barrada na entrada da Câmara. “O segurança me disse que aquele espaço era para vereadores e que eu ‘não tinha cara de vereadora’. Isso reflete como os espaços de poder ainda não se parecem com o povo do Pará”, critica.

No entanto, ela reforça que sua presença na Alepa pode inspirar outras mulheres a ingressarem na política. “No meu primeiro dia na Câmara de Vereadores de Belém, um servidor que servia café no plenário me disse: ‘Lívia, se tu tá aqui, eu acho que minha filha pode ser vereadora’. Esse tipo de reconhecimento mostra que estamos abrindo portas para que outras mulheres ocupem esses espaços”, conta.

Andréia Xarão (Celso Lobo/Ascom Alepa)

Andréia Xarão também reflete sobre as raízes machistas da sociedade e como a falta de candidaturas femininas está diretamente ligada à falta de oportunidades e de apoio. “Se temos poucas mulheres eleitas, é porque ainda temos poucas mulheres que se candidatam ou não conseguem votos suficientes”, explica. Ela defende que o trabalho de conscientização sobre a importância da mulher nos espaços de poder deve começar dentro das próprias mulheres, para que busquem seus direitos e ocupem os espaços que lhes pertencem.

Propostas para avanço

As parlamentares apontam que, para aumentar a presença feminina nos espaços de poder, são necessárias mudanças estruturais. Entre as sugestões, estão:

  • Políticas afirmativas: ampliação de cotas de gênero e aplicação efetiva das leis existentes.
  • Financiamento equitativo: criação de fundos específicos para candidaturas femininas.
  • Educação e formação política: investimento na capacitação de novas lideranças femininas.
  • Combate à violência política de gênero: criação de mecanismos de proteção para mulheres em cargos públicos.
  • Maior participação feminina dentro dos partidos: fortalecimento das lideranças femininas e garantia de influência real nas decisões partidárias.
  • Políticas de apoio à maternidade: criação de creches em ambientes legislativos e flexibilização de horários para mulheres com filhos.
  • Visibilidade e valorização na mídia: combate a estereótipos e fortalecimento da imagem da mulher como protagonista na política.
Leia mais: Mulheres da Amazônia vão às ruas lutar pela pauta feminina no 8 de Março
Editado por Izaías Godinho
Revisado por Gustavo Gilona

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