Direita extremista ganha força no Congresso em meio ao futuro incerto sobre democracia no País


03 de outubro de 2022
Direita extremista ganha força no Congresso em meio ao futuro incerto sobre democracia no País
A ex-ministra Damares Alves (Jorge William)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com a eleição de nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a direita extremista no Brasil terminou as votações desse domingo, 2, ganhando força e ascendendo sua representatividade no Congresso Nacional. Incentivados por um discurso em defesa da “mudança”, da “família tradicional”, do autoritário e que pouco aceita os pensamentos adversos, essa ideologia política é vista por especialistas como um risco à democracia, que sempre se opôs à maioria no Legislativo.

“É um discurso que coloca em risco a democracia, os direitos tão duramente conquistados ao longo da história. Infelizmente, somos um País em que não há educação política, as pessoas não conseguem visualizar como as decisões políticas afetam o seu dia a dia e da comunidade. E é claro que essa deseducação não surge do nada, ela é fruto de um projeto de poder de uma elite que lucra cada vez mais enquanto, para as massas, o abismo social só aumenta”, analisou a advogada e ativista Luciana Santos.

Desde as eleições de 2018, a direita brasileira vem fincando raízes e conquistando cada vez mais eleitorado, liderada por seu chefe máximo: Jair Bolsonaro. Para se ter uma ideia, somente o partido do presidente, o PL, elegeu 99 deputados federais para a Câmara, conquistando a maior bancada em 24 anos — em 1998, o antigo PFL (que virou Democratas e, agora, União Brasil), teve 106 parlamentares eleitos no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Além disso, quatro ex-ministros do governo bolsonarista foram eleitos ao Senado, são eles: Marcos Pontes (PL-SP), Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-MS) e Sergio Moro (União Brasil-PR), mesmo que este último tenha saído do Planalto brigado com o presidente. Ambos os agora senadores seguem a linha de direita e conservadora.

Nas disputas deste ano, apesar de Bolsonaro terminar o primeiro turno em desvantagem, com 43,20% dos votos contra 48,43% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cenário indica que o atual mandatário continua influente nos Estados e um forte cabo eleitoral.

Para a advogada Luciana Santos, há uma política de morte (necropolítica) crescendo no País e o novo cenário construído com o crescimento da extrema-direita demonstra um retrocesso. “É o retorno do Brasil ao mapa da fome, o desemprego, as altas taxas de violência contra grupos em vulnerabilidade. Se você é mulher, LGBTQIA+, negro ou indígena no Brasil, você é assassinado apenas por existir. Há uma política de morte (necropolítica) crescendo no País.

“Não é a toa que os olhos da comunidade internacional estão atentos às eleições no Brasil e muitos foram os posicionamentos de preocupação com a democracia. E esse é outro ponto, o País perdeu um protagonismo que possuía nas relações internacionais e isso é muito ruim em vários aspectos, impactando, por exemplo, na economia. Por fim, esse cenário é um alerta para o campo progressista se voltar às bases, investir em educação política e educação para as diversidades (racial, gênero, religiosa)”, comentou.

Sempre se opôs

Para o sociólogo e analista político Luiz Antônio, é preciso olhar a realidade política brasileira sempre em perspectiva. O especialista destaca que a esquerda brasileira nunca foi grande o suficiente no Congresso, por outro lado, a extrema-direita sempre se opôs aos adversários, mesmo que ainda não tivesse essa denominação há alguns anos.

O sociólogo lembra que a bancada conservadora de extrema-direita tem um discurso poderoso e tem uso das fake news como ferramenta política. “Assim como em 2016, como em 2018, as fake news imperam no processo eleitoral. E quando falamos de fake news, é preciso deixar claro que elas não são apenas mentiras, mas mentiras contadas com a finalidade de causar dano ao outro e primeiro causado é sobre a democracia”, pontuou.

Em meio ao crescimento da direita extremista no País, o sociólogo Luiz Antônio alerta para uma necessidade de mudança de projetos políticos e sociais da esquerda brasileira.

“A esquerda brasileira, como a esquerda no mundo inteiro, precisa reconstruir seu projeto social e político, que é um projeto que está se esgotando. Que não consegue falar com aquela classe média assalariada do interior paulista, por exemplo, que não é fascista e neopentecostal, mas que ela não é ouvida e os programas no campo da esquerda não os alcança”, concluiu.

Direita no poder

Com uma ideologia ultraconservadora, a direita extremista ou extrema-direita costuma adotar uma postura rígida, com posicionamentos radicais para determinados temas e ligados ao pensamento nacionalismo. No Brasil, ela é apoiada por Bolsonaro, e vem obtendo números altos nas urnas.

Com 99,99% das apuradas até a manhã desta segunda-feira, 3, foram eleitos 273 deputados federais de partidos de centro-direita ou centrão, segundo o Poder 360. Somente o PL conquistou 99 cadeiras na Câmara. O União Brasil chega ao fim das eleições com 59 parlamentares eleitos.

Por outro lado, a federação esquerdista PT/PCdoB/PV obteve a segunda maior quantidade de cadeiras, elegendo 79 nomes. Outros partidos da base do presidente Bolsonaro, como o Partido Progressista (PP) e o Republicanos, tiveram 47 e 42 deputados federais eleitos. O PSD também fez 42 cadeiras.

Entre os governadores eleitos no primeiro turno, oito dos 14 nomes são bolsonaristas, como o do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), o do Paraná, Ratinho Jr. (PSD) e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Outros nomes apoiadores de Bolsonaro eleitos ao governo são: Wanderlei Barbosa (Republicanos), de Tocantins; Gladson Cameli (PP), do Acre; Antônio Denarium (Republicanos), de Roraima; e Mauro Mendes (União), do Mato Grosso.

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